Geringonça lança farpas na “aldeia do Astérix”: Da ingovernabilidade à paciência revolucionária

Três entrevistas: ao ECO, Expresso e Lusa. Líderes da geringonça tentam demarcar-se uns dos outros. Há elogios e também farpas no país que Costa descreveu como a “aldeia do Astérix da estabilidade”.


A pouco mais de um mês das eleições legislativas, aquece o debate político. António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa deram três entrevistas neste final de semana em que falam da atual solução governativa, — com elogios e críticas — mas também já esgrimem argumentos sobre cenários futuros de governação.

O primeiro a falar foi António Costa que, em entrevista ao Expresso [conteúdo pago] e que o jornal publicou uma parte esta sexta-feira, lançou uma farpa política ao Bloco de Esquerda: “Há um amigo meu que compara o PCP ao Bloco de uma forma muito engraçada: é que o PCP é um verdadeiro partido de massas, o Bloco é um partido de mass media. E isto torna os estilos de atuação diferentes.”

Em entrevista ao ECO, que será publicada na íntegra esta segunda-feira, a líder do Bloco respondeu, ainda assim num tom cauteloso: “os partidos políticos ganham em respeitar-se, em respeitar as diferenças que temos, em respeitar as pessoas que confiam em nós e que estão nos partidos. É bastante melhor do que fazer caracterizações mais ou menos caricaturais uns dos outros, que não ajuda ninguém”.

Este sábado, já depois de o Expresso publicar a entrevista ao primeiro-ministro na íntegra, Catarina Martins subiu o tom. António Costa fez a analogia com a situação política de Espanha para dizer que “com um PS fraco e o nosso Podemos forte”, significaria “a ingovernabilidade e a impossibilidade de haver uma solução governativa feliz”

Ao falar do “nosso Podemos” Costa referia-se ao Bloco de Esquerda que este sábado responde mais à letra: “o desejo de uma maioria absoluta pode levar à arrogância e à tentação de fazer caricatura”, diz Catarina Martins ao ECO.

Numa nota publicada este sábado no site do partido, a coordenadora do Bloco explica o que entende por maioria absoluta: “a maioria absoluta é o pântano onde a corrupção se esconde, os abusos fiscais se multiplicam, as cumplicidades se instalam e a democracia é atrofiada”.

Elogios ao PCP, uma angustia e uma paciência revolucionária

Na entrevista ao Expresso, António Costa faz elogios rasgados ao PCP — “o PCP tem uma maturidade institucional muito grande” — mas também lança algumas ferroadas políticas aos parceiros da geringonça: “Não dizemos como Catarina Martins que esta legislatura foi uma batalha da esquerda contra o PS, porque é uma descrição que manifestamente descola da realidade, nem temos de ter as angústias de Jerónimo de Sousa a dizer todos os dias: ‘Este não é o nosso Governo nem apoiamos este Governo‘”.

Jerónimo de Sousa não deixou António Costa sem troco. Em entrevista à agência Lusa [acesso pago], acusa o PS de se curvar em favor do “grande capital monopolista e da banca” e da “União Europeia e suas instituições”. Dá como exemplo a aprovação do Código de Trabalho que os socialistas aprovaram com a direita e à revelia da vontade dos parceiros da esquerda.

O líder do PCP vai mais longe: elogia “a grande franqueza” da relação com o PS”, embora “nalgumas matérias bastante renitente, onde, por vezes, quase era necessário uma paciência revolucionária – passe o termo -, fosse nas reformas, pensões ou manuais escolares, lá vinha sempre a preocupação em relação ao défice, à economia, com o Ministério das Finanças a ter ali um papel de negação ou de carimbo em relação àquelas medidas”.

Na entrevista ao semanário Expresso, o primeiro-ministro elogia o cenário de estabilidade no país e afirma que “um dos fatores distintivos de Portugal no conjunto da Europa é sermos praticamente uma espécie de aldeia do Astérix da estabilidade”. A pouco mais de um mês das eleições legislativas, os líderes que governam a “aldeia povoada por irredutíveis portugueses” vão trocando galhardetes e farpas políticas.

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