“Estamos a andar para trás” na economia circular, avisa ministro do Ambiente
Matos Fernandes garante que, no último ano, o mundo foi menos circular: de 9,1% passou para apenas 8,6%. "É um valor invulgarmente baixo e preocupante", frisa o ministro.
O ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, deixou esta segunda-feira um recado ao setor financeiro sobre o seu papel ainda marginal na transição energética e climática em curso. E alertou para indicadores que mostram que essa mesma transição está longe de acontecer ao ritmo desejável.
Pior: “Estamos a andar para trás”, disse o ministro na cerimónia de opening bell que marcou a abertura do mercado na Euronext Lisbon e foi protagonizada pelo lançamento do Capital Verde, a nova plataforma especializada em Economia verde e finanças sustentáveis do jornal online ECO.
“Discordo que há já uma revolução no que ao financiamento sustentável diz respeito: confesso, não dei por ela. Sim, pode estar latente. Mas se virmos alguns relatórios que olham não para o futuro mas para o passado descobrimos que no último ano afinal o mundo foi menos circular. Nós que já fomos 9,1% circulares, este último ano fomos apenas 8,6%. É um valor invulgarmente baixo e preocupante. A intensidade de uso de recursos numa economia a crescer é cada vez maior e isso é preocupante. Temos de arrepiar caminho”, sublinhou Matos Fernandes.
Apesar disso, frisou o ministro, nem tudo são más notícias: “Já reduzimos as emissões em 21%. De 2018 para 2019, quando a Europa reduziu emissões em 3%, nós reduzimos em 9%. A serem verdadeiros os números revelados pelas ONG no início de 2020, Portugal reduziu só no ano passado as emissões em cinco megatoneladas de CO2, num total de 65 megatoneladas de CO2 emitidas”. O governante lembrou ainda que Portugal foi o primeiro país do mundo a declarar a neutralidade carbónica em 2050 e a transformar esta afirmação num roteiro no qual, “dos três cenários estudados, o que mais garante a probabilidade de Portugal ser neutro em carbono é aquele em que a economia mais cresce”.
No início da cerimónia, Isabel Ucha, presidente da Euronext, garantiu que “estamos a viver uma revolução relativamente à forma como os produtos financeiros estão a ser reposicionados”. O ministro garante que não deu ainda por esta “revolução” e que “os números apresentados pela presidente da Euronext referiu são verdadeiros para a Europa, mas para Portugal ainda não”.
“O número que temos no nosso Roteiro para a Neutralidade Carbónica é de um investimento suplementar à volta de 2000 milhões de euros em cada ano” para atingir as metas climáticas para 2050, disse Matos Fernandes, aproveitando para se dirigir diretamente aos responsáveis dos bancos presentes na audiência: “Não tenho a mais pequena dúvida da importância do papel que o sistema financeiro tem aqui. Por isso faço um apelo continuado de responsabilidade ao sistema financeiro. Não acredito que mercado vá conseguir resolver os problemas. Até porque os produtos hoje transacionados estão longe de incorporar o custo ambiental da sua produção”.
No evento desta segunda-feira estiveram presentes, além do ministro do Ambiente e Ação Climática João Pedro Matos Fernandes, Isabel Ucha, CEO da Euronext Lisbon e Gabriela Figueiredo Dias, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Os setores empresarial e financeiro também compareceram no opening bell, com as presenças de António Mexia da EDP, Miguel Maya do BCP, Rodrigo Costa da REN e João Bento dos CTT.
Na visão do ministro do Ambiente e Ação Climática o papel da banca é “absolutamente insubstituível” para o desafio que temos pela frente. “Temos metas claras, sabemos que próxima década é chave. O setor eletroprodutor aqui representado também é fundamental. Vamos chegar a 2030 com 80% da eletricidade que consumimos vinda de fontes renováveis. Temos de reduzir em 40% as emissões dos transportes, vamos ter de investir os 2000 milhões a cada ano, e 85% deste investimento é das empresas e das famílias. Caberá ao Estado fazer investimentos nas infraestruturas de transportes, mas o resto cabe às empresas e famílias, na eficiência energética dos edifícios, na mobilidade. Isto é investimento privado e o sistema financeiro tem um papel insubstituível. Ainda bem que teremos fundos comunitários para alavancar estes processos, porque podem ser uma garantia de segurança. A quem uma empresa ou uma família recorre? É à banca, não é aos fundos comunitários”, disse Matos Fernandes.
Referindo-se ao Capital Verde, o ministro sublinhou o papel fundamental da educação e da informação, centradas na dimensão das políticas públicas e focadas na relevância que empresas têm nesta transformação e das oportunidades de negócio.
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