Como “Caracolinhos e Os Três Ursos” podem ajudar o Reino Unido a sair da UE
Se o Governo de Theresa May conseguir assegurar um Brexit "moderado", em que chegue a consensos com todas as partes, é possível que a economia britânica não seja tão desastrosamente afetada.
Goldilocks, ou Caracolinhos Dourados, passeava numa floresta quando encontra uma casa onde vivem três ursos. Com a casa vazia, a criança decide entrar e experimentar a comida e a cama de cada um dos ursos, concluindo que um dos elementos está sempre num extremo (demasiado quente ou demasiado grande) ou noutro (demasiado fria ou demasiado pequena). Mas há sempre um, o equilíbrio entre os extremos, que está mesmo no ponto.
O princípio de Goldilocks, que resulta da história infantil, é simples: em determinada amostra, há elementos que pertencem aos extremos, mas haverá sempre o elemento que pertence à média. Quando aplicado à economia, o princípio sustenta que um crescimento económico moderado e uma inflação baixa permitem uma política monetária também moderada.
É precisamente esse princípio que poderá ajudar a minimizar os estragos que a saída da União Europeia poderá trazer para o Reino Unido: se o Governo britânico conseguir assegurar um Brexit Goldilocks, em que chegue a consensos com todas as partes — nacionais e europeias –, é possível que a economia britânica não seja tão desastrosamente afetada como se espera, defende o Morgan Stanley, numa nota de research.
Na nota assinada por Jacob Nell e Melanie Baker, os economistas do Morgan Stanley reconhecem que o mais provável é que se verifique uma gradual desaceleração da economia britânica após a saída do Reino Unido da União Europeia, mas acreditam que “o acordo certo” pode minimizar estes efeitos.
Para o banco de investimento, se esse “acordo certo” for alcançado, há quatro áreas chave que vão influenciar a evolução da economia britânica a partir do momento em que o Brexit arranque:
- Emprego: “A destruição de postos de trabalho poderá ser muito mais branda e prolongada no tempo” do que se antecipa. “O Brexit está a mais de dois anos de distância, o que, potencialmente, atrasa as mudanças estruturais que podem levar a perda de empregos em alguns setores. Isso poderá ajudar a que a procura interna se mantenha elevada”.
- Salários: Há “riscos crescentes” para a evolução dos salários, por várias razões: o salário mínimo nacional vai aumentar mais 4,2% em abril; com o Reino Unido perto do emprego pleno, os trabalhadores poderão exigir (e ver-lhes concedido) um maior aumento salarial para compensar o aumento da inflação; poderá haver uma queda acentuada nos fluxos migratórios, pressionando ainda mais o mercado de trabalho. Mais importante, se a evolução dos salários continuar a crescer de forma acentuada, o Banco de Inglaterra poderá ver-se obrigado a aumentar as taxas de juro para evitar um “sobreaquecimento económico”, isto é, um cenário em que a oferta é insuficiente para responder à procura.
- Preços: A procura interna poderá também ser impulsionada pela guerra de preços que tem sido protagonizada pelos supermercados britânicos Tesco e Sainsbury’s e pelos alemães Aldi e Lidl. “Isso dá grande margem às famílias para pouparem dinheiro nas compras para a casa”. Se isso acontecer, “a procura interna vai aguentar-se, apesar da inflação”.
- Crédito: Há ainda espaço para uma maior flexibilização das condições de crédito e as perspetivas são de que a concessão de crédito aumente mesmo com o Brexit à porta. “Os bancos estão muito mais bem capitalizados que no período que antecedeu a crise financeira global. Agora, são capazes de resistir a uma crise sem terem de reduzir a concessão de crédito”.
Contudo, o Morgan Stanley deixa claro que um cenário Brexit Goldilocks é pouco provável, sobretudo tendo em conta que a primeira-ministra britânica, Theresa May, é mais favorável a um “Brexit total”.
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