Empresas preveem contratar menos no próximo trimestre. Previsões são as mais pessimistas desde 2017
-9%. É a previsão de contratação para os próximos três meses em Portugal, com maior impacto na região norte, revela o estudo da ManpowerGroup, que registou as previsões mais pessimistas desde 2017.
Num universo de 387 empresas portuguesas inquiridas neste estudo, 19% dos empregadores antecipam uma diminuição da força de trabalho no terceiro trimestre de 2020, 62% não avançam qualquer alteração e apenas 10% anteveem um aumento das intenções de contratação. Os resultados refletem o impacto da situação de emergência de saúde global, devido à pandemia do Covid-19.
O inquérito da ManPower Group, ManpowerGroup Employment Outlook Survey, revela que as intenções de contratação dos empregadores portugueses para o próximo trimestre, entre julho e setembro, se situa nos -9%, o valor mais baixo desde o início do estudo, em 2017.
Restauração e hotelaria será o setor mais afetado
Durante o próximo trimestre, é esperada uma redução da força de trabalho nos sete setores de atividade analisados no inquérito. Com as medidas de contingência devido à pandemia, o setor da hotelaria e da restauração será o mais afetado e prevê uma contração de -29% nas contratações, entre julho e setembro.
"À crise de saúde da Covid-19 uniu-se uma crise de âmbito económico e social. Analisando em termos prospetivos, o sentimento que recolhemos junto dos empregadores não altera este cenário, pelo que prevemos uma recuperação lenta do emprego.”
Estes números representam uma queda de 50% relativamente às previsões que foram feitas no período pré-Covid. Pelo contrário, só o subsetor agrícola e o subsetor público estão otimistas, e preveem aumentar as contratações em 2% e 11%, respetivamente.
Ao setor da hotelaria segue-se o setor das finanças, com uma previsão de -19% nas contratações para o próximo trimestre e o comércio grossista e do retalho, com projeções de contratação de -12% e -10%, respetivamente. Já na construção, os empregadores avançam intenções de contratação pouco animadoras, com uma projeção de -6%, enquanto nos setores de outras atividades de produção e de serviços domina a incerteza, com perspetivas de -1% e -2%.
Médias empresas pessimistas
O inquérito revela que o pessimismo é transversal, desde as microempresas às grandes empresas: todas esperam reduzir a sua força de trabalho durante o próximo trimestre. Contudo a maior preocupação recai sobre as médias empresas — com 50 a 249 trabalhadores –, que relatam uma projeção para a criação líquida de emprego de -17%, traduzindo uma queda acentuada de 31% face ao mesmo período do ano passado.
Já as microempresas relatam igualmente planos de contratação pessimistas, com uma projeção de -10%, enquanto as perspetivas das PME ficam pelos -5%. Relativamente ao trimestre anterior, são as grandes empresas — têm 250 ou mais trabalhadores –, que registam uma maior queda, de 39%, com destaque ainda para a queda de 31% nas contratações no caso das médias empresas.
Contratações caem na região norte e grande Lisboa
Centro, sul e norte. As previsões dos empregadores nestas três regiões não são animadoras, principalmente para a região norte, onde a projeção para a criação líquida de emprego cai para os -9%. Segue-se o centro, com -8%, e o sul, com -4% de previsões de contratação a partir de julho.
Ao olhar com mais detalhe para os dados do inquérito, o destaque vai para a grande Lisboa, com as projeções a caírem para -15%, menos 32% do que no trimestre anterior. No grande Porto, o valor iguala-se ao da região norte: -9%.
“À crise de saúde da Covid-19 uniu-se uma crise de âmbito económico e social. As consequências ao nível da destruição de emprego já estão a sentir-se de forma considerável, com o número de desempregados a aumentar 22,1% em abril, face ao mesmo período de 2019, segundo dados do IEFP. Analisando em termos prospetivos, o sentimento que recolhemos junto dos empregadores não altera este cenário, pelo que prevemos uma recuperação lenta do emprego”, refere Rui Teixeira, chief operations officer da Manpower Group Portugal.
Quando comparado o segundo trimestre do ano (março a junho), as perspetivas de contratação caíram, em média, mais de 20% nas três regiões.
Intenções globais de contratação em queda
As perspetivas a nível global não são muito diferentes de Portugal, com 35 dos 43 países analisados a demonstrar previsões de quebras nas contratações para os próximos três meses. O inquérito contou com a participação de mais 34.000 empregadores nestes países.
Na Europa, o Reino Unido apresenta as perspetivas mais sombrias, com os empregadores a antecipar o mercado de trabalho mais fraco desde o início do estudo, em 1992, e traduzindo quebras nos setores de transportes, logística e comunicações, finanças e serviços, e indústria. Em França, os dados também são os mais baixos desde que se realiza o estudo, sendo o setor da restauração e hotelaria o mais afetado. O mesmo se prevê para Itália. Na vizinha Espanha, projeção de contratação cai abaixo dos 1% para -12%, com um maior impacto nos setores da hotelaria e restauração e comércio grossista e retalhista.
“Neste contexto, é fundamental atuar para proteger e fomentar a atividade económica e os postos de trabalho. Para isso, devemos reforçar a capacidade de resposta das empresas e promover um regresso a um ‘novo normal’, tão rápido, mas também tão seguro quanto possível. A confiança, por parte de trabalhadores, clientes e empresários, exige uma cooperação a larga escala, para identificar e generalizar as medidas que permitirão garantir a segurança de todos, nos diferentes contextos da reativação, e muito especialmente no regresso ao trabalho”, defende Rui Teixeira, chief operations officer da ManpowerGroup Portugal.
A contrariar a tendência na Europa, as contratações deverão aumentar 1% no próximo trimestre, principalmente nos setores da construção, finanças e serviços e outros serviços. Acima da Alemanha com previsões positivas, a nível global, só a Croácia, Taiwan, China, EUA, Índia e Japão, por ordem crescente. Por outro lado, no final da tabela, o pior país é Singapura, com quase -30% de contratações, seguido de outros países como a Costa Rica, Peru e Colômbia.
O desemprego nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), aumentou 2,9 pontos percentuais em abril para 8,4%. O número de pessoas desempregadas subiu 18,4 milhões para 55 milhões em abril, com os EUA a serem os principais responsáveis por esta subida, com mais 15,9 milhões de desempregados, revelam os dados divulgados esta terça-feira.
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