Bem-estar em período de quarentena, será possível?

A dor acontece quando o modelo que temos do mundo, aquilo que esperamos que a nossa vida seja, não está em sintonia com os acontecimentos atuais. Por outro lado, o sofrimento ocorre quando, perante um facto ou acontecimento, nos sentimos impotentes. Neste momento é natural sentirmos dor pois a realidade que estamos a viver, a pandemia, não encaixa no nosso modelo.

A dor é inevitável, pois não controlamos os acontecimentos externos; mas o sofrimento é opcional, pois controlamos os acontecimentos internos, ou seja, aquilo que sentimos. Todos nós temos a capacidade de minimizar o impacto desta situação. Como dizia Francisco de Assis, “… dai-me força para mudar o que pode ser mudado… resignação para aceitar o que não pode ser mudado… e sabedoria para distinguir uma coisa da outra…”

“Força para mudar o que pode ser mudado”. E o que pode ser mudado é o nosso estado emocional. Podemos viver num estado emocional favorável, ou num estado emocional desfavorável. Neste sentido existem um conjunto de ações que podemos adotar para criar um emocional mais favorável:

• Atividades de bem-estar: um dos exercícios que tenho feito com os meus clientes de coaching é pensar em detalhe como eram os seus dias antes da pandemia. Enumeramos as atividades que lhes davam prazer — muitas vezes são pequenas coisas às quais nem davam muita importância — e depois pensamos de que forma podemos replicar as mesmas atividades na realidade atual. Introduzir pequenos momentos de prazer no dia-a-dia é essencial para o nosso bem-estar.
• Comunidade: é muito importante não perder o contacto com aqueles que são realmente importantes para nós. Existem muitas formas de o fazermos, através de jantares online, gin parties, clubes de leitura, aulas de desporto, etc..
• Notícias: a toda a hora e das mais diversas formas, estamos a ser invadidos por notícias. Vários estudos têm demonstrado que este excesso de informação pode aumentar os sintomas de stress, ansiedade, depressão, insegurança e medo. Embora seja importante estarmos informados, devemos diminuir o tempo de exposição. O ideal seria escolher um único horário por dia, que deve ser adaptado ao nosso estilo de vida, mas que nunca deve ser antes de dormir.
• Exercício físico: reduz os níveis de ansiedade e depressão, melhora o humor e aumenta a autoestima e a sensação de bem-estar. Nada disto é novidade para todos nós mas, neste momento, é ainda mais relevante para o nosso bem-estar emocional. Por isso, se ainda não o fazias, esta é sem dúvida a altura ideal para o introduzires no teu dia-a-dia, seja dentro ou fora de casa.
• Sol: a luz do sol tem um impacto enorme sobre a nossa saúde mental e bem-estar geral. É essencial, sempre que possível, estarmos ao sol pelo menos 10 minutos por dia. Se tens um jardim ou varanda, perfeito. Se não, podes sempre fazê-lo quando sais para fazer exercício físico.
• Música: Platão já dizia que “a música é para a alma o que a ginástica é para o corpo”. O nosso corpo reage às vibrações dos sons, o que desperta emoções. A música, pode e deve ser usada para alterar o nosso estado emocional. Proponho que cries uma playlist de músicas que gostas — de preferência músicas de que sabes a letra, pois quando cantamos a nossa mente está ocupada neste processo e não tem a capacidade de se focar noutros temas que nos causam dor, medo ou stress. Esta playlist deve ter músicas alegres e deves ouvi-la preferencialmente alto para potenciar o efeito da vibração dos sons no teu corpo.
• Deadline: embora nenhum de nós saiba exatamente quando a nossa vida vai voltar ao que era antes, do ponto de vista psicológico, é mais fácil adaptarmo-nos a uma nova realidade quando temos um prazo limite. Por isso, em função das tuas crenças define uma data a partir da qual acreditas voltar à tua realidade.

A nossa capacidade de trazer para o nosso dia-a-dia momentos de prazer determina diretamente a qualidade da nossa vida.

*Ana Maçãs é coach.