Os hotéis portugueses queixam-se da falta de reservas e antecipam que os hóspedes nacionais não vão ser suficientes para preencher a lacuna deixada pelos estrangeiros, alerta Cristina Siza Vieira.
Grande parte do setor hoteleiro estima abrir portas em julho mas, por enquanto, não há praticamente reservas e, as que existem, não estão confirmadas, adianta ao ECO a CEO da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Cristina Siza Vieira. As “medidas protecionistas” adotadas pelos países, principalmente por Espanha, não melhoram o cenário, e a associação acredita mesmo que os turistas nacionais não serão suficientes para compensar a perda de receitas com os hóspedes estrangeiros.
Já se sente a retoma dos turistas? Há reservas?
Não, não há reservas. E mesmo que haja, são só no papel e não se irão confirmar. Não há transporte aéreo e as fronteiras estão fechadas. Não há turismo estrangeiro e, quanto ao mercado interno, há muita expectativa que vá ao encontro de alguma procura, mas é baixa. Se pensarmos que o turismo nacional representou em 2019 30% em termos de dormidas, mas não foi só turismo de lazer, também foi turismo de negócios. Mesmo que todo o turismo nacional se fizesse em Portugal, isso não iria representar mais do que estes 30%. E isso é uma dispersão muito grande.
Claro que o turismo português que ia para o estrangeiro vai passar [o verão] por cá, mas mesmo isso é insuficiente. São 70% de turismo internacional contra 30% das dormidas nacionais. Não há movimentos de booking que nos causem muito furor. Há buscas, interesse, mas reservas efetivas ainda não. Por outro lado já sabemos que as pessoas vão estar 100% atentas a poderem cancelar as reservas e não serem penalizadas.
Antecipa um verão fraco em termos de turistas estrangeiros?
Muito fraco mesmo. Todos os países estão a convidar os seus nacionais a fazer férias dentro. Cada um toma medidas protecionistas, incluindo a quarentena. Nós próprios, como cidadãos, sentimo-nos mais seguros em casa. E embora haja uma apetência do mercado espanhol e inglês, a quarentena é uma questão, de facto, tremenda. É um fortíssimo inibidor e não estamos à espera de turismo internacional este verão. Vai ser muito pouco. Será alguma coisa, mas muito residual. Enquanto esta situação não for levantada é um constrangimento muito grande. Este ano temos esta condicionante muito forte, quer em termos de transporte aéreo, quer em termos de quarentena. Eventualmente, até noutros mercados que não têm expressão, pode ser que haja alguma procura, como a Holanda, os países nórdicos, mas não estamos com expectativas luminosas.
Se o mercado interno só representa 30% das nossas dormidas e 40% dos nossos turistas, não chega. É insuficiente e, mais uma vez, não é só mercado de lazer, mas também de negócios e empresas.
Só os portugueses chegam para gerar as receitas que o setor precisa?
Não. Se o mercado interno só representa 30% das nossas dormidas e 40% dos nossos turistas, não chega. É insuficiente e, mais uma vez, não é só mercado de lazer, mas também de negócios e empresas. Fátima não tem, basicamente, turistas nacionais. Aliás, Fátima, no segmento do mercado religioso, é uma desgraça muito grande porque os principais mercados são a Coreia do Sul e Itália. Não há qualquer expectativa de retoma. Há 60 hotéis em Fátima, cerca de 9.000 camas, e de facto é uma desgraça muito grande. É um segmento que não vai ter adesão.
Pode dizer-se que este é um ano perdido para o setor?
Sim, basicamente até setembro é um ano perdido. As previsões do verão são muito baixas. É um ano em que a pandemia e os efeitos de março a junho, para já os mais imediatos, e depois durante o verão, vão ter um impacto muito negativo em todo o setor. Seja no alojamento, seja em tudo o que está a montante e jusante, em termos de animação, congressos, eventos, casamentos. Tudo o que ande à volta da hotelaria, desde as empresas de animação turística, os parques aquáticos, os tuk tuk… Tudo vai sofrer penosamente com a queda do turismo. Vai ser um ano de retrocesso muito grande, depois de anos de crescimento muito bons.
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“Não há turismo estrangeiro”. Portugueses “não chegam” para salvar o ano, diz CEO da AHP
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