Wine Post. Comida, vinho e… networking

Primeiro encontro de desconhecidos teve lugar em Lisboa: inclui jantar feito pelo chef, curso de vinhos e conversa até às três da manhã.

Três amigos encontram-se, trocam galhardetes, falam de ideias e criam um projeto. Parece-lhe familiar? Ora bem: estamos em Lisboa, dezembro de 2016. Entre esta conversa e a realização do primeiro jantar da The Wine Post, a o ECO foi, passaram poucos dias.

Mas, como é que se monta a estrutura necessária para estes encontros de desconhecidos em tão pouco tempo? Os intervenientes explicam, entre conversas cruzadas com uma espanhola, uma sul-africana e dez portugueses que partilham uma refeição, vinhos e muitas histórias numa mesa de uma casa, em pleno Chiado?

“Os Wine Post Dinners surgem porque o Ricardo e eu partilhamos escritório, somos três empresas a trabalhar numa sala e isto dá azo a muita conversa. E muita troca de ideias”, recorda André Pinguel, consultor vínico e responsável pelo mini curso de iniciação à prova dado em pleno jantar. Mas desengane-se se pensa que vinho se aprende com a teoria: é pela prova que se constrói o conhecimento.

“Juntos, em conversa no escritório, pensámos: porque é que não fazemos jantares em tua casa, numa onda intimista? Podemos comunicar isto para amigos, para hotéis, agências de viagens, turistas que estejam a visitar Portugal, este é um ótimo programa. Numa casa como esta, no Chiado, um jantar com comida e vinhos portugueses e alguém a explicar as regiões, as castas e os terroirs é viajar no país sem sair desta sala. Rapidamente começámos a achar ótima ideia, era quase para ser no mesmo dia, fazemos, acontecemos. O irmão do Ricardo, o Filipe, é chef. Portanto rapidamente se montou aqui uma equipa. Vocês são os primeiros!”, garante André.

O chef Filipe Seguro explica os detalhes dos pratos.Paula Nunes/ECO

Na sala da casa de Ricardo Seguro, naquela noite de inverno, juntaram-se alguns conhecidos — um grupo de cinco amigos — e outros tantos desconhecidos. E, enquanto André explica os primeiros slides da apresentação já os convidados comentam as primeiras impressões dos vinhos dados à prova.

“Olho, nariz, boca. Perguntas sempre, dedos no ar, contrariar, dizer que não é nada assim, que é tudo ao contrário. Antes de continuar: copos. E focaccias”, explica André, enquanto o chef distribui um tabuleiro com focaccias acabadas de cozer e recheadas com vegetais e carnes frias.

“Provar. Há algum enófilo? Todos nós teremos algum contacto com o vinho, e por isso estas dicas vão ser mais ou menos simples. Se tiverem curiosidades vão perguntando”.

Aprendemos não só que é da prova que se faz o conhecimento sobre o vinho, como é da memória que vêm as primeiras referências a aromas. É dessas recordações guardadas na nossa memória que surgem as descrições nos contra rótulos: notas de frutos vermelhos, compotas e frutos de casca dura, bouquet, aroma a frutos exóticos.

As pessoas vêm sempre com um bocado a medo: eu não percebo nada de vinhos. O que é isso de perceber ou não perceber? É gostar, é a primeira avaliação que fazemos. E avaliar um vinho é sempre muito pessoal.

André Pinguel

The Wine Post

“Posso adorar um vinho e a pessoa ao meu lado não achar graça nenhuma porque é uma questão muito pessoal. Os nossos sentidos funcionam de maneira diferente, por isso os sabores que deteto podem não ter nada a ver com os sabores ou as cores que a pessoa ao meu lado deteta e, por outro lado, variam com o gosto pessoal. Eu vou buscar referências que a pessoa ao meu lado não tem. O segredo é desmistificar: não há que perceber de vinhos, há que provar com atenção, beber com atenção, sempre a 3/4 sentidos”, esclarece André.

"Eu posso adorar um vinho e a pessoa ao meu lado não acha graça nenhuma porque é uma questão muito pessoal.”

André Pinguel

The Wine Post

Depois das primeiras provas — e de uma ronda de perguntas e respostas — os convidados sentam-se à mesa. A ideia é que, enquanto André serve os vinhos, Filipe Seguro, o chef de serviço, explique os pratos. André conclui com outra explicação: a razão pela qual escolheu determinado vinho para cada prato. Chama-se a este processo “harmonização”.

“Dos cinco sentidos que temos, a audição é o único que não usamos — mais ou menos. A ordem é esta: visual, nariz, boca”, enumera. O copo agarra-se pelo pé, exatamente para ficar com margem para avaliar visualmente a cor do vinho. Depois, numa superfície idealmente com uma luz boa e, de preferência, sobre base branca, inclinamos o copo e olhamos para a cor. Quanto mais vivos os vermelhos do tinto, mais novo é o vinho. Quantos mais límpidos os brancos, menos idade. Os tons mais acastanhados assinalam a idade.

Entretanto, enquanto circulam os cartões com as cores e os aromas pela mesa, já os desconhecidos se tratam pelo nome. E o que, há apenas uma hora era uma sala de gente com apenas aquele jantar em comum, agora é um espaço com grande potencial de empatia… networking. É que entretanto, à medida que se comentam castas e ingredientes, já se trocam cartões de visita.

O Pedro conta sobre a pesquisa que está a fazer sobre a família, o Rui e a Cristiana revelam histórias de casais estrangeiros que vieram casar a Portugal e cujo casamento eles fotografaram e, entre todos os convidados, trocam-se dicas do melhor sítio para jantar na Ericeira, na Costa Alentejana ou na África do Sul. Trocam-se contas de Instagram, contactos e promessas: para a próxima, há mais.

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