Mortágua e Meireles foram as que mais brilharam no inquérito à Caixa. Aparecem 123 vezes no relatório

Mais de 50 referências separam Mariana Mortágua do social-democrata Duarte Pacheco. A deputada do BE é, claramente, a estrela desta comissão, juntamente com Cecília Meireles, do CDS.

Mais de três dezenas de responsáveis ouvidos, em 36 audições e num total de mais de 120 horas. Foi assim a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Caixa Geral de Depósitos (CGD), a segunda sobre a recapitalização, mas a terceira sobre o banco público, onde sobraram muitos “não me lembro” ou “não me recordo” perante as questões colocadas pelos deputados. Foram vários, dos vários partidos, todos com o seu “tempo de antena”, mas alguns com muito mais destaque do que outros, caso de Mariana Mortágua e Cecília Meireles.

No seu habitual espaço de comentário na SIC, Marques Mendes dizia, fazendo um balanço da II Comissão de Inquérito à CGD, que as prestações das deputadas Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, e Cecília Meireles, deputada do CDS-PP, foram “simplesmente impecáveis”. “Todos eles [deputados] estiveram bem, mas estas duas destacaram-se”, afirmou o comentador.

Mariana Mortágua e Cecília Meireles foram, de facto, as estrelas desta Comissão de Inquérito. E isso, tal como já tinha salientado Marques Mendes, fica provado no projeto de relatório da CPI, documento de 402 páginas em que o nome das duas deputadas é mencionado 123 vezes. Mariana Mortágua é a protagonista, surgindo 62 vezes mencionada no documento, e a deputada do CDS-PP Cecília Meireles aparece apenas menos uma vez do que a bloquista.

As duas deputadas estiveram em alguns dos momentos mais mediáticos desta CPI e brilharam, sobretudo, na audição do empresário madeirense Joe Berardo. As perguntas de Mortágua arrancaram vários “não, não, não”, “não é por culpa minha” ou “não sei” por parte do comendador, perante questões sobre o exercício dos bancos, incluindo a CGD, dos seus direitos de credores pignoratícios. Isto já para não falar do “eu, pessoalmente, não tenho dívidas”.

Excerto da audição a Joe Berardo

Mariana Mortágua: – “E os bancos como credores em penhor têm lugar, com direito de voto, na assembleia geral?”
Berardo: — “Não, não, não.”
Mariana Mortágua: – “É isso que dizem os Estatutos. Mandou-nos ler e nós lemos.”
Berardo: – “Ainda bem. Se eles não exercerem os seus direitos, não é por minha culpa.”
Mariana Mortágua: – “Estou a perguntar se têm ou não lugar.”
Berardo: – “Até hoje nunca estiveram lá.”
Mariana Mortágua: – Se os bancos executarem a Associação, ficam com maioria dos votos na assembleia geral?
(…)
Berardo: – “Não sei.”
Mariana Mortágua: – “É o que dizem os Estatutos.”
Berardo: – “Ainda não executaram. Quando eles executarem, depois vê-se.”
Mariana Mortágua: – “Se os bancos executarem a Associação, ficam com maioria dos votos.”
Berardo: – “Whatever. Eles que façam esse trabalho.”

Enquanto os diálogos entre a deputada do Bloco e o comendador eram cada vez mais acesos, Cecília Meireles ficava “conhecida” por arrancar da boca do empresário madeirense o famoso “ah ah ah”. Isto depois de verbalizar a hipótese de Joe Berardo poder “deixar de mandar” na Coleção Berardo.

Cecília Meireles teve, também, destaque durante a audição de Vítor Constâncio, questionando a atuação do ex-governador do Banco de Portugal relativamente à posição das empresas de Joe Berardo no capital do BCP.

Excerto da audição a Vítor Constâncio

Cecília Meireles: – Nesta assembleia geral do BCP, do dia 27, a Fundação José Berardo e a Metalgest exerceram os direitos de voto correspondentes a 5,98% do capital social?”
Vítor Constâncio: – “A Sr.ª Deputada está a perguntar-me, agora, se numa assembleia geral do BCP houve acionistas que exerceram direito de voto de acordo com uma certa percentagem de votos. Não tenho de saber, nem soube, nada sobre isso, como é evidente! Se foi uma assembleia geral do BCP, perguntem ao BCP como é que foram exercidos os direitos de voto. Não me perguntem a mim e ao Banco de Portugal 12 anos depois!
Cecília Meireles: – “Então o BCP não é um banco!?”

Mortágua ganha, mas Meireles fica perto. Pacheco está a 53 menções

Tal como há deputados-estrela, há também quem, pelo contrário, tenha ficado um tanto ou quanto ofuscado neste projeto de relatório da CPI da CGD. As 62 referências a Mariana Mortágua ou as 61 menções a Cecília Meireles comparam com as cerca de dez vezes cujo nome de outros deputados aparece escrito no documento.

Uma diferença de 53 menções separa a deputada bloquista do social-democrata Duarte Pacheco, que vê o seu nome no documento apenas nove vezes. Perto do deputado do PSD está Paulo Sá, do PCP. O nome do comunista surge 11 vezes na primeira versão do relatório preliminar da Comissão de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos, enquanto o nome de João Paulo Correia, do PS, merece 12 menções.

Contudo, há quem tenha tido um número ainda menor de referências. O nome do deputado Carlos Silva, do PSD, e do deputado João Marques, do PS, surge somente três e duas vezes, respetivamente. Isto em mais de 102 mil palavras.

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