Comer sardinhas nos Santos Populares vai encarecer? “Teoricamente sim”, mas existem outros fatores
Este ano, os pescadores viram reduzir as toneladas permitidas de captura de sardinha. Com menos oferta e os Santos Populares à porta, a pergunta é se o preço a pagar por uma sardinha vai aumentar.
Os Santos Populares estão à porta e a sardinha já começa a fazer “água na boca” de muitos portugueses, que não perdem a oportunidade de percorrer os arraiais à procura de sardinha assada na brasa. . Mas, este ano, comer uma sardinha pode, “teoricamente”, sair mais caro, ainda que, na prática, existam vários fatores a determinar o preço.
A pergunta que se impõe é se, tendo em conta que a quota de sardinha para este ano é menor e que só se começa a pescar a 3 de junho, os preços podem aumentar. Para Jorge Abrantes, consultor da Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (Anopcerco), essa leitura não é assim tão “linear”.
“O mercado funciona em função da simples lei da oferta e da procura. Relativamente à oferta, de facto, temos uma redução da possibilidade de captura diária, o que, teoricamente, pode significar um acréscimo do preço médio”, diz ao ECO.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), ao longo dos últimos 20 anos, a captura de sardinhas tem vindo a recuar, caindo mesmo mais de 30%. Já o preço médio tem registado um crescimento médio anual superior em 4,1 vezes ao preço médio do pescado transacionado em lota.
Contudo, “nada nos garante que isso aconteça”, salienta Jorge Abrantes, referindo-se ao aumento do preço das sardinhas nas festas populares dos Santos. Segundo o consultor da Anopcerco, existem vários fatores que influenciam o preço, começando, desde logo, pela existência de concorrência externa, nomeadamente sardinha que venha de Espanha e que seja colocada no mercado nacional.
“Outro fator importante é a qualidade da sardinha”, acrescenta. “Costuma dizer-se que sardinha de São João pinga no pão. Isto porque se a sardinha pingar no pão é porque tem um teor de gordura agradável. E isso é fundamental para a qualidade”, explica o consultor da Anopcerco. Assim, também esse teor pode determinar o preço da sardinha, na medida em que quanto mais agradável for, mais procura haverá. E, nesta altura do ano, este peixe é “rei”, assumindo particular apetência, sendo que, mesmo depois dos Santos Populares, “a sardinha constitui um elemento essencial da gastronomia balnear”.
Há menos sardinhas. Mas não é por “falta dela”, é por “imposição”
Este ano, os pescadores portugueses só voltam à apanha de sardinha no dia 3 de junho. O regresso à pesca neste dia pretende concentrar a atividade na altura dos Santos Populares, durante os quais Humberto Jorge, presidente da Anopcerco, já dizia, em meados de maio, que não haveria escassez. “Não vai faltar nos Santos Populares”, afirmou ao Correio da Manhã (acesso livre), na altura.
A garantia foi dada, apesar de as capturas permitidas para 2019 serem menores do que as exigidas pelos armadores. Jorge Abrantes explica que os pescadores tiveram de diminuir a captura de sardinha por “imposição quantitativa, não por falta dela”. “Da parte da produção, entendemos que existem condições para manter ou até aumentar o número de capturas de 2018”, que rondou as 9.700 toneladas em Portugal. O valor foi, no entanto, já “bastante mais baixo daquilo que tinha sido em 2017”, altura em que foram recolhidas 14.694 toneladas de sardinhas.
“Este ano, o ponto de partida são cerca de 7.800 toneladas”, diz a Anopcerco, salientando que este é um número que poderá ser, ainda, alvo de ajustamento. No despacho publicado a 14 de maio em Diário da República (DR), lê-se que o valor é “possível de ser revisto em função dos novos dados da investigação científica sobre a sardinha”. A expectativa da Anopcerco é que exista, de facto, um aumento do que está atualmente definido: um limite anual de 10.799 toneladas para Portugal e Espanha, em que 66,5% desse valor é destinado a Portugal (7.181 toneladas).
Sardinha congelada é uma alternativa. Mas preços podem aumentar
Sempre que falta sardinha fresca, o peixe congelado aparece como uma alternativa. “A sardinha congelada é a que restou dos passados meses de agosto e setembro”, afirma Jorge Abrantes, acrescentando que esta sardinha está à espera de “eventuais falhas nas frescas para concorrer no mercado”.
"Falta matéria-prima para o congelamento, que faz face à falta [de sardinha] ao longo de todo o ano. Como não sobram, a indústria da congelação não pode congelar.”
A diferença de preços entre as duas, “normalmente é significativa”, já que “uma boa sardinha fresca, teoricamente, tem um preço mais elevado que a congelada”. Ainda assim, há alturas do ano em que a lei da oferta e da procura provoca alterações, fazendo mesmo com que a sardinha congelada assuma “preços bastante elevados” e, sobretudo, “quando não há sardinha fresca”.
Por outro lado, também a sardinha congelada atravessa uma maré mais agitada. “Naturalmente, se as possibilidades de captura forem condicionadas, haverá muita dificuldade em congelar sardinha com as características que interessem para o consumo”, afirma, acrescentando que essa tem sido, aliás, uma queixa recorrente por parte da indústria da congelação. “Falta matéria-prima para o congelamento, que faz face à falta [de sardinha] ao longo de todo o ano. Como não sobram, a indústria da congelação não pode congelar“, remata.
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