BCE pode descer ainda mais juros. “Bancos centrais estão a testar soluções”, diz JP Morgan

Gestora de ativos está cautelosa face às expetativas para 2020 devido à incerteza política, mas espera que os bancos centrais continuem os estímulos. Admite mesmo que aprofundem as estratégias atuais.

O Banco Central Europeu (BCE) vai continuar a estimular a economia e as valorizações nos mercados financeiros, segundo o cenário base da gestora de ativos do JP Morgan. Está, no entanto, em aberto se a instituição liderada por Christine Lagarde poderá aprofundar as já existentes como diminuir ainda mais as taxas de juro (em mínimos históricos), ou mesmo explorar novas alternativas como a compra de ações ou

“Chegámos a 2020 numa situação muito diferente da que tínhamos há um ano. Os mercados começaram o ano com grande otimismo devido a dois fatores: o posicionamento expansionista dos bancos e o cenário político mais favorável”, explica Karen Ward, chief market strategist para a Europa da JP Morgan Asset Management, num encontro com jornalista em Lisboa.

Se quanto à estabilidade política discorda da posição — considerando que há ainda fatores de incerteza, nomeadamente com as eleições presidenciais nos EUA e a guerra comercial –, no que diz respeito aos bancos centrais concorda com o otimismo. “Os bancos centrais vão continuar a testar soluções, o que vai apoiar o apetite pelo risco“, afirma.

O BCE, que mudou de presidente no final do ano passado, tem atualmente em curso um pacote de medidas para continuar a alimentar o crescimento económico na Zona Euro, que inclui taxas de juro em mínimos históricos (com os depósitos dos bancos mesmo com juros negativos) e um mega programa de compra de dívida. Com a economia a desacelerar — e dependendo do impacto de fatores como o coronavírus –, Ward acredita que a situação não irá inverter-se e só poderá ser alargada.

"As taxas de juro negativas estão para ficar. Servem para manter o valor da moeda sob pressão e os custos de financiamento dos países baixos. Não estamos necessariamente no nível mais baixo de juros possível.”

Karen Ward

Chief market strategist para a Europa da JP Morgan Asset Management

“As taxas de juro negativas estão para ficar. Servem para manter o valor da moeda sob pressão e os custos de financiamento dos países baixos”, diz. “Não estamos necessariamente no nível mais baixo de juros possível“, diz a estratega, que antecipa que Lagarde possa cortá-los ainda mais, mas não através da taxa de referência. As atenções estão viradas para a taxa dos depósitos, atualmente em -0,5%. Admite também que o BCE possa alargar a compra de dívida e, em última análise, passe a adquirir ações (apesar de esta opção estar no fundo da lista de possibilidades).

“Nenhuma das soluções é algo que queiram fazer portanto vão ver qual é o mal menor”, diz, referindo-se às críticas que a estratégia do BCE tem recebido, nomeadamente o impacto para a rentabilidade da banca ou o desvio do preço dos ativos (incluindo do imobiliário) face ao risco.

Estas críticas são uma das razões para Lagarde ter lançado, em janeiro, uma revisão à estratégia do banco central, incluindo a forma de atuação, ferramentas, comunicação ou eficácia. A expectativa é que a atual meta de inflação — próxima, mas abaixo de 2% — seja um dos principais pontos de análise, o que terá implicações nas ferramentas já usadas pelo banco central e na adoção de novos instrumentos.

É a primeira vez desde 2003 que o BCE procederá a mudanças na estratégia e acontece numa altura em que também a Reserva Federal norte-americana faz o mesmo exercício. “Em alguma ocasião, tanto a Fed como o BCE vão ter de transitar para uma meta de inflação média“, referiu a estratega do JP Morgan, apontando para as dificuldades dos bancos centrais em atingir a atual meta.

Se já não conseguem chegar à meta agora, qual seria o interesse em admitir que iriam permitir uma inflação acima desse objetivo? “É uma questão de expectativas do mercado. [A Fed e o BCE] estão a ficar crescentemente preocupados em ficarem presos. Todos os bancos centrais têm pesadelos com o Japão”, onde a inflação é persistentemente baixa”, acrescenta.

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