Banco de Inglaterra: “Vulnerabilidades do endividamento não mudaram significativamente desde 2014”
Vice-governador do Banco de Inglaterra esteve em Lisboa para apresentar balanço de medidas de travão ao crédito (semelhadas às aplicadas pelo Banco de Portugal) em vigor no Reino Unido.
O mercado imobiliário e elevado endividamento de famílias e empresas continuam a ser um risco para a estabilidade do sistema financeiro britânico, segundo o Banco de Inglaterra. Apesar das vulnerabilidades, o banco central considera que teve sucesso com a aplicação medidas preventivas semelhantes às impostas pelo Banco de Portugal.
“O elevado endividamento diminuiu desde 2015. Simultaneamente, o nível médio de dívida face ao rendimento aumentou e a literatura mostra que os dois fatores anulam-se”, disse Jon Cunliffe, vice-governador do Banco de Inglaterra, esta quarta-feira em Lisboa. “Podemos portanto concluir que as vulnerabilidades do endividamento não mudaram marcadamente desde 2014“, referiu.
“Mas as vulnerabilidades não se concretizaram“, acrescentou Cunliffe, apontando para um conjunto de medidas macroprudenciais adotadas em 2014 pelo banco central para limitar os riscos do aquecimento do mercado imobiliário para o sistema financeiro.
Após cinco anos de atividade no mercado imobiliário e inflação limitados, os preços e os empréstimos para comprar casa dispararam no Reino Unido. Apenas no primeiro trimestre de 2014, os preços das casas subiu 9% (duas vezes mais depressa que os rendimentos) e o peso dos empréstimos face aos rendimentos estava a crescer.
Neste cenário, o Banco de Inglaterra aplicou duas medidas de travão ao crédito à habitação: limites ao rácio do empréstimo face ao rendimento e um teste de avaliação em que os bancos medem a capacidade de resposta dos detentores de crédito caso os juros subam 3 pontos percentuais, como explicou Cunliffe, numa conferência organizada pelo Banco de Portugal (BdP).
Em julho do ano passado, a aceleração do mercado imobiliário em Portugal levou o BdP a tomar uma decisão semelhante. A instituição liderada por Carlos Costa implementou uma medida macroprudencial com base em três critérios: limite de 90% ao rácio entre o montante do empréstimo e o valor do imóvel dado como garantia, taxa de esforço inferior a 50% e maturidades de crédito num máximo de 30 anos.
Recentemente, o BdP fez a primeira avaliação à medida e concluiu que as instituições financeiras estão a acatar e a aplicar o conjunto de três limites que devem ser tidas em conta na concessão de crédito. Para já, o plano do BdP é manter a medida como recomendação e não passá-la a obrigação, tendo em conta o cumprimento que tem tido por parte das instituições financeiras.
Será feita uma nova avaliação no primeiro trimestre de 2020, mas em Portugal ainda só é possível perceber as implicações de curto prazo, enquanto no Reino Unido, o vice-governador britânico faz um balanço positivo já que, apesar das vulnerabilidades se manterem, considera que medidas macroprudenciais limitam problemas no sistema financeiro num momento de desaceleração da economia em que as famílias percam capacidade de fazer face às obrigações.
“Há, atualmente, um debate sobre os poderes e responsabilidades dos bancos centrais em diferentes áreas, incluindo política macroprudencial”, lembrou Cunliffe. “É assunto para outro discurso, provavelmente mais longo, mas vou apenas destacar que independentemente de como se organizam as responsabilidades, é necessário que haja algum mecanismo que avalie e responda aos riscos macroprudenciais que podem fluir das folhas de balanço de credores“.
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