Ação dos bancos centrais lança pânico nos mercados. Dólar, bolsas e petróleo afundam

Bancos centrais anunciaram uma ação concertada para manter a liquidez da moeda norte-americana, mas os investidores encaram a decisão com alarmismo.

Jerome Powell reforçou o arsenal para combater o impacto do coronavírus na economia, mas lançou o pânico entre os investidores. O presidente da Reserva Federal (Fed) norte-americana anunciou, este domingo, um pacote extraordinário de medidas que inclui um corte de juros, compra de dívida e uma ação concertada com outros bancos centrais (incluindo o Banco Central Europeu) para manter a liquidez do dólar. A reação está a ser expressiva, com o dólar, as bolsas globais, o petróleo e os juros das dívidas em queda.

“A Fed tomou quase todas as ações possíveis dentro do mandato legal que tem, um sinal de que a circunstância é extremamente séria”, alerta Wen-Wen Lindroth, analista sénior da Fidelity, lembrando que a última vez que a instituição atirou inesperadamente os juros para próximo de zero foi aquando da falência do Lehman Brothers. “Se compararmos com as medidas que a Fed usou durante a grande crise financeira, o único componente que falta é o programa de Commercial Paper Funding Facility (CPFF)“.

As medidas têm, segundo Powell, como objetivo estabilizar o sistema financeiro e apoiar os fluxos de liquidez que espera seja repassada para ajudar empresas e trabalhadores afetados pelo surto de coronavírus. No entanto, o impacto está a ser, esta segunda-feira negativo nos mercados financeiros.

Dados da Reuters indicam que o stress nos mercados monetários ainda não está nos níveis da crise financeira (quando os bancos se fecharam ao financiamento entre si), mas está a aumentar e a procura por dólar a aumentar. Após a decisão de seis bancos centrais de criarem uma rede de segurança para manter a liquidez da moeda norte-americana, esta deprecia-se quase 2% contra o iene japonês e 0,7% contra o euro.

Os mercados têm estado muito voláteis e a reação inicial ao anúncio da Fed foi negativa“, sublinha Wen-Wen Lindroth, apontando para o sentimento negativo generalizado. O petróleo afunda — o Brent de referência europeia tomba 8,5% para 30,96 dólares por barril e o crude WTI 5,6% para 29,94 dólares — e os futuros de Wall Street sinalizam quedas superiores a 5%.

Na Europa, as ações acompanham as perdas. O Stoxx 600 perde mais de 8% para o valor mais baixo desde 2012 e as bolsas de França e Espanha a liderarem as perdas após os dois países terem seguido Itália nas medidas de combate ao coronavírus. Em Portugal, o PSI-20 perde 6% para 3.605,42 pontos, com o BCP a afundar mais de 10% para 0,1008 euros (o valor mais baixo de sempre), a Galp Energia a perder mais de 5% para 8,098 euros e a EDP a recuar 7% para 3,311 euros.

As perdas nas ações devem-se à incerteza sobre o impacto económico do surto, que é exacerbado pela ideia de que as medidas de emergência poderão indicar que este será ainda maior que o esperado. O Credit Suisse espera novas revisões em baixa das perspetivas de crescimento económico global, mas considera que os estímulos monetários irão dar um “contributo significativo” para uma recuperação.

A questão agora é se os mercados irão conseguir ultrapassar a inversão e não aprofundar o pânico se o número de infeções e a taxa de mortalidade agravar“, diz Michael Strobaek, Global Chief Investment Officer do Credit Suisse. “Acredito que nas próximas três a cinco semanas será um grande desafio. A escala da pandemia poderá penalizar ainda mais a confiança dos investidores. Os meus colegas e eu não estamos plenamente convencidos que a tempestade nos mercados esteja a passar. De facto, ainda vemos distorções nos mercados pela simples razão que o pior da pandemia ainda está para chegar em parte da Europa e dos EUA”, acrescenta.

Esse pânico está a levar os investidores para ativos refúgio, como a dívida da Alemanha ou dos EUA. A yield das Bunds alemãs a dez anos recua para -0,546%, enquanto a das Treasuries com a mesma maturidade cai para 0,768%. Em sentido, o juro da dívida portuguesa a dez anos sobe para 0,94%, no valor mais elevado desde maio de 2019.

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