Clubes voltam aos relvados. Jogadores estão em forma, mas as finanças ficaram lesionadas
Liga Nos regressa esta quarta-feira, mesmo que com medidas de segurança reforçada e sem público. Paralisação do futebol deixou os clubes mais vulneráveis financeiramente.
Fechados em casa, os adeptos de futebol ansiavam que a bola voltasse a rolar em campo, mas para os clubes o confinamento teve um significado adicional. Sem receitas, nem de bilheteira, mas principalmente da transmissão televisiva dos jogos, ou possibilidade de negociar jogadores, os três grandes voltam a jogo com as finanças lesionadas.
Em março, eram confirmados os primeiros casos de coronavírus em Portugal e o Governo anunciava que estado de emergência no país iria levar à paragem do campeonato de futebol. Em suspenso, chegou a estar em cima da mesa a possibilidade de determinar antecipadamente o campeonato, como França decidiu.
A bola parada fez travar não só as receitas com bilheteiras, mas também com direitos de transmissões. A Altice deixou claro que não iria pagar aos clubes de futebol enquanto o campeonato não retomasse já que o serviço — leia-se o jogo a ser transmitido — não foi disponibilizado.
Antes da pandemia, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional estimava que a época 2019/20 atingisse um valor recorde de receitas. Na publicidade ainda não há mudanças, mas já se anteveem tempos difíceis: a Nos anunciou que não vai renovar o contrato como principal patrocinador da Primeira Liga após 2021.
Também os negócios com jogadores — que têm salvo as contas — ficam em risco. E mesmo tendo mantido os planteis, há custos a suportar, que levaram os clubes a antecipar férias, lay-off ou mesmo a fazer empréstimos para os pagar. Neste cenário, não só os jogadores perdem valor como as próprias SAD. Em bolsa, o clube perdeu 13% desde que o vírus foi confirmado em Portugal, o que compara com a perda de 23% do Benfica e de 33,5% do Porto.
Clubes perdem valor em bolsa
Fonte: Reuters
Benfica perde 25 milhões (e dois negócios)
“Neste momento, não há nenhum clube desafogado. Vamos estar preparados para os próximos cinco a seis meses, mas não sabemos o que aí vem e temos de estar preparados”, dizia Luís Filipe Vieira, em entrevista à Benfica TV. “Importante é ter dinheiro. Não queremos incumprir com ninguém. Nem que tenhamos de trabalhar dia e noite. Se não houver competições europeias vamos ter um problema gravíssimo”.
Admitindo a incerteza sobre o que aí vem, o presidente do Sport Lisboa e Benfica balizou o impacto que a pandemia já teve no clube: “até ao momento, 20 a 25 milhões de euros perdidos é certo“, afirmou. A este valor, acrescem 200 milhões de euros que, se não fosse a pandemia, o Benfica teria garantidos com a venda de dois jogadores.
Mesmo perante os desafios financeiros criados pelo coronavírus, Vieira assegurou que não vai baixar ordenados, recorrer a lay-off ou despedir funcionários. O CFO Domingos Soares de Oliveira tinha já garantido que “qualquer que seja o impacto [da pandemia], os resultados serão naturalmente sempre positivos, e até diria, muito provavelmente, um dos melhores resultados da história da SAD do Benfica”.
Porto pede empréstimo para pagar salários
Se o Benfica perdeu negócios de 200 milhões, o Porto não ficou muito aquém. “Se tivessem sido faturados 147 milhões de euros que estavam acordados”, agora “não se estava a falar de problemas financeiros”, disse Pinto da Costa em entrevista ao Porto Canal. Esses problemas financeiros levaram o clube a pedir um empréstimo de dois milhões de euros para pagar salários. O presidente portista tentou fazê-lo junto do Novo Banco, mas foi recusado e acabou por conseguir junto de “um banco alemão”.
“No ano passado, o FC Porto pagou 47 milhões de euros de impostos. Grande parte dessa verba estará incluída nos 850 milhões de euros que todos os portugueses deram para viabilizar o Novo Banco. Mesmo assim, fizemos a esse banco um pedido de financiamento de dois milhões de euros, para facilitar o pagamento de ordenados, desde abril, com garantias dadas pela FPF pelo dinheiro que temos a receber das provas da UEFA, mas o Novo Banco recusou. Acabámos por resolver esse problema num banco alemão”, criticou o presidente portista.
A falta de liquidez não é novidade no clube. Os azuis e brancos já tinham convocado uma assembleia geral de titulares de obrigações denominadas “FC PORTO SAD 2017-2020” para pedir o adiamento do pagamento que estava previsto para junho deste ano. São 35 milhões de euros em obrigações, que pagam um juro bruto de 4,29% e cujo reembolso estava previsto para o próximo dia 9 de junho de 2020.
É esta data que a SAD liderada por Pinto da Costa quer adiar em um ano, prometendo agora fazer o reembolso a 9 de junho de 2021, justificando que não há condições de mercado para lançar uma nova emissão. Após ter tentado reunir-se com os investidores em maio (mas não conseguiu por falta de quórum), o FC Porto vai negociar com os obrigacionistas na sexta-feira.
Apesar do vírus, Sporting consegue lucro
Apesar das várias declarações que os líderes dos clubes têm vindo a fazer, só quando as SAD apresentarem contas é que será possível ter maior clareza quanto ao impacto do vírus. A única que já o fez foi o Sporting, embora estas contas tenham tido o impacto positivo da venda da estrela leonina para os Red Devils.
A Sporting SAD registou um lucro de 30,2 milhões de euros no terceiro trimestre da época 2019/2020 (ou seja, o período entre janeiro e março), alcançado um volume de negócios de 156,1 milhões de euros nos nove meses terminados em março de 2020. O resultado é explicado pela “maior venda de sempre” com a transferência de Bruno Fernandes para os ingleses do Manchester United por 55 milhões de euros, mais 25 milhões condicionais ao cumprimento de objetivos.
A venda foi feita no ano passado, mas só agora foi levada a resultados. Sem este efeito (associado à quebra nos gastos com salários devido ao lay-off), os resultados teriam sido diferentes. Os rendimentos e ganhos operacionais encolheram 1,7 milhões de euros.
O clube admite que levou a cabo “diversas iniciativas para controlar e reduzir custos, incluindo a suspensão ou adiamento de investimentos não críticos, o acordo com jogadores e equipa técnica para a redução temporária dos vencimentos, a adesão ao regime de lay-off simplificado, renegociação de contratos e prazos de pagamento, corte de despesas acessórias, entre outras”.
“Continuarão a ser desenvolvidos esforços para um aumento das receitas da sociedade, seja pela maximização das receitas ditas clássicas como pela criação de outras atividades geradoras de fluxos de caixa positivos”, refere o Sporting.
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