“Queremos produzir muito hidrogénio e produzi-lo barato”, diz Galamba

"A nossa proposta não é só uma fábrica de hidrogénio em Sines, uns postos de abastecimento ou uns autocarros. É todo o mercado do hidrogénio que queremos desenvolver", disse o governante.

“Queremos produzir muito hidrogénio, produzi-lo barato e usá-lo abundantemente” em Portugal. Aquela que é uma das maiores ambições do Governo para a próxima década foi expressa pelo secretário de Estado da Energia, João Galamba, e lançada em forma de desafio perante uma plateia composta por investigadores científicos e empresas portuguesas que já estão a arregaçar as mangas para tornar o hidrogénio verde numa realidade no país.

O governante revelou que Portugal está já em conversações avançadas com a Holanda e com a Alemanha, com vista a assumir-se como “líder” na nova Aliança Europeia para o Hidrogénio Limpo, que será apresentada a 8 de julho. O país quer assim estar na linha da frente para chegar primeiro aos fundos europeus disponíveis para financiar a descarbonização do continente. “A Europa olha para nós como país líder na área das renováveis. Portugal está preparado para avançar e não pode deixar passar esta oportunidade” disse Galamba.

Encontrar novas soluções técnicas para a produção de hidrogénio e reduzir os custos dessa mesma produção são agora as palavras de ordem, de acordo com o governante, que esta segunda-feira participou numa discussão da Estratégia Nacional para o Hidrogénio com as comunidades científicas e de investigação e inovação, presidida pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. Esta foi a primeira de uma série de consultas setoriais (desde a investigação à indústria e aos transportes) no âmbito da consulta pública da Estratégia Nacional para o Hidrogénio, que vai decorrer até meados de julho.

Do lado da comunidade científica, Paulo Ferrão, do Instituto Superior Técnico, revelou que um estudo português recente “mostra que o uso do hidrogénio permite uma redução dos gases poluentes até 80% em 2040”. “Trazemos aqui as empresas para dizerem o que precisam para vencer este desafio em Portugal. E os investigadores para dizerem o que podem fazer nesse sentido”, acrescentou.

Maria João Rodrigues, da Lisboa e-nova, revelou que na capital vai nascer em breve uma central fotovoltaica de 2 MW no cemitério de Carnide com vista à criação de uma comunidade de energia na autarquia, não só para abastecer com eletricidade renovável os edifícios da câmara, mas também com objetivo de produzir hidrogénio, por eletrólise, que depois será disponibilizado num posto de abastecimento de veículos (autocarros e ligeiros de passageiros), na cidade. Este case study de pequena escala em Lisboa vai depois permitir tirar lições também para a estratégia nacional, garante a responsável.

Do lado do Governo, a aposta passa então por desenvolver todo o ciclo de vida do hidrogénio a uma escala nacional. “A nossa proposta não é só uma fábrica de hidrogénio em Sines, uns postos de abastecimento ou uns autocarros. É todo o mercado do hidrogénio que queremos desenvolver. Uns sem os outros não resultam. Queremos apostar em todos os elementos da cadeia de valor”, disse Galamba, apelando a um grande esforço colaborativo entre vários setores, agentes e até países.

O secretário de Estado reconhece que a Estratégia Nacional para o Hidrogénio “traz problemas para resolver” e pede às empresas e aos investigadores que o façam juntos. “É uma enorme oportunidade industrial e científica”, disse ainda Galamba.

O governante voltou assim a frisar a ideia de que a colaboração entre todos, na estratégia para o hidrogénio, permite desbloquear projetos individuais. “Neste momento temos o problema do ovo e da galinha: nos concursos para compra de autocarros, a Carris e outras empresas não incluem nos seus cadernos de encargos veículos a hidrogénio porque não há postos de abastecimento. Depois ninguém instala postos de abastecimento porque não há produção. A estratégia nacional, como olha para tudo em simultâneo, tem o potencial de viabilizar projetos que sozinhos não avançavam. Quando conseguimos juntar à mesma mesa quem pode comprar autocarros, quem pode instalar postos e quem pode produzir hidrogénio, viabilizamos os três projetos. Ninguém vai produzir se ninguém distribuir e se ninguém utilizar. É assim que conseguimos tirar os projetos do papel”, tinha já sublinhado na semana passada.

Quanto às empresas, EDP e Galp garantem estar de olho nas oportunidades do hidrogénio verde. No evento desta segunda-feira, Carlos Mata, da EDP Inovação, disse que a elétrica já está a trabalhar há alguns anos no hidrogénio, tendo dado início este ano a um projeto para a sua produção na central de ciclo combinado do Ribatejo. Mas a ambição vai mais longe e a EDP promete também “investir em startups que surjam na área do hidrogénio e produzir hidrogénio a partir de energia eólica offshore“.

Jorge Fernandes, da Galp, sublinhou que a petrolífera é já em Portugal o maior produtor e consumidor de hidrogénio, que no futuro se quer 100% verde. Para este responsável, a competitividade futura do hidrogénio passa obrigatoriamente por uma redução dos seus custos. “A produção em larga escala é essencial para viabilizar sustentabilidade económica com vista ao consumo no mercado nacional e à sua futura exportação”, disse Jorge Fernandes.

Do lado da investigação, o professor do Instituto Superior Técnico, João Bordado, garantiu que “não vai ser difícil de reduzir os custos da produção de hidrogénio em Portugal.

Por último, Sara Guedes, da Akuo Portugal, apresentou o projeto da empresa para a produção de combustíveis líquidos de nova geração para a aviação a partir do hidrogénio verde e de CO2 capturado, que representa um investimento de 90 milhões de euros. Esta tecnologia power to liquid consiste em usar energia solar fotovoltaica em grande escala, e com tarifas baixas, para produzir gás sintético que é depois convertido em combustíveis líquidos. A responsável sublinhou que a pandemia de Covid-19, que deixou no solo milhões de aviões de companhias aéreas em todo o mundo, irá ajudar a desenvolver esta tecnologia, já que os apoios financeiros às empresas de avião estão agora condicionados à aposta em tecnologias mais verdes.

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