“Teatro fragiliza CGD”. O mercado vai penalizar?
Demissão de Domingues prejudica imagem da Caixa Geral de Depósitos, mas pode afetar emissão de dívida? Alguns analistas dizem que sim, outros têm opinião diferente. Mercado divide-se.
“Teatro que fragiliza”. “Ruído prejudicial”. “Custo da emissão pode ser mais alto”. “Não há clima de instabilidade”. “Sem impacto significativo na emissão”. As opiniões dos analistas em relação às consequências da demissão de António Domingues da presidência da Caixa Geral de Depósitos (CGD) estão longe de ser consensuais. Mas há um ponto em comum: apetite do mercado na emissão do banco público no âmbito do processo de recapitalização vai depender sempre do tipo de dívida e da taxa de juro oferecida. O que esperar? Ninguém sabe muito bem ainda.
O Governo adiantou na última semana que tem recebido “respostas positivas” do contacto que a administração agora demissionária já realizou com potenciais investidores interessados em participar na emissão de dívida subordinada no montante de 1.000 milhões de euros. Mas esta operação de charme junto do mercado poderá ter voltado à estaca zero na sequência da demissão de Domingues do banco público, cuja indefinição poderá acarretar custos de reputação para a instituição.
“Todo este ruído é prejudicial à CGD e ao processo de recapitalização, nomeadamente na componente de colocação de dívida em privados. Não era uma tema muito focado nas análises da imprensa internacional. Mas, naturalmente, os potenciais interessados em ficar com a dívida a emitir estão atentos a tudo isto”, declarou ao ECO o presidente da IMF, Filipe Garcia. “Agora tudo depende da solução que será encontrada. Creio que há espaço para encontrar uma solução que facilite a emissão de dívida a privados. A situação anterior é que não oferecia segurança tendo em conta a fragilidade crescente de António Domingues”, salienta ainda.
"Todo este ruído é prejudicial à CGD e ao processo de recapitalização, nomeadamente na componente de colocação de dívida em privados. Não era uma tema muito focado nas análises da imprensa internacional. Mas, naturalmente, os potenciais interessados em ficar com a dívida a emitir estão atentos a tudo isto.”
Para Pedro Lino, da DifBroker, “o interesse dos investidores terá sempre a ver com as garantias dadas e a taxa de juro proposta”. “Mas é certo que este teatro fragiliza a CGD que está sem administração efetiva há um ano, sem estratégia, e como resultado o custo da emissão poderá ser mais alto“, reforçou o CEO da corretora.
Um outro analista que costuma estar envolvido em operações de emissão de dívida também salientou os “riscos acrescidos” que resultam da indefinição no banco público. Não se sabendo ainda qual é o instrumento de dívida que a CGD vai emitir, torna-se difícil de avaliar o interesse dos investidores. “Haverá mais facilidade e mais apetite se for um instrumento menos subordinado, menos associado ao capital. Quanto mais subordinada e de capital for, mais difícil é a operação”, explica esta fonte.
“Sem impacto significativo”
Em todo o caso, com o plano de recapitalização já adiado para depois do primeiro trimestre do próximo ano, nem todos os analistas ouvidos pelo ECO acreditam que a demissão de alguns membros da equipa de gestão da Caixa, incluindo Domingues, tenha impacto material na emissão de dívida subordinada.
“Não será provavelmente de esperar um impacto significativo a não ser o adiamento do processo”, assume Albino Oliveira, da Patris Investimentos. “Embora seja relevante o nome do presidente da instituição (em termos de transmitir confiança aos investidores), mais importante serão provavelmente a situação económica e financeira do país, assim como a posição de capital (que irá melhorar com a injeção de capital por parte do Estado) e a qualidade dos ativos de balanço do banco”, justifica Oliveira.
"Embora seja relevante o nome do presidente da instituição (em termos de transmitir confiança aos investidores), mais importante serão provavelmente a situação económica e financeira do país, assim como a posição de capital (que irá melhorar com a injeção de capital por parte do Estado) e a qualidade dos ativos de balanço do banco.”
Henrique Dias, gestor da corretora XTB, tem opinião semelhante: “A meu ver, não existirão grandes consequências nos custos da emissão de dívida, nem na capacidade da CGD honrar os seus compromissos. Não há perceção de que tenha havido uma rutura à estratégia de recapitalização”.
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