António de Sousa: “Administradores não entenderam bem o que estavam a assinar” em operação ruinosa da CGD

Boats Caravelas foi uma operação iniciada em 1999, quando o banco era presidido por João Salgueiro. Sucessor António de Sousa provisionou a totalidade do montante e as perdas ascenderam a 340 milhões.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) assumiu perdas de 340 milhões de euros com a Boats Caravela, uma das operações mais ruinosa do banco público. Iniciada em 1999, pelo então presidente João Salgueiro, passou para as mãos do sucessor, António de Sousa, que diz agora que houve administradores que aceitaram a operação sem que compreendessem a complexidade e risco associados.

“Sei bem quanto afetou a Caixa porque tive de fazer provisões para a totalidade do valor [447 milhões de euros]”, afirmou António de Sousa, esta terça-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do banco público. “Era uma operação financeira complexa. Penso que vários membros do conselho de administração não entenderam bem o que estavam a assinar”, referiu. “João Salgueiro não estava ciente do risco de uma operação daquelas”.

O instrumento é um credit default swap, ou seja, um contrato celebrado entre a CGD e o banco suíço Crédit Suisse em que as duas instituições dividem o risco sobre a carteira de ativos. Como explicou o antigo presidente, a operação significava que a CGD tomava instrumentos, as obrigações Boats Caravela, que continham um conjunto de créditos. Na primeira tranche, a perda era responsabilidade do Crédit Suisse. No nível intermédio, a mezzanine, a responsabilidade passava para a Caixa e, na última, era novamente da instituição internacional.

“O problema aconteceu logo no início porque acabou logo [atingindo o limite máximo rapidamente] e a responsabilidade passou para a CGD. Porque é que se faz uma operação destas? Porque pelo meio o que havia era o pagamento de uma taxa de juro substancial que permitia ter lucros para compensar outras operações que tinham dado prejuízo“, referiu António de Sousa.

Esta foi também a conclusão da EY. Apesar de a operação ter sido começada em dezembro de 1999, é feita referência às Boats Caravela no relatório da auditora à gestão do banco público entre 2000 e 2015 devido ao impacto que veio a ter nas contas.

A EY explicou que os motivos inerentes à operação são meramente contabilísticos, com a necessidade de eliminar uma menos valia potencial transitória numa carteira de obrigações de taxa fixa. A auditora acrescentou que houve uma tomada de operação com um risco elevado, sem evidência de análise de suporte nem conhecimento para os riscos inerentes à operação. O resultado foi uma perda de 340 milhões de euros.

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