Vale tudo, até tirar bancos. Empresas de transporte respondem ao aumento da procura
Com passes mais baratos disparou o número de passageiros dos transportes públicos. Para fazer face a este aumento, e sem conseguir crescer, empresas adaptam a oferta.
As transportadoras da zona de Lisboa registaram um grande aumento do número de passageiros após a entrada em vigor dos novos tarifários para os passes e revelaram ter adotado medidas para reduzir este impacto, ainda que as críticas vindas dos passageiros não o demonstrem. É que as medidas adotadas não se traduzem necessariamente num aumento da oferta disponível e, até agora, a maioria das transportadoras tem simplesmente adaptado a oferta atual, mais do que aumentar as frequências.
Fertagus com mais 48 lugares em cada comboio
Segundo as empresas de transporte ouvidas pela Lusa, o crescimento na procura tem sido sentido por todos os meios. A Fertagus, responsável pela travessia ferroviária da ponte 25 de Abril, apontou que “o número de passageiros transportados, medidos através de uma contagem a um dia útil de maio, cresceu 19,2% face às contagens realizadas em 2018, sendo que os períodos de ponta cresceram 16% e fora das pontas 26%”.
Para fazer face à procura, a empresa está a adaptar um novo horário para os comboios e a estudar a possibilidade técnica de comboios com uma quinta carruagem, para aumentar a capacidade do material circulante existente, uma medida que “implicará alterações no tamanho das plataformas de algumas estações e que nunca poderá ser operacionalizada em menos de dois anos”, sublinham.
No imediato, o volume de passageiros levou a Fertagus a começar a circular “uma UQE (Unidade Quádrupla Elétrica) com um layout interno reformulado” que permite ganhar 48 lugares no comboio. Na prática, foram retirados bancos para caberem mais passageiros, um sistema “aprovado pelas entidades competentes”, que está a circular em regime experimental, mas que, “caso responda positivamente”, será alargada a mais comboios.
Metro de Lisboa reduz lugares sentados
O mesmo está a fazer a Metro de Lisboa. Tal como o ECO escreveu esta terça-feira, a redução do número de lugares sentados é uma opção que está também a avançar gradualmente no Metro de Lisboa, que já em abril tinha decido “aumentar a velocidade de circulação na hora de ponta” para os 60 quilómetros/hora, para aumentar as frequências, subindo a oferta de comboios e reduzindo tempos de espera. Esta oferta será reduzida no período de verão nas linhas Azul e Amarela, mantendo-se nas linhas Verde e Vermelha, que dão acesso ao Aeroporto. Em meados de setembro, o Metro prevê “um aumento de oferta nas linhas Amarela e Azul na hora de ponta da manhã aos dias úteis”, afirmou a empresa.
Também a Metro de Lisboa tem verificado um aumento de passageiros face aos mesmos períodos do ano passado: comparando o mês de abril de 2019 com o de 2018, a procura do Metro cresceu 4,4%, de mais de 13,3 para 13,9 milhões de passageiros transportados.
Carris encomenda 200 autocarros
Setembro será um mês fundamental para perceber como irá evoluir a procura e a oferta. Isso mesmo admitiu ao ECO o presidente da Carris. Resultados ainda provisórios dos primeiros quatro meses deste ano revelam um aumento global de passageiros com títulos válidos de 5,6%, de 41,5 milhões para 43,8 milhões. A Carris realçou à Lusa que em abril foram reforçadas algumas carreiras, o que continuará a acontecer “quando o aumento de procura não [for] satisfeito pela oferta atual”.
A empresa de transportes rodoviários de Lisboa surge, no entanto, um pouco como caso à parte em relação ao panorama enfrentado pelas restantes transportadoras. Ao ter passado para a esfera municipal, em 2017, a transportadora rodoviária lisboeta libertou-se de alguns constrangimentos impostos ao Setor Empresarial do Estado, conseguindo retomar a contratação de trabalhadores em 2018 e comprar novos veículos para reforçar e melhorar a oferta. Neste momento tem encomendados mais de 200 novos autocarros.
TST com 17 novas frequências
Na margem sul, fonte TST também realçou que a empresa já “procedeu ao reforço de oferta nalgumas carreiras, com particular expressão na zona da Moita”, onde foram acrescentadas 17 novas circulações diárias em hora de ponta, com cadências de 10 em 10 minutos.
Nas ligações interurbanas, os Transportes Sul do Tejo dizem ter verificado um aumento da procura nalgumas linhas específicas de autocarros, sem, no entanto, avançar números. Sem meios para aumentar muito a oferta, a empresa avançou com “adaptações” em carreiras específicas, com particular expressão na zona da Moita, referiu a empresa à Lusa.
Falta de pessoal na Transtejo/Soflusa condiciona oferta
Já a Transtejo/Soflusa (ligações fluviais no rio Tejo) diz que em abril de 2019 foi registado um aumento de 8,3% na procura, face ao mês homólogo do ano de 2018. A empresa admite que, apesar “do crescimento da procura, os atuais constrangimentos operacionais e de recursos humanos inviabilizam o reforço da oferta do serviço público de transporte fluvial, em especial nos horários de ponta”.
Entre críticas e pedidos de desculpas
Este aumento súbito de passageiros provocado pela revolução tarifária que arrancou em abril levou as empresas a adotarem medidas que consideram adequadas, apesar das críticas públicas dos utentes, que as consideram insuficientes. Primeiro pensou-se na redução do custo de utilizar transportes públicos, deixando-se para depois pensar na oferta dos transportes públicos, que foram sujeitos a apertados programas de ajustamentos aquando da chegada da troika a Portugal, programas esses que só muito lentamente têm sido amenizados.
Isto mesmo ficou aparente no debate tido no final de março no Parlamento, a pedido do Partido Socialista, sobre os novos tarifários. Nessa ocasião, e apesar de todos os partidos terem saudado a medida e criticado a falta de investimento no reforço da oferta e na capacidade de resposta dos operadores de transportes, os socialistas evitaram falar dos problemas do lado da oferta.
“Isso é um outro debate para o qual estamos disponíveis, mas hoje queremos falar sobre este programa de redução de tarifas”, defendeu Carlos Pereira, que deu a cara pelo Partido Socialista. “Hoje queremos falar sobre este programa e este é um debate de que querem fugir”, sentenciou.
Curiosamente, passados dois meses e umas eleições, foi o próprio primeiro-ministro quem veio reconhecer o óbvio e aquilo que o PS não quis debater antes: “Fora do âmbito legislativo há um conjunto de responsabilidades que não podemos deixar de assumir como prioritárias, dando respostas a um conjunto de serviços cujo funcionamento deficiente não é aceitável. , seja quanto à prestação de serviços básicos como a emissão de cartões de cidadão e passaportes”, salientou.
Um dia depois, também Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e Habitação, pediu desculpa aos utentes pelos constrangimentos sentidos nos transportes públicos.
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