Um brinde com vinho do Porto

A história do grupo The Fladgate Partnership é feita de boas colheitas. Hoje essas colheitas vão do vinho do Porto ao turismo passando pela distribuição. No total o grupo factura mais de 100 milhões.

Douro. Pinhão. Porto. Destinos que coincidem na vida do grupo The Fladgate Partnership, proprietário das casas do vinho do Porto Taylor’s, Fonseca, Krohn e Croft. E que, desde 1994, se cruzam também com o nome de Adrian Bridge, o CEO do grupo e responsável pela criação do The Yeatman, o luxuoso hotel vinícola do grupo.

Bridge, que chegou a fazer parte da primeira divisão de guardas da Rainha de Inglaterra (Queen’s Dragoon Guards), viria a entrar no mundo do vinho do Porto em 1994, quando fixou residência em Portugal. Adrian casou com Natasha, filha mais velha de Alistair Robertson, acionista e atual presidente não executivo da Taylor’s. A primeira missão no grupo Taylor’s do agora CEO do grupo foi a de assumir o controlo das marcas de vinhos do Porto Taylor’s e Fonseca nos mercados do Reino Unido e dos Estados Unidos. A Fonseca tinha sido adquirida em 1949, por Dick e Stanley Yeatman.

Já sob a alçada de Adrian Bridge, a casa Croft, uma empresa com mais de 400 anos, junta-se ao património. Com esta aquisição está dado o mote à criação do grupo The Fladgate Partnership. A par destes negócios, o grupo foi fazendo importantes investimentos no Douro, nomeadamente através da aquisição de várias quintas, e sobretudo através da diversificação da atividade para o turismo e para a distribuição. Em 2016, o grupo vai fechar o ano com um volume de negócios de 104 milhões de euros. Destes, 66 milhões provêm do vinho do Porto.

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Brexit penaliza contas da empresa

Na mais antiga região demarcada do mundo o Brexit não é bem visto. E o grupo The Fladgate Partnership não foge à regra, sobretudo quando o Reino Unido se assume como o seu principal mercado, fundamentalmente no que diz respeito às categorias especiais, e onde fatura 25 milhões de euros.

Em declarações ao ECO, Adrian Bridge adianta que o impacto do Brexit em 2016 será de “dois milhões de euros”, devido à alteração cambial. “Como faturamos tudo em libras e as nossas vendas para Inglaterra são realizadas sobretudo entre setembro e dezembro, tudo vai ser afetado pela desvalorização cambial”.

Ainda assim, Adrian Bridge esclarece que a visão do grupo exclui o cancelamento de qualquer tipo de investimento. “Acreditamos que esta é uma realidade a curto prazo, e o nosso negócio é gerido a médio e longo prazo. 2017 vai ser um ano complicado para a Europa com as quatro maiores economias a terem eleições e isso, provavelmente, vai afetar o valor do euro”.

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Para contrabalançar este “deslize” está o mercado dos Estados Unidos, o segundo mais importante para o grupo, onde as vendas estão a crescer a um ritmo de 9%/ano. Questionado sobre se a eleição de Donald Trump não o preocupa, o presidente executivo do The Fladgate Partnership adianta, a rir, que, “com Trump, ninguém sabe. E uma das vantagens de trabalhar com bebidas alcoólicas é que se continua a beber quer haja aspetos políticos positivos ou negativos”.

“Na realidade as bebidas alcoólicas não estão fora de moda e hoje o vinho do Porto é mais utilizado para cocktails, o que aumenta o consumo. Logo, a tendência é que o nosso volume de vendas continue a crescer”, refere Adrian Bridge.

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Apesar de o mercado nacional representar apenas 7% das contas do grupo, Adrian Bridge diz que Portugal é um mercado fundamental. “Acreditamos que continuam a existir muitas oportunidades para o vinho do Porto”. Na base desta convicção está, não apenas o turismo — onde grupo tem vindo a ganhar uma importância crescente –, mas também a possibilidade de as marcas “poderem ganhar alguma quota de mercado”.

O gestor salienta que, apesar de os volumes do vinho do Porto vendido não irem aumentar, “o impacto das categorias especiais irá crescer, à semelhança do que acontece nos outros países”. E isso beneficia o setor… e o grupo. “Acredito que, no mercado nacional, podemos passar de uma quota de 7% para os 14%, no prazo de quatro a cinco anos”.

