Vendas de carros a gasolina em Portugal superam as do diesel pela primeira vez em 15 anos

Não é inédito, mas é preciso recuar muito para encontrar um mês em que as vendas de automóveis a gasolina tenham superado as do diesel. Foi isso que aconteceu no arranque deste ano.

As vendas de automóveis aceleraram no arranque do ano. Assistiu-se a um crescimento expressivo, de quase 10%, sendo que o motor desse aumento foi a gasolina. Pela primeira vez em 15 anos, saíram dos stands nacionais mais veículos a gasolina do que a gasóleo, evolução que segue a tendência que se começa a verificar um pouco por todos os países europeus. E a comercialização de modelos que recorrem a energias alternativas, tais como os elétricos, disparou.

Foram vendidos 15.753 automóveis no primeiro mês deste ano. Enquanto 6.860 destes veículos matriculados em janeiro estavam equipados com motores a gasóleo, um total de 7.339 recorriam a motores a gasolina, de acordo com dados da MotorData, confirmados pela Associação Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) ao ECO. A última vez que tal tinha acontecido foi em março de 2004, ano do Europeu de Futebol em Portugal.

Os automóveis que utilizam apenas motor a combustão a gasolina representaram 46,6% das vendas no mercado nacional, contra os 43,5% dos modelos a gasóleo, sendo que o peso da gasolina sobe quando considerados os veículos híbridos, ou seja, que têm acoplado um motor elétrico. E chega mesmo aos 52,1% do total quando a estes se juntam os modelos elétricos mas que contam com motor a combustão para extensão da autonomia.

Venderam-se mais 479 carros a gasolina que a diesel em janeiro

Fonte: MotorData

Os dados do arranque deste ano mostram um acelerar da tendência registada já em 2018. Dos mais de 200 mil veículos novos comercializados em Portugal, o ano passado, os carros a gasóleo mantiveram-se como os mais vendidos, mas o seu peso no mix de vendas caiu a pique. Foram vendidos um total de 121.591 carros a gasóleo, uma quebra 10,4% que levou a quota dos diesel a encolher de 61%, em 2017, para 53,25%, em 2018. A gasolina ganhou quota, mas o destaque foi para os veículos que recorrem a energias alternativas.

Diesel em fim de vida

Portugal começa, agora, a embarcar na mudança de paradigma a que se assiste no resto dos países europeus, em que os consumidores estão a afastar-se do diesel. Foi desde o escândalo de manipulação de emissões de gases poluentes por parte da Volkswagen, em setembro de 2015, que os motores a gasóleo começaram a ser colocados de parte em detrimento de veículos a gasolina, híbridos e elétricos.

Enquanto em Portugal o diesel se manteve como “rei” nas vendas, no resto da Europa rapidamente se assistiu a uma inversão. De acordo com os dados mais recentes da Associação Europeia dos Fabricantes de Automóveis, no terceiro trimestre de 2018, quase 58% de todos os automóveis novos de passageiros vendidos na União Europeia eram movidos a gasolina. Apenas cerca de um terço dos veículos comercializados era a diesel, num contexto em que muitos responsáveis apontam para o descontinuar destes motores. E as cidades começam a proibi-los devido à poluição.

Com o exemplo europeu em mente, Matos Fernandes veio alertar os consumidores nacionais para o risco que os portugueses correm ao continuarem a comprar automóveis a diesel. “Quem comprar carro a diesel, daqui a quatro ou cinco anos vai ter, provavelmente, menos valor na troca”, afirmou o ministro do Ambiente e da Transição Energética em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, gerando reações musculadas por parte dos players do mercado. E voltou a repetir o aviso na SIC Notícias, sublinhando, no entanto, que o Governo não irá proibir o diesel, cabendo às cidades essa decisão. João Galamba, o seu secretário de Estado, repetiu-o ao Público.

Futuro é elétrico (mesmo que não a 100%)

A mudança do gasóleo para a gasolina cá dentro, mas principalmente lá fora, está a ter um forte impacto sobre a produção de carros no mercado nacional. Tendo em conta que alarga maioria dos veículos que saíram das fábricas portuguesas (97%) teve como destino o mercado externo, nomeadamente a Europa, de acordo com dados da ACAP, cedidos ao Dinheiro Vivo, pela primeira vez desde 1995 saíram das linhas de montagem nacionais em 2018 mais carros a gasolina que a diesel.

Foram produzidos um total de 148.293 automóveis com motor a gasolina, o equivalente a 50,4% da produção em Portugal, sendo os restantes a diesel. E a mudança na produção é mais expressiva quando se olha apenas para os veículos que saíram da Autoeuropa. Dos 234.151 automóveis ligeiros montados no ano passado em Palmela, 63,3% (148.095) tinham um motor a gasolina, a percentagem mais elevada desde 1995 — desde 2009 que saem de Palmela mais carros a gasolina que a gasóleo.

A produção de veículos elétricos em Portugal foi residual, contando-se apenas 104 veículos, isto quando a procura está a acelerar de forma expressiva. Aliás, Matos Fernandes aponta os elétricos como o futuro, dizendo que Portugal “não pode ficar fora dessa transformação”.

Só em 2018, as vendas de ligeiros de passageiros 100% elétricos totalizaram 4.073 unidades, o que representou um crescimento de 148,4% face ao ano anterior — o parque de automóveis totalmente movidos a eletricidade aumentou, assim, para 7.771, isto sem incluir os dados da Tesla. E no arranque deste ano mantém-se a tendência, tendo sido matriculados mais 653 elétricos “puros”, de acordo com os dados da MotorData. A estes juntam-se 275 elétricos que recorrem a motores a combustão para aumentar a autonomia e mais 512 híbridos, sejam a gasolina ou a gasóleo.

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