Draghi: “Crescimento económico mais lento vai prolongar-se ao longo deste ano”
O presidente do Banco Central Europeu mostrou-se menos otimista em relação à economia da Zona Euro, apesar do reforço no emprego e salário. O preço do petróleo deverá penalizar a inflação.
Os riscos internos de cada país estão a esvanecer, mas a economia da Zona Euro não deverá recuperar nos próximos meses. O Banco Central Europeu (BCE) antecipa que o crescimento económico mais lento irá manter-se ao longo deste ano. Apesar da robustez do emprego e das subidas nos salários, o preço do petróleo deverá penalizar a inflação europeia.
“A informação que recebemos desde a reunião do Conselho de Governadores em março confirma que o crescimento mais lento irá estender-se ao longo do ano atual”, disse o presidente do BCE, Mario Draghi, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião desta quarta-feira. “Apesar de estarem a desvanecer os sinais de que fatores idiossincráticos internos estão a condicionar o crescimento, os ventos contrários globais continuam a pesar sobre os desenvolvimento de crescimento da Zona Euro”.
O discurso menos otimista acontece depois de, em março, o BCE reviu em baixa as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro para 1,1% este ano e 1% no próximo (em ambos os casos face aos anteriores 1,7%). Esta terça-feira também o Fundo Monetário Internacional ajustou as estimativas de crescimento da região para 1,3% este ano, menos 0,3 pontos percentuais que a anterior projeção e 0,5 pontos que a expansão económica verificado em 2018.
“A persistência de incertezas — relacionadas com fatores geopolíticos, a ameaça de protecionismo e vulnerabilidades nos mercados emergentes — está a deixar marca no sentimento económico“, disse Draghi. Questionado sobre o anúncio que os EUA planeiam aplicar tarifas de 11 mil milhões de dólares sobre os bens importados da União Europeia, o italiano respondeu que é necessário ver o que acontece porque, muitas vezes, há grandes diferenças entre palavras e ações.
Já sobre a inflação, o presidente do BCE também se mostrou mais pessimista. “Com base nos atuais preços do petróleo, é provável que a inflação subjacente desacelere nos próximos meses“, afirmou, ao contrário do que costuma antecipar: que a subida dos preços se mantenha nos níveis atuais. Em março, a taxa de inflação da Zona Euro desacelerou para 1,4% e a projeção atual do BCE é que fique em 1,2% este ano, 1,5% no próximo e 1,6% em 2021.
Em junho haverá novas projeções para a economia e inflação que poderão ser novamente revistas em baixa, mas Draghi sublinhou que “a probabilidade de recessão continua diminuta”. Caso se concretize, “o Conselho de Governadores mantém-se pronto a usar as medidas de política monetária necessárias” para fazer face a uma recessão.
Pormenores do TLTRO só nas próximas reuniões
Foi exatamente com este pensamento que o BCE anunciou, na última reunião, uma nova ronda de financiamento de baixo custo à banca, as Targeted Longer-Term Refinancing Operations (TLTRO III). “Um amplo grau de política monetária expansionista continua a ser necessária”, disse Draghi, acrescentando que “os estímulos estão a ser conseguidos através da nossa forward guidance sobre as taxas de juro de referência, o reforço dos reinvestimentos do considerável stock que ativos adquiridos e a nova série de TLTRO”.
A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento manteve-se, esta quarta-feira, inalterada em 0%, enquanto as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito permanecerão em 0,25% e -0,40%, respetivamente. O BCE espera que assim continuem, “pelo menos, até ao final de 2019”. O programa de compra de ativos deverá continuar na fase de reinvestimento dos juros e dos montantes dos títulos que atingem as maturidades até depois de subir os juros pela primeira vez desde 2012.
Já quanto ao TLTRO III, Draghi garantiu que o Conselho de Governadores ainda não discutiu os termos do TLTRO III, o que deverá acontecer nas próximas reuniões. Mas deu já algumas linhas indicativas: irá associar o juro ao crescimento económico e à capacidade da banca repassar os estímulos à economia. Em simultâneo, o BCE irá também analisar o impacto dos juros negativos na banca e na economia.
“Os detalhes precisos dos termos da nova série de TLTRO serão comunicados numa das próximas reuniões. Em particular, a fixação de preços das novas operações irá ter em consideração uma avaliação completa dos canais de transmissão da política monetária com base na banca, bem como os desenvolvimentos do outlook económico. No contexto de nossa avaliação regular, também consideraremos se a preservação das implicações favoráveis das taxas de juros negativas para a economia requer a mitigação de possíveis efeitos colaterais, caso existam, na intermediação bancária”, acrescentou.
A terceira ronda deste tipo de financiamento irá começar em setembro e terá uma maturidade de apenas dois anos (face aos três anos das anteriores rondas). No total, são sete operações trimestrais que irão decorrer até março de 2021. O objetivo é que os bancos mantenham linhas de crédito abertas às famílias, mas especialmente às empresas, numa altura em que o setor tem dificuldades em gerar rentabilidade num contexto de juros abaixo de zero.
(Notícia atualizada às 14h45)
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