No investimento sustentável, “não vale a pena fingir que as petrolíferas não existem”, diz diretor europeu do CFA Institute
Gary Baker, diretor-geral para a Europa do CFA Institute, defende que a aposta em critérios de investimento ESG não irá representar o fim do financiamento a combustíveis fósseis.
O investimento sustentável é um dos temas que mais importância tem ganho nos mercados financeiros europeus, com 30 biliões de dólares a serem alocados a dinheiro verde, só no ano passado. Gary Baker, diretor-geral para a Europa do CFA Institute, concorda que esta é uma das tendências que vai marcar 2020, mas rejeita que seja o fim do financiamento a setores fósseis como o petróleo.
“No contexto de ESG [critérios ambientais, sociais e de governação], o nosso papel é tentar fazer com que a sociedade seja mais verde e a economia mais sustentável ou é desenhar uma linha de separação que impeça de financiar industrias vistas como poluentes? É essa a questão fundamental. Estamos cá para transitar ou para excluir?”
A questão foi levantada por Baker, em entrevista ao ECO durante uma visita a Lisboa para um encontro da CFA Society Portugal, a divisão nacional da associação de chartered financial analysts (CFA). “É um tema quente, particularmente na Europa”, diz sobre o investimento socialmente responsável.
O interesse de governos, reguladores e Comissão Europeia, fizeram da sustentabilidade uma prioridade, enquanto o apetite dos investidores deu um forte impulso ao tema nos últimos anos. “Políticos e governos estão a pressionar e há uma grande base de investidores que o esperam, portanto é inevitável que a indústria de investimento dê resposta. Não podemos ignorá-lo”, referiu Baker.
Mas a indústria ainda se está a adaptar. A tendência inicial foi de exclusão e consistia em retirar dos portefólios determinados setores, mas esta transitou para o engagement, ou seja, acompanhamento da evolução das empresas nos vários parâmetros. E é isso que tem permitido uma maior abrangência nos critérios, por forma a incluir, por exemplo, petrolíferas.
Mais tecnologia e menos utilities numa carteira verde
O analista financeiro reconhece que petrolíferas como a Shell ou a BP têm feito grandes investimentos em energias renováveis e alternativas, mas o paradoxo mantém-se: a área de atividade é o petróleo. O mesmo acontece com a maior entrada em bolsa de sempre, fechada em 2019: a petrolífera Saudi Aramco.
“Sabemos que, em última análise, temos de perceber o que é que as empresas estão a fazer”, afirmou Baker, apontando para setores como os combustíveis fósseis. Uma carteira de investimentos mais verde deverá ter maior peso de tecnologia e menos de utilities, mas poderá ter um pouco de tudo.
“Não vale a pena fingir que não existem. É preciso encontrar formas de ajudar a minimizar o impacto se queremos cumprir as metas da COP 25 [Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas]. Não vai acontecer, a menos que abordemos o tema dos combustíveis fósseis. Não há qualquer objetivo em simplesmente excluí-los e não falar sobre isso. Temos de nos envolver e lidar com o problema“.
Essa evolução abrange investidores, empresas e analistas. O diretor-geral para a Europa do CFA Institute acredita que o research já analisava tanto as vertentes social — no que diz respeito ao envolvimento das empresas com as comunidades –, bem como à de governação — com foco na gestão e nos funcionários. Assim, é na vertente ambiental que é mais necessário evoluir.
“Não é algo para que os analistas olhem durante muito tempo, mesmo em setores como energia ou utilities“, reconheceu Baker. “E é para o ambiente que a atenção e o ativismo se tem virado. É aqui que as empresas realmente terão de responder e de fazer a diferença“, acrescentou.
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