Parlamento aprova Lei de Bases da Habitação, com votos contra do PSD e CDS

Mais de um ano depois de ter começado a ser preparada, a Lei de Bases da Habitação foi aprovada, mas com os votos contra do PSD e CDS. Resta agora a palavra final do Presidente da República.

O Parlamento aprovou esta sexta-feira a Lei de Bases da Habitação, um diploma desenvolvido pelo grupo de trabalho de Habitação, Reabilitação Urbana e Políticas de Cidades durante mais de um ano. Apesar de ter sido aprovado, o documento, que vai trazer novidades no setor da habitação, recebeu os votos contra do PSD e CDS. Vai agora ser encaminhado para promulgação pelo Presidente da República.

O documento foi aprovado com os votos a favor do PS, PCP, Bloco de Esquerda (BE), PEV e PAN, e com os votos contra do CDS e PSD. Esta posição do partido centrista já se esperava, uma vez que este já tinha avisado que iria votar contra a proposta final. A maioria das propostas aprovadas foram apresentadas pelo PS, que acabaram por merecer a aprovação da esquerda, mas o PSD também contribui com alguns projetos que mereceram a mesma aprovação.

A aprovação do documento final nas votações indiciárias foi possível devido a uma concertação à esquerda. Em maio, o ministro das Infraestruturas e da Habitação confirmou que se tinha reunido com o BE e PCP para alcançar um acordo que agora ficou fechado com a aprovação no parlamento.

E a verdade é que houve mesmo um acordo com a esquerda. O PCP foi o primeiro a anunciar que iria votar a favor da Lei de Bases da Habitação: “O PCP chegou a uma base de entendimento com o Governo que possibilita a aprovação de uma primeira Lei de Bases da Habitação no nosso país”, disse, a 5 de junho, a deputada centrista Paula Santos, em conferência de imprensa. No dia seguinte foi a vez do Bloco manifestar o seu apoio.

“Neste processo de relacionamento com o Governo e com o PS, nas negociações que tivemos, conseguimos chegar a algumas boas soluções e dar avanços que, pelo menos impediram alguns dos recuos que estavam a ser previstos pelo grupo parlamentar do PS”, anunciou o líder do partido, Pedro Nuno Soares, a 6 de junho.

Entre as medidas que constam na Lei de Bases da Habitação estão a possibilidade de entregar a casa ao banco para saldar dívidas, o acelerar de processos judiciais de heranças indivisas que incluam bens imóveis com aptidão habitacional e a regulação e fiscalização da atividade dos condomínios.

Pelo caminho ficaram a definição de renda acessível, proposta apresentada pela deputada independente Helena Roseta, e ainda a possibilidade de avançar com a requisição temporária de imóveis devolutos há mais de cinco anos.

Este é “um enorme passo no direito à habitação”

Foi um momento de vitória em plena Assembleia da República, acompanhado por aplausos, tanto nas bancadas parlamentares, como nas bancadas dos visitantes. Para Helena Roseta, a deputada independente do PS, e a “mãe” desta lei de bases, assistiu-se a uma “votação histórica”, em que foi criada a primeira Lei de Bases da Habitação do país. “Fizemos dezenas de audições, visitas, recebemos contributos e todos quisemos melhorar as propostas iniciais. Foram 304 votações, onde 178 propostas mereceram aprovação, das quais 26% por unanimidade”, disse a arquiteta.

A lei não vai dar casas a ninguém, mas representa um enorme passo em frente no direito à habitação. (…) Muitas destas medidas não se farão de um dia para o outro, mas as responsabilidades ficarão na lei e saberão a quem a exigir”, afirmou, acrescentando que o grupo parlamentar socialista está orgulhoso desta iniciativa.

Para Paula Santos, do PCP, este foi um “dia muito importante”, em que foi possível “concretizar o direito à habitação”. Contudo, a deputada comunista admitiu que se podia ter ido mais longe, dado que apresentaram propostas nesse sentido, mas foi dado um “passo significativo” e o PCP vai continuar a lutar. “Vamos exigir o cumprimento da lei, para que haja mudança. Foi este o compromisso que assumimos, lutámos por ele na AR. As populações e os moradores sabem que podem contar com o PCP para que o direito à habitação seja para todos”.

"A lei não vai dar casas a ninguém, mas representa um enorme passo em frente no direito à habitação. (…) Muitas destas medidas não se farão de um dia para o outro, mas as responsabilidades ficarão na lei e saberão a quem a exigir.”

Helena Roseta

Deputada independente do PS

Do lado do BE, Maria Manuel Rola começou por dizer que se foi longe, embora se pudesse ter ido mais. “O PS se aproximou da nossa posição (…) e agora temos uma boa lei de bases, histórica e de esquerda. Não é o fim de um processo, é meramente o início“, disse. Se houver determinação e não houver recuos, continuou, o BE vai “cá estar” para o trabalho que for necessário. A deputada aproveitou ainda para felicitar o trabalho de Helena Roseta e sublinhar que esta Lei de Bases da Habitação “não dará casa a ninguém, mas garantirá que se chegará a um futuro em que ninguém ficará sem casa”.

“Lei não oferece confiança nem segurança”, acusa PSD

Os votos contra mereceram uma justificação, embora a posição dos centristas já fosse conhecida. O deputado do PSD, Jorge Moreira da Silva, começou por dizer que o partido “participou ativamente no debate” e apresentou mais de 40 propostas de alteração, “cuja esmagadora maioria não teve aprovação.” Nesse sentido, afirmou: “discordamos do resultado final”.

“Uma lei de bases deve ser um documento ordenado para originar uma política pública de habitação, o que não acontece com esta proposta, cujo caráter genérico é o de uma lei que não oferece certeza, confiança, segurança, prolongando os resultados dos últimos quatro anos“, sublinhou o deputado.

Já do lado do CDS, Nuno Magalhães começou por atacar o Governo, dizendo que, em quatro anos, apoiado pelo BE e pelo PCP, “nada fez para resolver a crise da habitação em Portugal”. O país precisa de “respostas urgentes” para o que está a acontecer com o acesso à habitação e, neste sentido, o Governo e os partidos que o apoiam “nada mais fazem do que produzir instabilidade no mercado de arrendamento”.

A Lei de Bases da Habitação não vai resolver qualquer problema da habitação em Portugal. Continuamos a ter um vasto património público degradado e a ser vendido a quem mais paga por ele”, rematou.

(Notícia atualizada às 14h47 com declarações dos partidos)

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