Editorial

Costa afunda Rio nas europeias. A Esquerda distancia-se da Direita

O PS é hoje um partido de Costa e dos outros. O PSD um núcleo duro que vale hoje na sociedade portuguesa pouco mais de 20% dos eleitores. Este o ponto de partida para a campanha das legislativas.

As eleições europeias confirmaram o que já se pronunciava há meses (mesmo com alguns sinais contraditórios pelo meio). António Costa caminha para uma vitória confortável nas legislativas (à espreita da maioria absoluta) e Rui Rio afunda-se nas suas próprias contradições. Mesmo com este grau de abstencionismo — de 68% e que exige cuidado nas leituras –, e com outros derrotados com estrondo, não há outra forma de o dizer. O melhor que Rio conseguiu na sua primeira eleição como líder do PSD foi o pior resultado de sempre do partido.

O líder do PS percebeu o erro de casting na escolha do seu cabeça-de-lista e ‘nacionalizou’ as Europeias. Ao fazê-lo, antecipou uma espécie de grande barómetro das legislativas de outubro. E ganhou a jogada. Duplamente. Jogou o seu próprio peso eleitoral e mostrou que o PS é hoje um partido de Costa e dos outros, e expôs o que é a realidade do PSD, com um núcleo duro que vale hoje na sociedade portuguesa pouco mais de 20% dos eleitores. É este o ponto de partida para a campanha das legislativas.

Rui Rio bem pode dizer que a avaliação dos resultados do PSD tem de ter em conta que, nas últimas eleições europeias, o partido concorreu com o CDS (e o dissidente Aliança). E somados, nestes resultados, aqueles dois partidos, não comparam mal com 2014. Até têm mais votos. Sabe a pouco. Porque a realidade mudou. Em 2014, a PAF (liderada por Pedro Passos Coelho) estava a sofrer o desgaste político do resultado do programa da troika. Agora, o PSD poderia ter capitalizado o descontentamento de quem vê o Estado a mostrar buracos como um queijo suíço. Nem isso foi capaz de mostrar.

A verdade é que o PS não teve uma vitória esmagadora, o PSD é que teve uma derrota esmagadora. É Rui Rio que tem de mudar, e veremos se vai a tempo. Com este nível de abstenção, é difícil fazer com rigor uma avaliação das consequências da crise dos professores, e da desastrada tentativa de colagem a uma reivindicação que tem no BE e no PCP os maiores apoiantes. Uma coisa é certa: desmobilizou quem estaria eventualmente disponível para votar no PSD, e reduziu o seu núcleo duro a um mínimo histórico.

Rui Rio reconheceu a derrota – Rangel também tem as suas responsabilidades – e afirmou que o PSD tem de saber ler os resultados. Durante o último ano, fez acordos de regime com o PS e não mostrou ser uma alternativa. Na dúvida, os portugueses preferem deixar quem está, até porque quem está teve a habilidade de revelar uma moderação em temas que são caros à extrema-esquerda, particularmente nas contas públicas.

Só uma grande volta, que não se adivinha, permitirá que o PSD venha a ser uma efetiva (e não retórica) alternativa ao PS, e só outra grande volta permitirá que a Direita seja uma alternativa à Esquerda. O CDS afundou, o Aliança desiludiu. O Bloco ‘comprou’ os votos perdidos pela CDU e, com um crescimento do PS, as esquerdas até aumentaram a sua posição de força. E o crescimento do PAN, com potencial para se reforçar nas legislativas, até abre novas oportunidades de aliança a António Costa. As cartas estão em cima da mesa, para a renovação de um certo modelo de governação (e só a economia poderá travar isto), assente na redistribuição, no favorecimento de segmentos da população (eleitoral) e na consequente perda de posições no ranking europeu da riqueza por habitante.

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