Navigator admite pagar dividendos este ano. Decide depois do verão
Na assembleia geral, Conselho de Administração liderado por João Castello Branco anunciou aos acionistas que espera ter novidades sobre a expansão da empresa "nos próximos meses".
Ao recorrer ao regime de lay-off simplificado, a Navigator viu-se obrigada a cancelar a proposta de remuneração acionista. Mas a empresa de papel e pasta de papel, detida em 70% pela holding Semapa, tem 256 milhões de euros de liquidez para fazer face à crise pandémica, pelo que poderá vir a retomar a remuneração acionista ainda este ano, apurou o ECO.
O Conselho de Administração da Navigator, presidido por João Castello Branco, anunciou aos acionistas que ainda pondera distribuir dividendos, na quinta-feira passada em assembleia geral. O plano é que os lucros passem para reservas, para já. E, depois, irá voltar a analisar a questão entre setembro e outubro, quando houver maior clareza sobre o impacto da pandemia nas contas.
Questionada sobre esta informação, a Navigator não confirmou nem negou. Respondeu que elaborou um conjunto de cenários, ainda em fevereiro e concluiu que “mesmo nos cenários mais drásticos, a companhia mantém uma posição confortável para remunerar os acionistas adequadamente“.
Fonte oficial da empresa aponta para as razões já comunicadas ao mercado para cancelar o pagamento — prudência e o recurso ao lay-off — e acrescentou apenas que “neste momento a única proposta que está para discussão é no sentido de os acionistas aprovarem na assembleia geral de junho a aplicação dos resultados de 2019 em reservas”.
Apesar de ainda não ter formalizado a convocatória, a gestão transmitiu aos acionistas que poderá, após o verão, realizar nova AG e propor o uso dessas mesmas reservas para distribuir dividendos. A hipótese é vista com bons olhos pelo acionista individual Gonçalo Sequeira Braga.
Dado o panorama atual de grande incerteza a Navigator elaborou um conjunto de cenários já no final de fevereiro que consideraram mesmo visões mais negativas, portanto de maior stress sobre o negócio, tendo concluído que mesmo nos cenários mais drásticos, a companhia mantém uma posição confortável para remunerar os acionistas adequadamente.
“Tudo depende da situação financeira da empresa. Empresas que não têm capacidade, devem reter dividendos. Empresas que têm, devem distribuir”, diz Sequeira Braga, que é também presidente da Maxyield, clube dos pequenos acionistas, ao ECO. “O que nos foi transmitido foi que a Navigator tem 256 milhões de euros de liquidez e que se sentia confortável para enfrentar esta pandemia“.
O impacto da pandemia (incluindo um tombo de 38% no resultado líquido) levou a empresa a colocar 1.200 trabalhadores em lay-off. O recurso a este regime impede a empresa de distribuir dividendos pelo que, a avançar, a retoma da remuneração acionista terá de esperar pelo fim do lay-off.
O ano de 2019 não tinha sido favorável à Navigator, com o resultado líquido a recuar 25,2% para 168,3 milhões de euros, devido a uma forte queda dos preços de pasta e redução da procura de pasta e de papel. A empresa tinha já cortado para metade o valor do dividendo e proposto pagar 13,94 cêntimos por ação (num total de 99,14 milhões de euros).
Acionistas contra salários. Empresa prepara expansão
O acionista Sequeira Braga, em conjunto com Carlos Rodrigues e Gonçalo Garcia enviaram uma série de questões à administração em antecipação da assembleia-geral sobre temas como o impacto da pandemia, planos de investimento e expansão, mas também sobre a política de remuneração do conselho de administração. Pedem maior transparência e separação entre o desenho de objetivos, a definição de salários e prémios e a verificação do cumprimento dos objetivos.
“Como é possível que administradores não executivos sejam ao mesmo tempo jogadores definindo os objetivos a atingir e depois se convertam em árbitros do desempenho de alguns pares da administração? A empresa não teria benefícios numa avaliação de desempenho da gestão executiva por uma estrutura independente do conselho de administração?”, questionam.
Votaram, por isso, contra a proposta de remuneração e não foram os únicos. Numa AG onde estava representado cerca de 80% do capital (ou seja, 10% além do acionista maioritário), a proposta foi aprovada com 80% dos votos a favor. “Houve investidores institucionais que votaram com os pequenos acionistas e não houve qualquer tipo de concertação“, explica Braga Sequeira. “Os investidores institucionais começam a reconhecer que há abusos”.
Por responder ficou a pergunta enviada sobre os projetos de expansão, sendo que os três investidores referidos tinham questionado os administradores sobre o projeto Portucel Moçambique e eventuais planos para Angola ou Guiné-Bissau. O conselho de administração respondeu apenas que poderá divulgar notícias sobre a expansão da empresa “nos próximos meses” aos acionistas.
“Certamente não será sobre Moçambique, que é um projeto muito interessante, mas pressupõe a construção de um porto de águas profundas em Maputo. Poderá ser noutros mercados até porque identificaram o packaging como uma área de diversificação, mas o eucalipto português não serve para embalagens mais duras. Podem vir a procurar floresta para isso e eventualmente criar uma fábrica”, acrescenta Braga Sequeira.
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