Bruxelas vai revelar aliança europeia para o hidrogénio. Projeto de Sines terá destaque

Comissão Europeia está a preparar a nova estratégia para a integração inteligente do setores energéticos que deverá apresentar ainda este mês - possivelmente a 24 de junho, segundo agenda indicativa.

A Comissão Europeia deverá anunciar no final do mês de junho os detalhes da sua nova Aliança para o Hidrogénio Limpo (Clean Hydrogen Alliance, no original), em inglês, na qual se inclui o projeto luso-holandês Green Flamingo, com vista à criação de uma unidade industrial de larga escala para a produção de hidrogénio verde em Sines, a partir da energia fotovoltaica.

O ECO/Capital Verde sabe que no documento, que ainda está a ser ultimado em Bruxelas, estará em destaque o projeto que junta grandes empresas (energéticas e não só) dos Países Baixos e de Portugal (como a EDP, a Galp e a REN, a par do promotor Resilient Group), além de empresas de outros países europeus. O hidrogénio de Sines será mesmo apresentado como um “bom exemplo” do que já se está a fazer na Europa em termos de transição energética para uma nova geração de combustíveis. Detalhadas serão também as futuras regras de mercado para o hidrogénio, segundo confirmou porta-voz da Comissão Europeia, em Bruxelas.

Do lado das empresas, há muita vontade de avançar e investir em força. Esta semana, a organização Hydrogen Europe, que reúne 160 empresas, incluindo as portuguesa Galp, AFS – Advanced Fuel Solutions, e Caetano Bus, deu conta do envio de uma carta a Bruxelas na qual 93 CEO se unem para promover o hidrogénio como o motor da economia pós-coronavírus. Os signatários garantem estar “prontos para investir massivamente no uso generalizado do hidrogénio”.

De acordo com as contas da Hydrogen Europe, ter toda a cadeia de valor do hidrogénio pronta até 2030 custará cerca de 430 mil milhões de euros, incluindo 145 mil milhões de apoio público. Só para escalar a produção até 2030 serão necessários 220 mil milhões de investimento, referiu a associação num relatório de abril, dos quais 160 mil milhões para renováveis e 95 mil milhões do setor público. Já para as infra estruturas e armazenamento o valor ronda 120 mil milhões, enquanto o setor das aplicações do hidrogénio vai precisar de 90 mil milhões. O relatório assume que, daqui a 10 anos, a procura de hidrogénio será de 16,9 milhões de megatoneladas, cerca de metade provenientes de fontes renováveis, enquanto o restante virá da energia nuclear, do gás natural e até do carvão.

O primeiro anúncio de uma aliança para o hidrogénio surgiu a 10 de março março, quando a Comissão Europeia apresentou a sua nova Estratégia Industrial, que prevê a descarbonização de várias indústrias altamente poluentes. Desde aí, a pandemia de Covid-19 tomou conta da Europa e obrigou a Comissão Europeia a adiar os seus planos de criar uma parceria entre vários países europeus para produzir hidrogénio verde a partir de energias renováveis. Bruxelas está agora a ultimar o documento que deverá ser apresentado nas próximas semanas, ainda no mês de junho.

Também em Portugal, a apresentação da estratégia nacional para o hidrogénio verde, conhecida recentemente e que o Governo espera que atraia 7 mil milhões de euros de investimento, foi adiada alguns meses. O mesmo aconteceu com a assinatura do memorando de entendimento entre Portugal e Holanda para a criação do projeto Green Flamingo, que chegou a estar prevista para março ou abril, e que não tem ainda nova data marcada.

A nova Aliança para o Hidrogénio Limpo assume particular importância numa altura em que Portugal, Países Baixos e investidores privados ultimam o plano para a instalação em Sines de um centro produtor deste combustível a partir de energia solar. Outros Estados-membros — como a Alemanha e a Dinamarca — estão igualmente a apostar no hidrogénio.

A Comissão Europeia acredita que o hidrogénio verde terá um papel fundamental na transição energética — no âmbito do Green Deal europeu –, na resposta da UE à crise e relançamento da economia. Bruxelas prepara agora uma nova estratégia sobre a integração inteligente dos sistemas energéticos, prevendo-se que o hidrogénio limpo desempenhe um papel de destaque.

“O hidrogénio limpo é uma parte vital de qualquer estratégia para uma economia totalmente neutra em termos de clima, principalmente nos setores em que a descarbonização é mais difícil. Será o caso, por exemplo, em vários setores industriais, como as indústrias siderúrgica e química, bem como o transporte”, disse um porta-voz da Comissão Europeia ao ECO/Capital Verde. “O hidrogénio limpo tem o potencial de contribuir para uma transição verde e para a recuperação económica após esta crise”.

Num discurso em maio, perante os eurodeputados, a presidente do Executivo comunitário, Ursula von der Leyen, já tinha destacado o hidrogénio limpo e as energias renováveis como dois dos setores fundamentais em que é necessário investir para relançar a economia.

É neste contexto que a Comissão está a preparar a nova estratégia para a integração inteligente do setores energéticos que deverá apresentar ainda este mês – possivelmente a 24 de junho, segundo agenda indicativa. Essa estratégia deverá esboçar as próximas iniciativas para facilitar o planeamento de infraestruturas integradas bem como regras de mercado para o hidrogénio, segundo o porta-voz, em Bruxelas. “O papel exato do hidrogénio no futuro mix energético da Europa dependerá da escala do consumo direto de energias renováveis, da eletrificação de setores difíceis de descarbonizar e de melhorias na eficiência energética”, acrescentou.

O lançamento da Aliança para o Hidrogénio Limpo servirá também para a Comissão Europeia juntar investidores e parceiros governamentais, institucionais e industriais — à semelhança do que já acontece com a Aliança para as Baterias que Portugal integra. Bruxelas considera que esta aliança europeia pode ser uma mais-valia para uma coordenação mais estreita ao longo da cadeia de valor. A nova parceria entre países no contexto do hidrogénio deverá permitir identificar necessidades tecnológicas, oportunidades de investimentos e barreiras regulamentares.

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