Bancos estão a acelerar “limpeza”, mas ainda têm 25,8 mil milhões de euros em malparado

Desde os máximos históricos, o stock total de créditos em incumprimento caiu quase para metade. As empresas continuam em pior situação que as famílias.

O crédito malparado caiu 11% em 2018, ano em que a banca acelerou a venda de carteiras de crédito. Apesar da queda homóloga face aos 37 mil milhões de euros no final de 2017, há ainda 25,8 mil milhões de euros por limpar das folhas de balanço. As famílias estão abaixo da média, enquanto as empresas continuam a ser o maior problema.

“O rácio de NPL [non-performing loans] manteve a tendência decrescente, registando, no final de 2018, um valor abaixo dos 10% (9,4%), o que configura uma redução trimestral de 1,9 pp”, revela o relatório do Banco de Portugal publicado esta quinta-feira.

Evolução do rácio de malparado da banca

Fonte: Banco de Portugal

Esta evolução face ao trimestre anterior resulta de uma redução acentuada do stock de empréstimos em incumprimento das empresas em 3,8 mil milhões de euros e dos particulares em 1,3 mil milhões de euros, o que levou a um rácio de NPL líquido de imparidades de 4,5%. Já o rácio de cobertura por imparidades dos NPL diminuiu no trimestre 1,4 pontos, para 51,9%.

“Desde o máximo histórico, observado em junho de 2016, o rácio de NPL diminuiu 8,5 pontos percentuais”, o que “reflete uma redução de quase 50% do stock total de NPL” ou 24,6 mil milhões de euros.

Vendas aceleram, mas economia também ajuda

Os detalhes das razões que levaram à quebra no malparado serão conhecidos apenas em junho quando o Banco de Portugal divulgar o relatório de estabilidade financeira. Ainda assim, as recuperações terão aumentado devido ao impacto positivo do ciclo económico. A par, os bancos têm levado a cabo uma estratégia de venda de carteiras de ativos tóxicos.

Os seis maiores bancos que operam em Portugal venderam mais de 5,7 mil milhões de euros, em carteiras de crédito malparado no ano passado para melhorarem os balanços e cumprirem exigências regulatórias.

O líder foi o Novo Banco, que anunciou a venda de 2.150 milhões de euros, enquanto a Caixa Geral de Depósitos alienou 1,2 mil milhões e o Santander Totta mil milhões. O BCP vendeu uma carteira de crédito de 730 milhões de euros, o BPI alienou 400 milhões de euros e o Banco Montepio vendeu 239 milhões de euros de malparado.

Apesar dos progressos, a banca em Portugal continua com um rácio de malparado acima da linha definida pela Autoridade Bancária Europeia. A EBA propôs, no ano passado, vir a penalizar bancos com rácio de crédito em incumprimento superior a 5% da totalidade dos empréstimos. Se por um lado, a plataforma de malparado poderá ajudar a continuar a tendência de queda, a desaceleração da economia poderá travar.

De regresso aos lucros, rendibilidade da banca cresce

A estratégia de venda de malparado comporta riscos já que pode ter um impacto negativo nos resultados quando existe necessidade de incluir as perdas da diferença entre o créditos registado no balanço e o valor a que são vendidos.

Segundo os dados do Banco de Portugal conhecidos esta quinta-feira, a rendibilidade bancária — avaliada através da rendibilidade do capital próprio (ROE) e do ativo (ROA) — aumentou, 3,7 pontos percentuais e 0,3 pontos percentuais, respetivamente, situando-se em 7,1% e 0,7%. O dado já era esperado tendo em conta que, à parte do Novo Banco, os maiores bancos regressaram no ano passado aos lucros.

“O aumento do ROA foi determinado essencialmente pela redução expressiva de provisões e imparidades (0,6 pp do ativo), em particular para crédito. Esta conduziu à diminuição do custo do risco em 0,6 pp, para 0,4%”, revela o relatório.

Por outro lado, o produto bancário contribuiu negativamente para a evolução do ROA em 0,4 pontos, “devido à redução dos resultados em operações financeiras, associada a perdas com vendas de crédito, e à dissipação do efeito base relacionado com o registo em outros resultados de exploração, no exercício 2017, das prestações relacionadas com o Mecanismo de Capital Contingente previsto nos contratos de venda do Novo Banco“.

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