Centeno cumpre “todas as condições” para o cargo de governador do BdP, diz Elisa Ferreira
Antiga vice-governadora do Banco de Portugal diz que Mário Centeno “tem todas as condições” para ser governador do BdP e que não representa “um conflito de interesses”.
A antiga vice-governadora do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, considera que Mário Centeno “tem todas as condições” para ser governador, com um perfil que constitui “um alinhamento de interesses” com a exigência do cargo, e não “um conflito de interesses”.
“Eu acho que muitas vezes as leituras mais de curto prazo, muito simples, muito mediáticas, das condições para que as pessoas exerçam as funções não podem ofuscar a necessidade de termos pessoas sérias, competentes, honestas, independentes, que pensam por si e no interesse nacional. E eu acho que Mário Centeno tem todas as condições para exercer bem essas funções. É uma pessoa conhecida na Europa, é uma pessoa influente, é uma pessoa que pertenceu ao Banco de Portugal”, apontou a comissária europeia, em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas.
Elisa Ferreira salientou que “os bancos centrais têm sido bastante mais importantes do que aquilo que o comum dos cidadãos percebe, e ainda bem que assim é”, sublinhando que, “quer ao nível da supervisão dos bancos, no caso português, quer ao nível da política macroeconómica, quer ao nível da política monetária, a presença de um Banco de Portugal, de um banco central, forte, é fundamental”.
“Também faço notar que [o antigo presidente do Banco Central Europeu] Mario Draghi tornou-se famoso e era alguém que o comum dos cidadãos não conhecia, mas na hora da verdade a política monetária foi aquela que esteve, na outra crise [financeira de 2008], mais à altura de dar uma resposta adequada, e ele funciona num Conselho de Governadores, onde estão todos os governadores dos bancos centrais”, observou.
A antiga vice-governadora do Banco de Portugal fez notar que, “quando um supervisionar nacional faz supervisão, procura, antes de mais nada, garantir a estabilidade do sistema financeiro, porque se o sistema financeiro entrar em disrupção, isso sim é uma crise que fica muito cara aos contribuintes”.
“Nesse sentido, há elementos que são positivos e não negativos, que é de um certo alinhamento de os bancos fazerem uma gestão o mais exigente, o mais transparente e prudente possível, precisamente porque se essa gestão não for feita, o impacto sobre o sistema é brutal e, no fim, é o erário público que tem de garantir a estabilidade do sistema financeiro”, realçou.
Elisa Ferreira observou, por outro lado, que, “quando às vezes se discutem valores, os valores de intervenção num banco não podem ser comparados com outras alternativas, como hospitais ou creches, em que aquele dinheiro podia ser investido, [mas] tem de ser comparado com o que o erário público teria de pagar para garantir os depósitos cobertos e depósitos de PME [pequenas e médias empresas] que estão associados a determinado banco”.
“Mais de 25% do PIB [produto interno bruto] da UE foi associado à estabilização dos bancos europeus, algum depois foi completamente gasto, outro foi recuperado, mas de facto ninguém gosta de gastar este dinheiro, mas também ninguém gosta de ter um depósito num banco e depois o banco falir”, notou.
Apontando que “há muito discurso que se faz e que acaba por não ir ao fundo das discussões, e isto aconteceu não só em Portugal, como em toda a Europa”, Elisa Ferreira insistiu que “uma falência de um banco é, por definição, uma grande crise e a crise de 2008 trouxe, precisamente, esse risco”, e lembrou que os norte-americanos, “que são tão liberais, o primeiro gesto que fizeram foi dar uma garantia do Estado americano aos cidadãos depositantes no valor de […] 250 mil dólares e subiram essas garantias, precisamente porque a estabilidade do sistema financeiro é um valor público em si”.
Face à importância do cargo de governador de um banco central, Elisa Ferreira reforça então estar absolutamente convicta de que “Mário Centeno tem a experiência, tem o conhecimento, tem o know-how, tem a seriedade e tem o alinhamento de interesses de perceber muito bem, muito bem, o quanto uma disrupção num banco que não seja suficientemente robusto para se aguentar por si próprio pode causar às finanças públicas”.
“E aí, acho que há um alinhamento de interesses, e não um desalinhamento ou um conflito de interesses”, defendeu.
“É muito importante que as pessoas sejam sérias, sejam competentes, experientes e que conheçam o mundo que estamos a viver, nomeadamente o mundo europeu e todas as vantagens e desvantagens de uma União Bancária que ainda está incompleta, como o próprio Mário Centeno reconheceu. Só esse reconhecimento já é um valor acrescentado porque fica aqui luzinha acesa a dizer que há aqui um assunto para completar”, concluiu.
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