“Os portugueses têm pouca tendência para poupar”, diz CEO da Fidelidade
Os portugueses poupam pouco, diz o CEO da Fidelidade, que defende a necessidade de evoluir tecnologicamente para melhorar estes números. Mas, a verdadeira mudança, será feita internamente.
Para as seguradoras, acompanhar o mercado requer adaptação e atualização. E isso é sinónimo de tecnologia. Mas, no momento dessa adaptação, a regulação é ainda um obstáculo. Para o CEO da Fidelidade, que falou durante uma entrevista ao ECO Talks, é importante rever a regulação imposta ao setor, principalmente com cada vez mais insurance tech a atuarem como concorrentes no mercado.
“Sou favorável a regulação de qualidade”, começou por defender o administrador da Fidelidade, acrescentando que “o poder dos reguladores locais e a interação com os europeus tem de ser feito de forma a que os reguladores locais atendam às especificidades do mercado”. Para Jorge Magalhães Correia, é importante apostar na capacitação dos reguladores locais, porque aquilo “que faz a diferença não são as normas, mas sim a forma como a regulação é feita”.
Sublinhando que a regulação aplicada à banca não é semelhante à que é aplicada ao setor dos seguros, o CEO notou que, atualmente, o que se gasta em despesas de regulação é “50 vezes mais do que há dez anos”. Contudo, atira: “Mas temos de viver neste ambiente, porque também há benefícios”.
"São uma ameaça e uma oportunidade, mas mais uma oportunidade. Gosto bastante do espírito subjacente e são uma realidade que tem ganho muita relevância.”
Como se já não bastasse a regulação, as seguradoras têm ainda de contar com concorrência: as insurance tech. “São uma ameaça e uma oportunidade, mas mais uma oportunidade. Gosto bastante do espírito subjacente e são uma realidade que tem ganho muita relevância”, disse o administrador. Contudo, para o setor bancário, estas acabam por ser mais perigosas, uma vez que, no setor dos seguros, “tudo o que é assunção de risco está sujeito a regulação” e, na banca isso não acontece. “Vejo-as mais como um aliado e uma oportunidade. Até as incentivamos”.
Seguradoras preparadas para evoluir? Sim. Com pessoas.
Os portugueses têm pouca tendência para a poupança, por um lado devido à falta de rendimento e, por outro, à fraca capacidade de poupar, explicou. Se há cerca de 40 anos, as poupanças correspondiam a 18% do rendimento, hoje esse valor é de apenas 6%. “As seguradoras têm uma oferta ampla, produtos de toda e espécie e feitio. Mas não têm conseguido resolver o problema porque não está ao nosso alcance”, disse. Neste sentido, defende a criação de um “segundo pilar”, um “sistema que favoreça às empresas constituir fundos de pensões para os trabalhadores”.
E para colmatar esse problema, uma das formas passa pela adaptação às novas tecnologias. “O setor está preparado para evoluir”, respondeu assertivamente, explicando que a tecnologia ajuda bastante, mas não é chave para o problema. Neste sentido, a tecnologia permite “mudar o perfil de atuação das seguradoras”, prevendo-se um “futuro muito bom”. “As seguradoras do futuro são fundamentalmente empresas muito tecnológicas. Temos de ser necessariamente tecnologicamente avançados”, disse.
Assim, a diferença vai ser marcada através do modelo de negócio, que se vai alterar um pouco, onde o ponto principal serão as pessoas. “O que vai fazer a diferença é o nosso rosto humano. Temos programas internos e acreditamos que as seguradoras do futuro serão entidades onde a disrupção entra pelo lado humano e pelo lado tecnológico”, afirmou, dizendo que esse tem de ser o “ponto diferenciador”.
O que vai fazer a diferença é o nosso rosto humano. Temos programas internos e acreditamos que as seguradoras do futuro são entidades onde a disrupção entra pelo lado humano e pelo lado tecnológico.
“O cash flow vem primeiro e nós temos de transformá-lo em carinho”, disse, entre risos. Há um aspeto onde o CEO defende que todos somos iguais: no envolvimento nas comunidades e no sentimento de fazer bem o bem. Por isso, evoluir através das pessoas “é bom para o negócio”, porque “é possível combinar dimensão com inteligência”.
“Sentimos impulso para procurar outras geografias”
No mês passado, arrancou a OPA da Fidelidade sobre a peruana La Positiva para aquisição de 51% do capital. O acordo foi assinado em março e a Fidelidade vai investir cerca de 90 milhões de euros para crescer naquele mercado. “Esta oportunidade no Peru apareceu quando estávamos na América Latina a falar com diversos reguladores. O Peru estava nesse radar e é um mercado estável. É uma boa empresa [La Peruana], é rentável e bem gerida“, disse, durante a entrevista.
Para o administrador, a escala no setor é um “elemento crítico importante”. Isto porque a “regulação atual favorece as empresas de maior dimensão” e a escala oferece oportunidade de capacitar os investimentos e dá força para crescer. “No caso da Fidelidade, em Portugal, já estamos acima da nossa quota natural”, admitiu.
“Sentimos um impulso para procurar novas geografias e oportunidades que tenham que ver connosco”, disse, explicando a entrada para o mercado da América Latina. O arranque deu-se no Chile, onde têm uma “pequena operação” e, agora, no Peru. “Havia condições muito boas para entrar nesta operação, que ainda não está concluída. Esperamos fechar aquilo dia 9 de janeiro”.
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