7.000 famílias pediram ajuda à Deco desde o estado de emergência. Mais de 70% devido à pandemia

Mais de 70% dos pedidos de aconselhamento financeiro feitos junto da Deco desde 18 de março surgiram no seguimento da pandemia. Reestruturação de crédito e moratórias na base da maioria dos pedidos.

A pandemia está a levar muitos portugueses a procurar aconselhamento financeiro junto da Deco. Desde a imposição do estado de emergência, foram já 7.000 as famílias a fazê-lo, avançou ao ECO a associação de consumidores, sendo que mais de 70% das situações prendem-se com questões decorrentes dos efeitos económicos da pandemia.

Os dados disponibilizados referem-se ao período entre 18 de março, data em que foi implementado o estado de emergência no país, e o final de junho. Do total de 7.000 pedidos de esclarecimento acolhidos, 500 acabaram por dar origem à abertura de processos, em que a Deco procura ajudar a reequilibrar a situação financeira desses consumidores.

Face ao quadro dos pedidos de aconselhamento que agora está a receber, a associação recusa-se a fazer comparações com o período homólogo. “As causas e o tipo de pessoas que está a pedir ajuda são completamente diferentes“, diz Natália Nunes, coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco. “Se no ano passado falávamos de situações muitas delas estruturais e que já vinham de trás, este ano estamos a falar de muitos casos de famílias que em janeiro e fevereiro tinham uma situação financeira perfeitamente normal, mas que a partir de março sofreram uma rutura completa“, esclarece a este propósito.

Âmbito dos pedidos de aconselhamento

“Os pedidos de ajuda são decorrentes deste momento que nós vivemos”, reforça a especialista, especificando que as perdas de rendimento e agora ainda com maior preponderância o desemprego, se destacam como estando na origem dos problemas de quem contacta a Deco em busca de aconselhamento financeiro neste período de crise. Do total de pedidos, o desemprego estava na base de 26% dos problemas financeiros reportados, seguindo-se a perda de rendimentos com um peso de 25%.

Os dados reportados pela associação de defesa dos consumidores indicam ainda que mais de 70% dos pedidos de aconselhamento relacionam-se com consequências financeiras diretas da pandemia.

"Se no ano passado falávamos de situações muitas delas estruturais e que já vinham de trás, este ano estamos a falar de muitos casos de famílias que em janeiro e fevereiro tinham uma situação financeira perfeitamente normal, mas que a partir de março sofreram uma rutura completa.”

Logo no topo, surge destacada a reestruturação de créditos, com um peso de 45%. Segue-se o aconselhamento sobre medidas Covid-19, concentrando 26% do total de pedidos dos consumidores, com o enfoque sobretudo em questões sobre as moratórias no crédito. O pódio é fechado por dúvidas relacionadas com penhoras de bens e rendimentos (8%), concentrada em dúvidas relacionadas também com o acesso às moratórias.

Causas dos problemas financeiros

“O principal aspeto para que as pessoas querem ajuda e aconselhamento é precisamente para reestruturar e fazer baixar o peso que as prestações têm no seu rendimento, seja porque foram prejudicadas pelo desemprego, seja porque tiveram perda de rendimento resultante de lay-off, recibos verdes ou rendimentos informais”, esclarece a este propósito Natália Nunes.

Salienta ainda os pedidos de esclarecimento relacionados com a insolvência das famílias, que representam 4% do total de pedidos de esclarecimento. “São casos que refletem alguma preocupação” diz, falando em concreto ainda no exemplo de muitas famílias que tinham pequenos negócios e que de um momento para o outro deixaram de ter rendimentos. “Muitas vezes, essas famílias procuram aconselhamento no sentido de avaliar se a insolvência é uma saída para a situação delas“, explica.

Rendimentos baixos e altas taxas de esforço

À semelhança do quadro global, no que respeita aos 500 processos de intervenção abertos pela Deco desde o início da pandemia, as perdas de rendimento e o desemprego encabeçam as causas de dificuldades dos consumidores, em 36% e 26% das situações reportadas, respetivamente. Seguem-se em 12% dos casos problemas de doença muitas vezes associadas ao Covid-19.

O retrato feito pela Deco indica ainda que 50% das pessoas a que está a ser dado apoio com vista ao reequilíbrio da respetiva situação financeira diz respeito a trabalhadores do setor privado, com a maior parte dessas situações a dizerem respeito a consequências de lay-off e de reduções de comissões.

Situação profissional nos processos abertos

A coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco revela especial preocupação face aos baixos rendimentos e elevados níveis de endividamento associados a esses processos. “Aquilo que nós vemos, e com alguma preocupação reflexo do momento que estamos a viver, é que temos famílias com muito baixos rendimentos — em média de mil euros líquidos mensais — e com taxas de esforço bastante elevadas em que 750 euros são absorvidas pelos créditos. Estamos a falar de famílias com taxas de esforço de 75%”.

"As famílias têm vindo a adiar uma série de encargos e possivelmente vai ser muito mais difícil quando forem chamadas a pagar esses valores.”

E o futuro não se avizinha risonho para a saúde financeira das famílias, com Natália Nunes a alertar para a situação que se instalará quando terminarem alguns apoios, destacando nesse âmbito as moratórias, que permitem adiar o pagamento das prestações do crédito. Aponta para que o primeiro choque venha a acontecer em setembro, data em que termina a moratória no crédito da ASFAC. O segundo choque antecipa para março de 2021, quando acabarem as moratórias da Associação Portuguesa de Bancos (APB) e a legal.

“As famílias têm vindo a adiar uma série de encargos e possivelmente vai ser muito mais difícil quando forem chamadas a pagar esses valores”, antecipa.

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