Com menos lucros e Covid-19, só metade cotadas em Portugal pagam dividendos
Lucros anuais das empresas cotadas na Euronext Lisbon caíram 13% em 2019 face ao ano anterior. Do total, 71% foram distribuídos pelos acionistas, ou seja, serão pagos 2.220 milhões de euros.
A distribuição de dividendos foi penalizada, este ano, por uma quebra nos lucros das empresas e pela pressão gerada pela pandemia. É esta a conclusão da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) no Relatório sobre os Mercados de Valores Mobiliários relativo a 2019. Menos de metade das cotadas em Portugal vai distribuir dividendos.
“A diminuição dos lucros em 2019 e o pessimismo quanto à recuperação da economia no período pós-pandemia Covid-19 conduziram a uma diminuição dos dividendos distribuídos aos acionistas“, aponta o supervisor no relatório que faz o retrato ao setor.
Os lucros anuais das empresas admitidas à cotação na Euronext Lisbon caíram 13% em 2019 face ao ano anterior. Destes resultados, 71% foram distribuídos pelos acionistas (contra 73% em 2018), num total de 2.220 milhões de euros.
“Menos de metade das sociedades cotadas distribuirão em 2020 dividendos relativos ao exercício económico de 2019, o que acontecerá por duas ordens de razões: por um lado, o montante de lucros obtidos caiu em relação ao ano anterior; por outro lado, o choque gerado pela pandemia inverteu o ciclo económico”, explica.
A própria CMVM tinha alertada as cotadas para que tivessem prudência na remuneração dos acionistas e que fossem transparentes na informação disponibilizadas aos acionistas em relação ao impacto da pandemia nas contas.
Revela agora que a recomendação está a surtir efeito já que “neste contexto, algumas empresas decidiram reforçar os capitais próprios e assim contribuir para o financiamento da respetiva atividade em situação de crise“. No entanto, a estratégia traduz-se não só num payout ratio como também num dividend yield inferiores aos verificados no ano anterior, embora elevados.
Lucros obtidos e distribuídos pelas cotadas em Portugal
CMVM pede às cotadas que usem lucros para reforçar capitais próprios
A quebra na remuneração acionista levou igualmente a um ligeiro aumento na proporção de lucros retidos para autofinanciamento. A CMVM considera, no entanto, que dada a situação de crise, os constrangimentos ao financiamento em mercado e a elevada dependência da banca, as cotadas deviam reforçar ainda mais os capitais próprios.
“Sendo conhecidos os níveis de endividamento de muitas empresas, que se refletem no aumento de risco, nas notações de risco atribuídas e nas condições de acesso aos mercados financeiros, seria importante que as empresas mais endividadas reforçassem os capitais próprios através da retenção de lucros pois a insuficiência de capitais próprios é uma forte limitação à capacidade de investimento e à expansão”, diz.
Os efeitos negativos da Covid-19 tornam-se essa necessidade mais clara, segundo o supervisor liderado por Gabriela Figueiredo Dias. Alerta que “expectável” que a performance financeira das empresas sofra um forte impacto pelo menos em 2020, “o que poderá dificultar ainda mais o seu financiamento” através do mercado de capitais. “É, pois, expectável que o investimento empresarial continue assente sobretudo no recurso ao crédito bancário e no autofinanciamento”, aponta.
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