Com recessão prevista pelo Banco de Portugal, PIB regressa a níveis anteriores à crise financeira
A recessão de 5,7% prevista pelo Banco de Portugal no cenário adverso retirará 11,5 mil milhões de euros ao Produto Interno Bruto (PIB) num só ano, levando-o para um nível inferior ao de 2007.
Foi apenas em 2018 que a economia portuguesa conseguiu recuperar (e superar) o nível de produção que registava antes da crise financeira de 2008. Mas essa conquista vai agora evaporar-se com o choque económico do coronavírus, segundo as mais recentes previsões do Banco de Portugal. A concretizar-se a recessão prevista no cenário adverso, será destruída a riqueza “acrescentada” durante os últimos dois anos e meio e o PIB ficará abaixo do nível de 2007.
A contração do PIB prevista pelo banco central no boletim económico de março é de 5,7% em 2020, no cenário adverso, o que corresponde a uma queda de 11,5 mil milhões de euros no PIB, que terminou 2019 nos 202,4 mil milhões de euros. A intensidade dessa recessão num só ano levaria o PIB para os 190,9 mil milhões de euros, o que, na prática, “apaga” o crescimento de 2019, de 2018 e de cerca de metade de 2017 (ver gráfico).
As contas, que são feitas com base nos dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram que o PIB voltaria para um nível inferior ao de 2007 ou 2008, período que antecedeu a anterior crise financeira. Recorde-se que uma contração do PIB de 5,7% será superior à registada no pior ano do ajustamento da troika: em 2012, o PIB encolheu 4%.
Ainda assim, no pior cenário perspetivado no boletim — o Banco de Portugal não exclui que possa ser ainda mais adverso — o PIB continuaria acima do nível de 2016 (186,5 mil milhões de euros) e, por isso, ainda relativamente longe dos valores de riqueza anual a que se chegou durante a crise anterior e que remontava ao início do século.
Os números mostram que Portugal arrisca interromper de novo o desenvolvimento económico após uma década “perdida”. Mas, ainda para mais neste caso, tal dependerá também da rapidez e intensidade da recuperação económica. A contração de três anos durante a troika demorou seis anos a ser recuperada.
Pouco depois de recuperar da troika, PIB volta a cair
Esta análise é feita com base nos dados do Produto Interno Bruto (PIB) em volume, isto é, descontando a variação dos preços. Ou seja, este dado permite perceber exatamente se a economia está ou não a produzir mais (quantidades transacionadas entre agentes económicos), independentemente da evolução da inflação.
Contudo, é de notar que no cenário base, onde o Banco de Portugal prevê uma recessão de 3,7%, a conclusão não é tão dura: o PIB perderia praticamente dois anos (2018 e 2019) de crescimento, mas ficaria acima do nível de 2007 e 2008, não se perdendo, portanto, a recuperação feita nos últimos anos. Neste caso, a perda de riqueza seria de 7,5 mil milhões de euros, terminando 2020 nos 194,9 mil milhões de euros.
A dimensão da queda da economia é importante não só porque mostrará até que ponto as empresas e os cidadãos foram afetados por esta crise pandémica, mas também terá grande influência na evolução da dívida pública, o indicador mais vigiado pelos investidores e pelas agências de rating. Com o valor do endividamento público (numerador) a aumentar dada a subida do défice orçamental e o PIB (denominador) a cair, o rácio da dívida pública poderá subir de forma significativa.
PIB recupera em 2022 no cenário base, mas precisará de mais tempo no cenário adverso
Tendo novamente por base as previsões do Banco de Portugal, agora para 2021 e 2022, é possível perceber em cada um dos cenários quando é que o PIB conseguirá recuperar da recessão de 2020.
No cenário base (-3,7%), o BdP prevê que o PIB recupere 0,7% em 2021 e 3,1% em 2022. A confirmarem-se todas estas previsões, o PIB voltaria em 2022 para o patamar em que terminou 2019.
Já no cenário adverso (-5,7%), o BdP prevê que o PIB recupere 1,4% e 3,4% em 2022. A concretizarem-se todas estas previsões, o PIB mesmo assim não conseguiria recuperar em dois anos a “pancada” de 2020, mas já estaria perto.
Recorde-se que o PIB representa o resultado final da atividade económica em Portugal durante um determinado período, não correspondendo à produção total mas sim “à noção de produção líquida ou de valor acrescentado”, como explica o INE.
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