Como o vírus pode fazer aterrar de vez o maior avião do mundo, o A380

O fim da produção do Airbus 380 já era conhecido desde o ano passado, dado o declínio de encomendas. Contudo, o Covid-19 poderá acelerar o fim daquele que é o maior avião de passageiros do mundo.

Considerado o maior avião comercial do mundo, o Airbus 380 descolou pela primeira vez em 2005 com a promessa de revolucionar a forma como viajamos. Amplo, silencioso e mais ecológico, foram algumas das características fundamentais para que a aeronave se destacasse no mundo da aviação. Foi um sucesso, mas entrou, nos últimos anos, em declínio. As encomendas começaram a cair. O fim está definido, mas o vírus pode acelerar a aterragem definitiva deste gigante dos ares.

O A380 foi concebido para competir com o icónico Boeing 747, que celebrou 50 anos no ano passado. Com dois luxuosos andares, a aeronave da fabricante europeia consegue sentar entre 575 a 853 passageiros, dependendo da configuração. Com os seus quatro motores, é capaz de atingir uma velocidade de 1.080 Km/h. E a capacidade de armazenamento de 320 mil litros de combustível dá ao A380 uma autonomia de 14.800 Km. Contas feitas, este avião tem autonomia para ir quase duas vezes da Rússia aos Estados Unidos, já que a distância entre os dois países é de 8.781 km.

Este avião descolou pela primeira vez a 27 de abril de 2005, mas só cerca de dois anos mais tarde, em outubro de 2007, começou a operar a nível comercial, ao serviço da Singapore Airlines. E rapidamente outras gigantes do setor começaram a voar com este gigante dos céus.

A Emirates é a companhia área com maior número de aviões A380 em todo o mundo.Emirates media centre

Apesar de continuar a deixar de “queixo caído” os amantes da aviação, o A380 parece cada vez mais ter os dias contados. A redução dos pedidos de encomendas deste modelo ao longo dos últimos anos já era conhecida. Agora, a queda abrupta do turismo face à pandemia poderá acelerar o fim da linha do A380.

Em fevereiro do ano passado, a Airbus antecipou o princípio do fim da aeronave. A redução dos pedidos da Emirates, — que detém a maior parte da frota produzida — de 62 para 123, devido às dificuldades em encher os aviões em algumas rotas foi a gota de água e levou a Airbus a anunciar o fim da produção do equipamento. Mas já um ano antes, a fabricante europeia tinha deixado o aviso que se não houvesse mais encomendas esse era o cenário mais provável.

A decisão “dolorosa”, como lhe chamou à época o diretor financeiro da Airbus, Harald Wilhelm, aquando do anúncio do fim da produção, estaria marcada para 2021, sendo que até lá estariam previstos sair para o mercado mais 17 Airbus A380 — 14 para a Emirates e três para a japonesa ANA.

Considerado o maior avião comercial do mundo, o A380 descolou pela primeira vez em 2005, mas só dois anos mais tarde foi colocado ao serviço das companhias aéreas.

Contudo, a pandemia de Covid-19 poderá ter acelerado todo este processo, já que veio trocar as voltas ao turismo global, diminuindo fortemente o fluxo de passageiros. Só é considerado viável voar com o A380 com uma elevada lotação, já que os custos de operação são elevados. Assim, se transportar poucas pessoas, os prejuízos para as companhias aéreas aumentam.

O Grupo Air France – KLM, dono da Air France, Transavia, KLM, entre outras companhias, anunciou que não vai voar mais com o A380, ou seja, a decisão final chegou dois anos antes da meta prevista, que previa retirar toda a frota de circulação deste modelo apenas em 2022.

O grupo francês já tinha “aposentado” alguns destes aviões pertencentes à sua frota, com o intuito de os substituir pelos 10 Airbus A350-900, conforme anunciado em dezembro de 2019, um modelo consideravelmente mais pequeno e cujas entregas já estão em curso. Agora, optou por deixar em terra os restantes com o intuito de cortar os custos face ao impacto da crise provocada pelo Covid-19.

A decisão é justificada pelo facto de o A380 consumir entre 20% a 25% mais combustível por assento do que em qualquer outro modelo de longo curso mais recente. Com um total de nove A380 parados, esta decisão terá um impacto nas contas do grupo na ordem dos 500 milhões de euros.

Também Lufthansa comunicou a decisão de retirar o A380 da sua base em Frankfurt, por não ser economicamente viável do ponto de vista logístico. Neste momento, a companhia alemã tem metade dos seus 14 A380 parados em Teruel, em Espanha e os restantes em Munique, na Alemanha. “Para tornar a Lufthansa competitiva a longo prazo, foi decidido que o A380 só será usado a partir de Munique no futuro”, disse um porta-voz da companhia.

Um dia depois, era notícia que a Emirates estará a tentar cancelar cinco das suas oito últimas encomendas do A380 com a fabricante franco-alemã, avançou a a Bloomberg (acesso condicionado, conteúdo em inglês). Segundo fontes próximas do processo, a a transportadora dos Emirados Árabes, que anunciou a redução da frota de A380 para 69 unidades (de um total de 115), só quer ficar com apenas três novas aeronaves, mas a Airbus não recusa aceitar a decisão, justificando que os aparelhos já estão a ser montados.

A Airbus previa deixar de produzir o A380 a partir de 2021, mas a pandemia poderá acelerar todo o processo.

Assim, a fabricante europeia propõe um adiamento da entrega ou do pagamento. “Furar” o acordo com a Airbus, poderá custar à companhia aérea multas de cerca de 70 milhões de dólares por avião, segundo o relatório anual da empresa.

Para além destas três companhias acima referidas, também a Qantas, a Korean Airlines e a China Southern decidiram suspender as operações com os A380. Quanto ao futuro, ainda não há nenhuma comunicação oficial da Airbus sobre uma possível antecipação do fim da produção do A380. Certo é que com a pandemia as contas complicam-se para várias companhias, que fase às restrições de circulação têm a maioria dos céus aviões em terra, dada a queda abrupta no turismo.

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