Henrique de Castro, ex-COO da Yahoo!, paga 300 milhões pelo grupo dos Hotéis Real
O atual administrador independente do Santander, Henrique de Castro, adquiriu, através da empresa Palminvest, o Grupo Bernardino Gomes, incluindo os Hotéis Real.
Mais de uma década depois de ter perdido o fundador, o Grupo Bernardino Gomes acabou vendido. A Palminvest, da qual faz parte o ex-COO da Yahoo! e atual administrador independente do Santander, Henrique de Castro, desembolsou cerca de 300 milhões de euros neste negócio, que inclui dez hotéis do Grupo Hotéis Real e ainda vários apartamentos, escritórios, armazéns e terrenos. Mas, com a atual crise que está a afetar o setor do turismo, que deixou todos os hotéis de portas fechadas, os novos donos admitem investir mais uma dezenas de milhões.
A operação desenrolou-se por mais de um ano e ficou fechada em fevereiro. O Grupo Bernardino Gomes, fundado na década de 70 por um empresário português com o mesmo nome, foi vendido à empresa de gestão hoteleira Palminvest (detentora de seis hotéis Holiday Inn Express), de acordo com informação adiantada ao ECO por fontes do mercado imobiliário e confirmada pela própria Palminvest.
Ao todo, foram investidos cerca de 300 milhões de euros, um valor que, para o administrador da Palminvest, Eurico de Almeida, “não é caro, nem barato”, acabando por ser um “negócio correto para ambas as partes”. Ao ECO, o empresário explicou que este negócio serviu para “complementar a operação” da Palminvest, sobretudo a nível hoteleiro. “Foi uma forma de podermos crescer em todos os segmentos de mercado e de termos uma distribuição geográfica muito relevante”, disse.
Mas, ao lado de Eurico Almeida, está um nome de peso: Henrique de Castro, especialista no mercado tecnológico e digital, confirmou ao ECO o administrador da Palminvest. Henrique de Castro é sócio de Eurico Almeida e, até ao verão do ano passado, de acordo com o Portal da Justiça, foi presidente da Palminvest, acabando por renunciar ao cargo em julho, devido ao facto de pertencer à administração de vários grupos internacionais.
Henrique de Castro Já ocupou cargos de topo em empresas como a McKinsey&Company, Google e Dell. Mas tornou-se mais conhecido depois de ter sido despedido da Yahoo! ao fim de um ano a desempenhar funções de COO, levando consigo uma indemnização de cerca 30 milhões de euros. Em fevereiro do ano passado foi contratado como administrador independente pelo Santander em Espanha. O ECO tentou contactá-lo mas, até ao momento desta publicação, não obteve qualquer resposta.
Coronavírus requer investimento adicional até 20 milhões
Ao comprar todo o Grupo Bernardino Gomes, a Palminvest passa a ser proprietária de um portefólio variado de imóveis. De acordo com o site do Grupo, contam-se mais de dois mil apartamentos, mais de 100 moradias, mais de 500 lojas, mais de 20 escritórios, 15 armazéns, mais de 60 lotes de terreno e 12 hotéis. Contudo, os ativos mais valiosos deste “pacote” são os Hotéis Real.
Ao todo, esta cadeia hoteleira conta com cerca de 1.500 quartos localizados em Lisboa e no Algarve, duas zonas que, para a Palminvest, são bastante relevantes. Daqui fazem parte o Grande Real Villa Itália Hotel & Spa (Cascais), O Hotel Real Oeiras, o Hotel Real Palácio (Lisboa), o Hotel Real Parque (Lisboa), o Real Residência Apartamentos Turísticos (Lisboa), o Maxime Hotel Lisbon, o Grande Real Santa Eulália Resort & Hotel Spa (Albufeira), o Real Bellavista Hotel & Spa (Albufeira), o Real Marina Hotel & Spa e o Real Marina Residence (ambos em Olhão).
Com esta aquisição, disse ao ECO Eurico Almeida, a Palminvest será “provavelmente o grupo hoteleiro com mais quartos concentrados em Lisboa e Porto”. Dado que, exemplificou, cadeias como o Grupo Pestana e o Grupo Vila Galé têm os seus hotéis mais dispersos pelo país.
Mas o portefólio traz ainda outras duas unidades hoteleiras: o Albufeira Jardim II, com 52 apartamentos, e o Bellavista Avenida, com 34 apartamentos, ambos localizados em Albufeira. Contudo, com 12 hotéis acabados de chegar à Palminvest, os novos donos já sentem os impactos do coronavírus, dado que todas as unidades estão fechadas, explicou Eurico Almeida. É por isso que o administrador admite que o investimento não ficará por aqui.
“Vamos ter de pôr mais dinheiro. Ao fim ao cabo, vai sair-nos mais cara a compra”, diz o responsável, adiantando que em cima da mesa estão “vários cenários”. “Até ao final do ano, ou ate março de 2021, não vamos ter propriamente uma recuperação e, por isso, vamos ter de investir entre 15 a 20 milhões de euros”, disse ao ECO.
Novos donos amortizam “mais de 30% das dívidas”
Mas nem tudo o que este negócio trouxe para a Palminvest foi bom. Isto porque, depois do falecimento do fundador João Bernardino Gomes, em 2006, quando o Grupo passou para as mãos de familiares, já vinha com dívidas. Ao ECO, fontes do mercado imobiliário adiantaram que em causa estão dívidas com, pelo menos, BCP, Novo Banco e Caixa Geral de Depósitos. E, por isso, a maior parte destes 300 milhões de euros foi usada para liquidar parte destas dívidas.
Ao ECO, Eurico Almeida confirmou a existência destas dívidas, mas referiu-se às mesmas como algo comum. “Todos os grupos hoteleiros têm uma estruturação de dívida elevada”, disse, especificando que a Palminvest “não comprou as dívidas, mas comprou sim o Grupo que vinha com dívidas”.
“Obviamente que tivemos de apostar dinheiro para amortizá-las e estruturar todo o Grupo Bernardino Gomes financeiramente”, completou, revelando que uma parte dessa dívida está amortizada. “Entre hotelaria e imobiliário, essa dívida já não é assim tanta. Amortizámos, pelo menos, mais de 30%”, disse, sem adiantar valores.
O ECO tentou contactar o Grupo Bernardino Gomes mas, até ao momento desta publicação, não obteve qualquer resposta.
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