Como três gerações olham para a poupança?
Filha, mãe e avó. Fomos tentar saber se os 20 anos que separam cada uma das gerações fazem diferença na forma como olham para o dinheiro.
Longe vão os tempos em que as taxas de poupança superavam os 20% do rendimento disponível. Depois dos máximos históricos verificados há cerca de três décadas, a poupança caiu para os valores mais baixos de sempre e, no segundo trimestre deste ano, situava-se nos 4,4% do rendimento disponível.
E se as gerações anteriores tinham a poupança como uma das prioridades, o mesmo já não parece acontecer com as novas gerações, seja pelo valor dos rendimentos, pelo maior apelo do consumo ou falta de literacia financeira. Será que a forma como as diferentes gerações olham para o dinheiro é assim tão diferente? Ou será que o exemplo da família é mais relevante na relação com o dinheiro do que a influência dos pares? Foi isso que o ECO foi tentar perceber junto de duas famílias.
Da geração conhecida como os builders (que têm mais de 70 anos), passando pela geração X (que terá entre 38 e 52 anos) até à geração Z (que têm aproximadamente entre 8 e 22 anos), falámos com mães, filhas e avós sobre como avaliam a sua relação com o dinheiro, e em particular com a poupança.
Família Silva
Kátia (filha, 28 anos), Madalena (mãe, 51 anos) e Regina (avó, 77 anos)
Regina, Kátia e Madalena têm sensivelmente uma diferença de 20 e poucos anos, mas reúnem os mesmos ideais no que diz respeito à poupança, um hábito que foi passado de geração em geração. “Não gastes o que não tens, já dizia a minha mãe”, afirma Regina, mãe de Madalena e avó de Kátia.
Embora Regina seja a mais conservadora no que diz respeito ao dinheiro, nos dias de hoje reconhece que já não poupa como antes e que prefere ajudar a filha e a neta. Questionámos todos os membros da família sobre se lhe dessem 5.000 euros em que não poderiam gastar durante cinco anos, o que fariam. “Se recebesse 5.000 euros oferecia uma viagem à neta e ao noivo”, indicou a avó, enquanto a mãe, Madalena, preferida optar por poupar para a reforma, e a Kátia reforçava o fundo de emergência.
Já entre receber 90.000 euros de uma vez ou 1.500 euros durante cinco anos, os três elementos da família escolheram a primeira opção. “Se recebesse os 90.000 euros se calhar nem os usaria e assim ficava com uma poupança. Se recebesse os 1.500 euros por mês provavelmente usaria no dia-a-dia e poupava menos”, justificou Madalena.
Das três, Kátia tem um perfil menos conservador e, neste momento, se recebesse 90.000€ aproveitaria para algumas fazer obras em casa, pagar o casamento e fazer uma poupança e uma viagem em família. Kátia é a mais nova e, considera-se a mais gastadora das três, elegendo a mãe como uma referência no que diz respeito à gestão do dinheiro.
Madalena poupa desde sempre e segue os princípios da sua mãe Regina. Neste momento, se recebesse uma elevada quantia de dinheiro colocava de lado para a reforma. Madalena, tal como a mãe Regina, garante que o melhor conselho que recebeu foi dos pais: “Os meus pais nunca gastaram mais do que podiam, nunca fizeram créditos. Nem eu, graças a eles”, afirma Madalena. Um ensinamento que tem passado para a mais nova que garante que os pais sempre a ensinaram a poupar e a saber gerir em função das prioridades e das necessidades.
Família Farto
Matilde (filha, 16 anos), Carla (Mãe, 44 anos) e Irene (avó, 70 anos)
“Os meus pais sempre me disseram que, quando compramos uma camisa temos de ter dinheiro para três”, afirma Irene, mãe de Carla e avó de Matilde. É sob este mote que estas três mulheres veem a poupança, considerando que é importante ir colocando algum dinheiro de parte para fazer frente a algum imprevisto. Matilde tem 16 anos, e apesar de na sua idade preferir poupar para a universidade diz que, se recebesse 5.000 euros guardaria para um fundo de emergência, seguindo, desta forma, o exemplo da mãe que sempre a incentivou a poupar para algum imprevisto, ou até para algo que queira adquirir.
Entre receber 90.000 euros de uma vez ou 1.500 euros por mês, as opiniões dividem-se. Se, por um lado, a avó Irene não tem dúvidas de que a sua opção iria para os 90.000 euros de uma vez, a mesma escolha da filha Carla, a Matilde, a mais nova, preferia receber 1.500 euros de cada vez: “Penso que conseguiria gerir de forma mais racional essa quantia mensal do que os 90.000 euros por mês”.
A Carla tem apenas um único crédito, que é o da habitação, e diz ter o hábito de fazer exercícios de poupança para que tenha tudo controlado e não tenha de recorrer a créditos. No dia em que recebe o ordenado, Carla faz os pagamentos dos gastos mensais, uma transferência para uma conta poupança da filha e poupa, ainda, uma percentagem do seu vencimento. Além disto, não faz levantamentos em vão, o dinheiro que levanta tem sempre um destino certo.
Aprendeu a gerir o seu dinheiro com o seu trabalho em cobrança coerciva de dívida. “Vivo no meio de número grandes e preocupantes de dívidas geradas por desconhecimento e (algumas vezes) ignorância. A quantidade de pessoas singulares penhoradas com quem lido diariamente, tem sido a melhor escola e gerador de bons conselhos de gestão,” adianta, reforçando a ideia de que não se deve gastar o que não se tem.
Todos os elementos das famílias entrevistadas reconheceram ser importante poupar, sobretudo para prevenir situações imprevistas, assim como acautelar a reforma. E todos reconheceram nos familiares mais próximos, sobretudo os pais, as grandes referências em termos de gestão de dinheiro. Os exemplos destas famílias demonstram que a educação financeira incutida pelos pais, e desde novos, acaba por ter impacto da forma como olham para a poupança.
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