Sócrates ataca Sonae e Ricciardi na audição com o juiz Ivo Rosa
Segundo o que o ECO apurou, o ex primeiro-ministro terá dito ao juiz de instrução Ivo Rosa que Paulo Azevedo da Sonae lhe terá ligado a pedir para influenciar a CGD na altura da OPA.
José Sócrates disse esta segunda-feira que a única pressão que teve na oferta pública de aquisição (OPA) foi da Sonae através de Paulo Azevedo. Segundo o que o ECO apurou, o ex primeiro-ministro terá dito ao juiz Ivo Rosa, na instrução da Operação Marquês, que o na altura CEO da Sonae lhe terá ligado a pedir para influenciar a CGD a votar a favor da Sonae. O ex líder socialista disse ainda que não deu qualquer orientação à CGD e que manteve sempre “uma posição neutral”.
José Sócrates começou esta segunda-feira a ser ouvido pelo juiz Ivo Rosa no âmbito da Operação Marquês, no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa.
Esta não é a primeira vez que José Sócrates faz esta acusação. O ex-primeiro-ministro disse em julho, numa resposta escrita enviada à comissão de inquérito à CGD, que o seu governo manteve neutralidade na OPA da Sonae à PT e que a única pressão veio do então presidente da Sonae. Na resposta à comissão de inquérito, José Sócrates afirmou: “Posso e devo dizer que o único concorrente que efetuou abertamente essa pressão foi a Sonae. Dias antes da assembleia-geral o presidente do Conselho de Administração da Sonae, Dr. Paulo Azevedo, telefonou-me pedindo expressamente a intervenção do governo para que a Caixa Geral de Depósitos [CGD] votasse a favor da Sonae. Reafirmei, nesse telefonema, a nossa posição de neutralidade”.
Na altura, a Sonae respondeu que “nunca pressionou, nem tentou obter tratamentos especiais”.
José Sócrates falou ainda de José Maria Ricciardi, ex-presidente do BESI, acusando-o de mentir. O ex-primeiro ministro terá dito esta segunda-feira a Ivo Rosa que as declarações de Ricciardi no processo são injuriosas e sem qualquer fundamento. E que a única explicação que tem para essas declarações é de talvez Ricciardi actuar assim, atendendo à proximidade com Passos Coelho.
À entrada do Tribunal
Esta é a quarta vez que o ex-primeiro ministro será interrogado, mas é a primeira em que será ouvido pelo juiz Ivo Rosa, nomeado em setembro de 2018 para a fase de instrução.
“Venho fazer aquilo que tenho feito ao longo destes últimos cinco anos, repor a verdade. É um longo caminho bem sei. É um longo caminho, um caminho mais árduo daqueles que fazem alegações completamente infundadas, injustas e até absurdas”, afirmou José Sócrates esta segunda-feira à entrada do tribunal.
Em 2014 foi interrogado pelo juiz Carlos Alexandre, que levou a cabo o processo até à fase de inquérito. Um ano depois foi ouvido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e, em março de 2017, foi interrogado pela dupla Rosário Teixeira e juiz Carlos Alexandre.
O ex-primeiro ministro foi constituído arguido na Operação Marquês, em 2014, e incorre em 31 crimes económico-financeiros. Entre eles, corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal qualificada. Sócrates chegou a estar preso preventivamente, em novembro de 2014, e posteriormente domiciliariamente. A pena dos crimes em que está acusado pode chegar aos oito anos de prisão. A acusação sustenta que José Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2013.
O processo Marquês conta com 28 arguidos, entre os quais 19 são pessoas singulares e nove pessoas coletivas. O juiz Ivo Rosa foi escolhido por sorteio para ser o juiz de instrução do processo Operação Marquês.
O interrogatório decorre até 31 de outubro, quinta-feira, no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa. Os próximos três dias foram deixados em aberto para a eventualidade de ser necessário prosseguir a audição.
À saída do Tribunal
Depois de quase cinco horas de interrogatório, o antigo primeiro-ministro não quis responder às muitas perguntas dos jornalistas, repetindo apenas a mesma ideia do que já tinha dito quando chegou ao tribunal.
“É muito fácil fazer alegações absolutamente infundadas, e é muito mais difícil repor a verdade. É isso que estou a fazer”, disse José Sócrates.
O antigo governante socialista vai voltar a ser ouvido na terça-feira pelo juiz Ivo Rosa.
(Artigo atualizado às 19h49 com as declarações de José Sócrates à saída do tribunal)
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