Sem turismo, exportações estariam a cair 2,9%. Défice da balança comercial seria de 2,2 mil milhões
O governo defende que as exportações estão a crescer face ao ano passado, mas a verdade é que, sem as receitas turísticas recorde que têm vindo a registar-se, a balança comercial seria deficitária.
Foi uma discussão prolongada no debate quinzenal que decorreu esta quinta-feira no Parlamento: afinal, as exportações estão a acelerar ou a recuar? Neste fact check, o ECO já explicou como a resposta depende da inclusão de bens e serviços nas contas, ou apenas dos bens. Agora, neste artigo, detalhamos quanto valem, exatamente, os serviços — especificamente, o turismo.
Começando do início: de acordo com os dados mais recentes do Boletim Estatístico do Banco de Portugal, no conjunto dos sete primeiros meses do ano, as exportações portuguesas de bens e serviços superaram ligeiramente os 43 mil milhões de euros. As importações, por seu lado, ascenderam a 40,8 mil milhões de euros. Contas feitas, a balança corrente registou um saldo positivo de 2,18 mil milhões neste período.
Exportações de bens e serviços, em milhares de milhões de euros
Estes valores do Banco de Portugal divergem dos que foram apresentados na quinta-feira pelo governo, o que pode dever-se ao fator “preços constantes”, que consta nos gráficos do governo e não nos dados reunidos pelo Banco de Portugal. O governo não revela, contudo, a fonte dos valores que apresentou:
O PSD, por seu lado, optou por contabilizar apenas as exportações de bens, que são as que são apresentadas mensalmente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE):
Exportações de bens, em milhares de milhões de euros
Seja como for, não é sequer necessário descontar a fatia das exportações de serviços por inteiro, que ascenderam a 14,22 mil milhões no acumulado de janeiro a julho (com a balança de serviços a fixar um saldo de 6,7 mil milhões). Basta cortar o contributo do turismo e a balança corrente passa a ser deficitária.
Nos primeiros sete meses — que já apanham o início da época alta do turismo — os turistas deixaram em Portugal 6,58 mil milhões de euros. Isto num ano em que o setor volta a bater recordes, com a hotelaria nacional a receber 10,6 milhões de hóspedes, responsáveis por mais de 29 milhões de dormidas, entre janeiro e julho. Já os turistas portugueses gastaram lá fora 2,19 mil milhões. Feitas as contas, a balança turística registou um saldo de 4,38 mil milhões. Descontado este valor na balança corrente, esta passa a apresentar um défice de 2,19 mil milhões de euros.
Importa dizer que este peso não é de agora. No conjunto do ano passado, as receitas turísticas já representaram mais de 15% do total de exportações de bens e serviços.
Receitas turísticas, em milhares de milhões de euros
O problema — e é essa parte que não bate certo com os números apresentados pelo governo, que defende que, juntado bens e serviços, há um crescimento das exportações — é que, mesmo incluindo os serviços, as exportações estão a cair face ao ano passado. Entre janeiro e julho do ano passado, as receitas com exportações totalizaram 43,58 mil milhões de euros. O que significa que, no conjunto dos sete primeiros meses deste ano, as receitas com exportações recuaram 1,2% face ao que foi registado no ano passado.
Mesmo considerando apenas o segundo trimestre — o período para o qual o governo apresentou números, nos gráficos que distribuiu pelo Parlamento durante o debate quinzenal — a tendência continua a ser de quebra. No segundo trimestre deste ano, e ainda de acordo com os dados do Banco de Portugal, as exportações de bens e serviços totalizaram 18,97 mil milhões de euros, quando, em igual período do ano passado, tinham ascendido a 19,23 mil milhões de euros. Há, portanto, uma queda de 1,3%.
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