PIB surpreende e cresce 0,8%. Como é que isto aconteceu?
Os economistas foram surpreendidos pelos números do PIB. Na caça ao erro nos seus modelos de previsão, deram de caras com melhores exportações que o previsto - de bens e serviços.
O PIB surpreendeu os economistas e cresceu acima do esperado no terceiro trimestre de 2016. Em vez de um ritmo trimestral de 0,3%, conforme os peritos antecipavam, o Instituto Nacional de Estatística (INE) aponta para 0,8% na sua estimativa rápida. Como é que isto se explica?
Depois da surpresa dos números, os peritos foram à caça do erro nos seus modelos de previsão. As primeiras conclusões apontam para um comportamento mais favorável do que o antecipado por parte das exportações, e das importações. “O contributo da procura externa líquida foi forte e não esperávamos que fosse assim tão forte”, reconhece Rui Serra, economista-chefe do Montepio, ao ECO. Ou seja, o efeito favorável do aumento das exportações, desta vez, não foi anulado por um crescimento ainda mais acentuado das importações, que afetam negativamente o crescimento.
Uma das explicações estará na diluição de efeitos negativos que estavam a “esconder a dinâmica das exportações”, adianta Paula Carvalho, economista-chefe do BPI. A especialista lembra o efeito da paragem da refinaria de Sines nos primeiros trimestres deste ano, com um impacto “muito negativo” nas exportações. Os números também estavam a ser afetados pelo contributo negativo das exportações para Angola, mas agora o ajustamento parece estar concluído e estes valores começam a estabilizar: “Angola teve um ajustamento muito forte em 2014 e 2015, mas está prestes a estabilizar e por isso deixará de ter, gradualmente, um contributo negativo tão forte”, soma ainda.
Paula Carvalho lembra que as exportações de serviços têm revelado “um ritmo significativo” e que as vendas de bens ao exterior, descontando os combustíveis e o efeito de Angola, já estavam a crescer em torno dos 6%. Ainda assim, “é muito provável que o turismo tenha constituído a principal alavanca da economia portuguesa”, acrescenta o economista Ricardo Arroja, ao ECO.
Ao mesmo tempo, do lado das importações os resultados foram mais favoráveis para o crescimento económico. O consumo privado fez-se sobretudo na componente de bens não duradouros — nesta categoria inclui-se, por exemplo, a alimentação –, que não arrastam tantas compras ao exterior como os bens duradouros. Daí que o contributo da procura externa líquida de importações se tenha destacado pela positiva.
Os dados do INE são apenas uma estimativa rápida e por isso não é ainda conhecido o detalhe dos números. A maior expectativa centra-se agora no comportamento do investimento. Rui Serra continua a antecipar um “ligeiro crescimento”, mas sem grandes garantias porque os sinais de outros indicadores avançados não são claros.
Meta de 1,2% “é bastante realista”
Com o crescimento trimestral de 0,8%, a média dos três trimestres de 2016 já está em 1,1%, nota Paula Carvalho. Isto quer dizer que a meta de 1,2%, assumida pelo Governo no âmbito do Orçamento do Estado para o próximo ano, é agora “bastante realista”, concretiza Rui Serra.
Fazendo as contas ao que o PIB já cresceu, Rui Serra diz que basta que o quarto trimestre do ano seja de estagnação para que o objetivo de 1,2% seja alcançado. É certo que esta meta é uma revisão face à expectativa inicial do Executivo (que era de 1,8%), mas nos últimos meses nem o crescimento de 1,2% era dado como garantido por muitos economistas.
“A meta dos 1,2% é agora o nosso cenário central”, diz Rui Serra. Apesar de o crescimento de 0,8% registado no terceiro trimestre “não ser replicável” nos próximos trimestres, para cumprir a meta do Executivo bastará que a economia estagne no final deste ano: “Partindo do pressuposto de que a série do PIB não é revista, bastará estagnar no quarto trimestre para atingir 1,2%”, antecipa.
Mais: embora não seja o mais provável, “não é assim tão difícil superar os 1,2%”. Bastará crescer 0,4% em cadeia para que isso aconteça.
Crescimento do PIB em 2016
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