Fundo soberano nacional? É assim o exemplo que Costa Silva quer em Portugal
Irlanda é o modelo que o consultor aconselha Portugal a seguir. É um fundo que investe para apoiar a economia, mas também tem propósitos comerciais. Em cinco anos, gerou retorno de mil milhões.
Um fundo soberano português poderia ser uma opção para o Estado ajudar as empresas portuguesas a recuperarem da crise. Esta é uma das ideias de António Costa Silva, o gestor independente que apresentou ao Governo, na semana passada, uma proposta de Plano de Recuperação Económica. Para expor a possibilidade, deu o exemplo do fundo irlandês.
“No Plano de Recuperação a questão da recapitalização é vital, tendo em conta os constrangimentos do país“, começa por dizer Costa Silva, que faz um retrato da realidade portuguesa: escassos investidores institucionais com predisposição para investir em capital, fundos de capital com pequena escala e fundos de ações limitados.
Estes fatores impedem o apoio a estratégias de crescimento e são “obstáculos” ao financiamento das empresas portuguesas, com apenas 3% das PME a encontrarem alternativas à dívida. “A cultura das empresas é baseada na preferência por subsídios e há falta de interesse e baixa literacia para solicitar financiamento de capital”, aponta.
Por isso, o consultor propõe a criação de um banco de fomento ou de um fundo soberano. E explica qual o modelo a seguir. “A Irlanda tem um Fundo Soberano que tem feito um trabalho notável no apoio à economia e à capitalização das empresas irlandesas“, aponta.
"A Irlanda tem um Fundo Soberano que tem feito um trabalho notável no apoio à economia e à capitalização das empresas irlandesas.”
Criado em 2014, o Ireland Strategic Investment Fund (ISIF) resulta da transferência dos ativos que estavam no fundo de pensões nacional irlandês para que o valor em caixa pudesse ser investido na economia do país.
“O mandato do ISIF é investir numa perspetiva comercial e de forma pensada para apoiar a atividade económica e o emprego na Irlanda”, explica o fundo, na apresentação da estratégia até 2040. Apesar de ter este objetivo, deixa claro que o dinheiro que aloca não são subsídios. Sendo um investidor comercial, o ISIF “espera recuperar o investimento inicial acrescido de um retorno”, o que é “completamente diferente da alocação de despesa pública”.
Mas também clarifica que não é um fundo criado só para gerar rendimentos financeiros. “Este mandato único reflete a diferença face a um fundo de riqueza soberana somente focado na criação de riqueza”, refere. “Por outras palavras, o nosso sucesso é medido tanto pelo retorno dos investimentos como pelo impacto económico gerado”.
"O ISIF espera recuperar o investimento inicial acrescido de um retorno”, o que é “completamente diferente da alocação de despesa pública.”
Os ativos do fundo soberano totalizam atualmente 15,1 mil milhões de euros, sendo que o investimento é feito tanto diretamente (com a compra de ações, obrigações ou imobiliário), como indiretamente (através de fundos, mecanismos de capital, venture capital, entre outras opções) para chegar a maior número de setores e a empresas de dimensões diferentes.
Os últimos dados, referentes ao fecho de 2019, indicam que o fundo gerou ganhos de mil milhões de euros desde que foi criado. Gerido pelo Tesouro irlandês, o ISIF vai recebendo diretrizes do ministério das Finanças sobre o foco do investimento.
No final do ano passado, havia cinco pilares de investimento:
- desenvolvimento regional;
- mercado imobiliário;
- comércio local;
- alterações climáticas e
- setores afetados pelo Brexit.
No entanto, o mundo mudou desde então e a Covid-19 tornou-se o tema central. “Após a revisão pelo ministro das Finanças [Paschal Donohoe] do potencial apoio à economia irlandesa durante a pandemia de Covid-19, foi pedido ao Fundo de Investimento Estratégico da Irlanda que foque o investimento em empresas irlandesas de média e grande dimensão através do Fundo de Estabilização e Recuperação Económica“, anunciou recentemente.
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