Principais mercados do vinho do Porto em valor:

  • Reino Unido: 32%
  • Estados Unidos: 17%
  • Canadá: 8%
  • Portugal: 7%

Adrian Bridge diz que entende que nem todos dentro do setor partilham desta sua visão : “Nem todos entendem que estamos numa fase de transformação entre volume e valor do negócio. As pessoas continuam a falar de caixas e pipas, mas o que paga as contas é o dinheiro. A realidade é que esta transformação vai continuar e a tendência é a queda de volume do vinho do Porto, o que tem impacto profundo para os lavradores”, garante.

Mas para o grupo é melhor? “Não é só para o grupo, é melhor para o país. É melhor para o vinho do Porto e para o turismo. Portugal não pode ser visto como o país que é bom porque vende coisas baratas”.

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Objetivo? Crescer sempre

Adrian Bridge acredita que a “consolidação dentro do setor do vinho do Porto está mais ou menos feita portanto, a partir de agora, o crescimento tem de ser por via orgânica”. Para Bridge, “o grupo não cresceu apenas por aquisições: compramos outras empresas mas, algumas vezes nem compramos as marcas, como no caso da ‘Osborne’, por exemplo”.

"A consolidação dentro do setor do vinho do Porto está mais ou menos feita portanto, a partir de agora o crescimento tem de ser por via orgânica.”

Adrian Bridge

Presidente executivo do grupo The Fladgate Partnership

Ainda assim, o diretor geral da The Fladgate Partnership não descarta a hipótese: “Se existirem empresas que querem vender vamos analisar o assunto, quando encontramos valor compramos, quando não, não compramos”.

O foco do grupo mantém-se no vinho do Porto, mas o turismo e a distribuição são áreas com cada vez mais expressão. Na hotelaria, para além do The Yeatman — inaugurado em 2010 –, o grupo adquiriu em 2015 o Vintage House Hotel, no Pinhão e, já este ano, o Hotel Infante Sagres, no coração da baixa do Porto.

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Expansão do The Yeatman

O grupo investiu 31 milhões de euros em 2016: deste montante, 19 milhões foram canalizados para o turismo e 5 milhões para o vinho do Porto, nomeadamente com a nova sede e a nova área técnica com linhas de engarrafamento e armazém.

Já no turismo, o montante foi repartido pela compra do Infante Sagres, um “refrescamento” no Vintage House, um novo centro de visitas na Taylor’s e ainda algumas melhorias no The Yeatman (novas suítes e um jardim de inverno). De resto, o grupo adquiriu também o terreno adjacente ao The Yeatman, para onde irá proceder à expansão do hotel com mais 26 quartos, num investimento de 5 milhões de euros. Do bolo de investimento fazem ainda parte os 750 mil euros afetos aos barcos rabelos que fazem a travessia entre Gaia e Porto.

“Vamos expandir o The Yeatman com mais 26 quartos”, diz Adrian Bridge, o homem que se lembra de ser olhado como o “maluco por dizer que ia construir um hotel de cinco estrelas em Gaia a 300 euros por noite”. Adrian Bridge acrescenta que “riam-se e diziam ‘é só o Porto’. Agora vamos expandir o hotel”. O The Yeatman que conquistou este ano a segunda estrela Michelin: “é um orgulho e um reconhecimento e dá prestígio, obviamente”, refere o gestor.

O orgulho do gestor está bem patente nos números. O turismo é responsável por um volume de negócios de 21 milhões de euros. Cerca de 17 milhões são afetos aos hotéis. “A comparação com o ano passado não é linear porque as novas unidades não consolidaram o ano todo mas, em 2015, tínhamos vendas de 11,5 milhões de euros. Logo, a diferença são seis milhões de euros e aqui está refletido o aumento do preço que fizemos no The Yeatman”.

Fora de questão está, para já, comprar mais algum hotel. “Temos quatro hotéis, contando com o Hotel da Estrela em Lisboa e que é uma concessão estatal até 2023. Portanto estamos satisfeitos”.

Temos clientes do The Yeatman que viajam em low cost mas temos muito clientes que se deslocam no seu avião privado.

