Fim do diesel? ACAP pede “neutralidade tecnológica” ao Governo

O ministro Matos Fernandes alertou para a perda de valor dos carros a diesel, aconselhando os elétricos. A ACAP defende que deve ser o mercado a fazer essa mudança.

O ministro Matos Fernandes atacou os diesel. Numa altura em que se assiste uma “perseguição” aos motores a gasóleo, por serem poluentes, o ministro do Ambiente e da Transição Energética defendeu que os portugueses deveriam optar pelos veículos elétricos. A Associação Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) criticou, de imediato, o conselho. E mantém a crítica, pedindo que haja “neutralidade tecnológica” por parte do Governo.

“Deve haver, da parte dos políticos, uma neutralidade tecnológica”, afirmou Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, durante o habitual balanço anual do mercado. É preciso, na perspetiva da associação que representa o setor automóvel em Portugal, deixar o mercado funcionar, apontando para uma mudança que acontecerá de forma gradual. “A previsão é de que haverá redução gradual do [peso das vendas do] diesel, com a gasolina a aumentar”, remata.

Diesel em queda. Gasolina acelera

Esse mix sofreu uma forte alteração no ano passado. De acordo com os dados da ACAP, o peso do diesel encolheu de 61% para 53% ao mesmo tempo que o da gasolina aumentou para 39%. Já em janeiro, a gasolina superou a venda dos diesel, o que não acontecia desde 2004. Os modelos que utilizam outros tipos de motor, nomeadamente os híbridos e os elétricos, assistiram também a um crescimento acentuado em termos de representatividade: passaram a pesar 7,4%, num ano em que a venda de 100% elétricos cresceu 148%.

"A previsão é de que haverá redução gradual do [peso das vendas do] diesel, com a gasolina a aumentar.”

Hélder Pedro

Secretário-geral da ACAP

A mudança repentina de que Matos Fernandes fala merece críticas da associação do setor porque o ministro acaba, indiretamente, por favorecer alguns fabricantes em detrimento de outros. “As marcas, cada uma tem a sua estratégia. Todas vão no sentido da redução das emissões”, seja com motores a combustão, híbridos ou elétricos “puros”, mas com timings diferentes, salientou José Ramos, presidente da ACAP e da Toyota Caetano Portugal.

Mas o ministro do Ambiente é também criticado, bem como todo o Governo de António Costa, porque fala numa mudança sem pensar no impacto na indústria em Portugal, mas também na dependência que tem da receita fiscal dessa mesma indústria. A ACAP salienta que dos 45 mil milhões de receitas previstas no Orçamento do Estado para 2019, 19,5% vêm do automóvel. E pouco é dos elétricos, o que pode ser um problema no futuro.

“Ainda ninguém pensou como é que se vai tributar os carros elétricos. Falam nas metas para 2030, mas não se sabe como” vão arrecadar a receita, salienta José Ramos, presidente da ACAP. E o “Governo não vai abdicar dos impostos. Não prescindirá da receita, mas também não há previsibilidade para o que vai acontecer”, defende Hélder Pedro. “Isso preocupa-nos. A ausência de estratégia do Governo, preocupa-nos”, remata o secretário-geral.

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