FMI pede “cuidado” na transição energética por causa da “estabilidade financeira”

  • Lusa
  • 29 Maio 2020

O FMI alerta para a forma como a velocidade da transição energética para uma economia de baixas emissões carbónicas pode afetar a estabilidade financeira.

Um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado adverte para a forma como a velocidade da transição energética para uma economia de baixas emissões carbónicas pode afetar a estabilidade financeira.

“De um ponto de vista da estabilidade financeira, esta transição para uma economia de baixo carbono precisa de ser gerida com cuidado para evitar reavaliações abruptas e não antecipadas de carteiras e deslocalização económica”, pode ler-se no capítulo cinco do Relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI.

O capítulo, intitulado “Alterações Climáticas: risco físico e preços das ações”, considera ainda que “ações de política para mitigar as alterações climáticas reduziriam os gases de efeito de estufa e futuros riscos físicos à partida, conferindo benefícios para a humanidade que se estendem bem além da estabilidade financeira”.

A investigação do FMI concluiu ainda que a reação dos mercados financeiros a desastres naturais nos últimos 50 anos foi “modesta”, e considera que os investidores podem estar a dar “atenção insuficiente” às alterações climáticas.

De um ponto de vista da estabilidade financeira, esta transição para uma economia de baixo carbono precisa de ser gerida com cuidado para evitar reavaliações abruptas e não antecipadas de carteiras e deslocalização económica.

FMI

“O capítulo [do Relatório de Estabilidade Financeira Global] documenta que a reação dos preços das ações a grandes desastres climáticos foi modesta nos últimos 50 anos”, pode ler-se no capítulo cinco do referido relatório, divulgado esta sexta-feira pelo FMI.

Quanto a números mais recentes, o capítulo indica ainda que quanto às variáveis climáticas, a “análise e as provas providenciadas (…) sugerem que as avaliações agregadas de ações em 2019 não refletiam esse risco”.

“Assim, os investidores em ações podem estar a tomar atenção insuficiente a variáveis climáticas”, adverte a instituição liderada por Kristalina Georgieva, ressalvando, no entanto, que “as características dos países contam” quando se trata de avaliar o impacto nos mercados.

Como exemplo, o capítulo do FMI, intitulado “Alterações Climáticas: risco físico e preços das ações”, avança que o desastre do furacão Katrina, nos EUA, em 2005, apesar de ser o mais significativo da amostra, “acionou uma reação modesta nos mercados de capitais, sem uma queda percetível nos índices bolsistas”, ao passo que as cheias de 2011 na Tailândia, com o maior impacto relativamente ao país, “resultou numa queda no mercado bolsista tailandês de mais de 8% depois do desastre e uma queda acumulada de cerca de 30% nos 40 dias de negociação seguintes”.

Segundo as conclusões do FMI, sediado em Washington, “a penetração dos seguros e a solidez financeira do soberano [Estado] podem amenizar o impacto de desastres climáticos nos preços dos títulos, incluindo no setor financeiro”.

“As conclusões implicam que independentemente da magnitude de futuros desastres climáticos, a estabilidade financeira será melhor preservada em economias que têm bons indicadores nessas dimensões“, segundo o FMI.

O fundo destaca que os seguros do ramo não-vida “são uma fonte de resiliência financeira porque aumentam a capacidade das economias recuperarem de desastres”, apesar de a margem de proteção (a percentagem de perdas não seguradas) permanecer “significativa, especialmente em economias de mercado emergentes e em desenvolvimento”.

“A solidez financeira de um soberano permite-lhe responder em força a desastres e reduzir o impacto económico e financeiro do choque. Construir almofadas orçamentais, implementar linhas de crédito contingentes, e desenvolver um sistema são de gestão das finanças públicas é importante nesta matéria. Instrumentos de dívida contingente dos Estados podem também ser úteis para maior flexibilidade de políticas em tempos adversos”, denota o FMI.

A instituição defende ainda que, “para ajudar o público, incluindo os participantes no mercado, a perceber melhor o risco físico, os decisores políticos devem considerar fortalecer a literacia para as alterações climáticas”, através de maior publicitação de evidência científica.

“Informação granular e específica para as empresas acerca de exposição e vulnerabilidade atual e futura aos riscos físicos de alterações climáticas ajudaria credores, seguradores e investidores a avaliar melhor esses riscos”, segundo o FMI.

O fundo sugere que sistemas baseados em avisos prévios à população, gestão da densidade populacional em áreas de risco ou implementação de regulação, bem como investimento em infraestruturas de proteção, poderiam ser medidas de redução de risco climático.

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