Adrian Bridge

CEO The Yeatman

Adrian Bridge diz que o turismo em Portugal e, sobretudo no Porto, tem “margem para continuar a crescer“. Para o CEO do The Yeatman, “os portuenses têm mais confiança no seu produto e percebem que, na realidade, o Porto é um sítio muito especial”. Bridge adianta mesmo que “se tivesse recebido um euro por cada pessoa a quem dizia que ia fazer um hotel em Gaia para cobrar 300 euros a noite” podia reformar-se.

O homem forte do The Yeatman recusa também que o Porto seja um destino low cost: quem afirma isso “não entende o turismo”. E avança: “O avião é apenas um meio de transporte, a única coisa é que precisamos de ligações e essas, felizmente, cada vez temos mais”.

De resto, deixa escapar uma confidência: “Temos clientes do The Yeatman que viajam em low cost mas temos muito clientes que se deslocam no seu avião privado”.

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E, na defesa da cidade em que escolheu viver, adianta: ” O Porto é um local único. Agora só temos de conseguir que os turistas que passam em média 2,6 noites no Porto passem 3,6 noites”. E deixa a dica: “Temos de prolongar a época e sobretudo diversificar a oferta, porque temos falta de pensamento estratégico: quem pernoita nos hotéis, visita museus, faz compras, toma café, vai a restaurantes…”.

Otimista por natureza, Bridge vê um futuro risonho para o grupo que gere: “Penso que temos um bom futuro, temos muitas oportunidades, projetos e visão. Empregamos seiscentos funcionários em full-time e 100 temporários por mês e em todas as nossas áreas de negócio estamos a crescer. Não posso deixar de ser otimista”.

Cem milhões de investimento para os próximos cinco anos

É a pensar nessa diversificação que o grupo tem previsto um grande investimento para os armazéns em Gaia, “na margem sul do Douro”. O projeto, que ainda não está fechado, passa por um investimento de 100 milhões de euros repartido pelos próximos cinco anos. A ideia é criar uma “cidade do vinho” que contemple museus, restaurantes, cafés. No fundo, um “catalisador da zona histórica”. O projeto já tem PIP aprovado na Câmara, mas ainda não está definido se será feito apenas com capitais próprios ou se irão recorrer a parceiros.

“Vai depender obviamente dos nossos acionistas. Pessoalmente, tinha preferência em fazê-lo sozinho porque é mais fácil de gerir. Mas isso não é o mais importante. O mais importante é podermos ajudar a expandir o mercado e o destino, foi o que fizemos com o The Yeatman”.

O grupo conta ainda com uma área afeta à distribuição de vinhos On-Wine e Heritage Wines, e que fatura 21 milhões de euros.

Adrian Bridge refere que a empresa vende vinho do Porto em todo o país, mas que tem também outros vinhos de qualidade. “É um negócio que corre bem e que está em crescimento”. Ainda nessa área, o grupo conta com o Grossão, “um negócio mais difícil porque tem a concorrência das grandes superfícies como a Jerónimo Martins, mas que ainda assim vai inovando e criando o seu lugar. Continuamos a explorar maneiras de criar valor”.

 

Nova forma de visitar as Caves

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Adepto da diversificação e sempre atento a novas oportunidades, Adrian Bridge implementou uma nova forma de visitar as caves da Taylor’s. A ideia foi criar um centro de visitas interativo, onde cada visitante — mediante um áudio guia, à semelhança do que acontece em vários museus — faz a visita ao seu ritmo.

Há vídeos e muitas fotografias a contar a história da marca. A ideia é que o visitante passe entre cerca de 20 minutos a duas horas entre pipas, tonéis e a zona vintage. No final, claro, tem à sua espera um cálice de vinho do Porto. Com o novo centro, Adrian subiu o preço da visita às Caves para os 12 euros, quase o dobro do que é praticado pela concorrência. Mas assegura que os turistas não se queixam: o centro vai fechar o ano com receitas de 2,5 milhões de euros.

Rabelas ou a nova forma de cruzar as margens do Douro

As Rabelas são embarcações de desenho inspirado nos típicos barcos rabelos que transportavam as pipas de vinho do Porto do Alto Douro até Gaia e que hoje permitem serviço de ’táxi turístico’ entre as margens do Porto e Gaia por apenas 3 euros. Mais uma vez, a ideia veio do inglês que lidera o The Fladgate Partnership. “Os turistas nem imaginam que isto é uma novidade no Douro, para eles isto faz sentido que existisse desde sempre”, diz.

As rabelas foram um investimento de 750 mil euros e o retorno deverá ter lugar dentro de seis anos.

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