Da Covid-19 à Justiça, estes são os 13 principais riscos no aumento de capital da EDP

Arranca a 23 de julho a operação de compra de novas ações a 3,30 euros cada. É direcionada a acionistas e outros investidores que adquiram direitos de subscrição.

A EDP avançou com um aumento de capital de 1.020 milhões de euros para comprar a empresa Viesgo em Espanha. O prospeto da operação, com 965 páginas, já foi enviado pela elétrica à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Como é habitual, os riscos são uma parte importante do documento.

A operação de compra de novas ações a 3,30 euros cada é direcionada exclusivamente a acionistas e outros investidores que adquiram direitos de subscrição. Na segunda-feira, 20 de julho, os títulos da EDP negociaram pela última vez com direitos para participar no aumento de capital. Estes direitos foram destacados da cotação, começando a ser negociados separadamente em bolsa a 23 de julho, embora a cotação dependa da evolução das ações da empresa pois porque o ativo subjacente é o mesmo.

É neste dia 23 que arranca o período de subscrição das novas ações da elétrica portuguesa. A negociação dos direitos vai prolongar-se até dia 3 de agosto e o prazo de subscrição das novas ações até 6 de agosto. Mas antes de decidir se vale ou não a pena investir, importa conhecer os vários riscos.

“Um investimento em ações, incluindo nas ações e/ou subscrição de direitos, envolve um elevado nível de riscos. Potenciais investidores devem considerar cuidadosamente toda a informação no prospeto e documentos anexos, incluindo os fatores de risco, antes de decidir investir em novas ações”, alerta a EDP.

Entre as 46 páginas dedicadas a riscos, estes são os 13 principais:

1. Queda do preço de venda de eletricidade e gás pode penalizar lucros

O preço de venda e o lucro bruto por unidade de energia vendida pela EDP podem diminuir significativamente devido a uma deterioração das condições do mercado e/ou exposição ao mercado local de certas centrais elétricas. Um declínio no lucro bruto por unidade de eletricidade ou gás natural pode ter um impacto adverso em cada um dos segmentos de negócio do grupo EDP, nomeadamente nas atividades nos mercados liberalizados de eletricidade e gás natural, totalmente expostos ao risco de mercado.

2. Rentabilidade das centrais hidroelétricas, eólicas e solares depende do clima

Condições climáticas adversas têm afetado e podem continuar a afetar a rentabilidade das centrais hidroelétricas, eólicas e solares da EDP. Como o resultado da produção de eletricidade a partir das centrais elétricas da EDP em funcionamento e em construção ou desenvolvimento “depende de forma significativa das condições climáticas”, condições climáticas adversas podem significar receitas e margens brutas inferiores para a EDP. Em 2019, os volumes de eletricidade produzida através de fontes hídricas da EDP na Ibéria caíram 26% de 13,3 TWh em 2018 para 9,8 TWh em 2019, após níveis historicamente baixos de precipitação em Portugal, o que teve um impacto adverso nos resultados financeiros da EDP para o período.

3. Procura pode variar

Alterações significativas na procura de eletricidade e gás natural nos mercados em que a EDP opera podem ter um impacto material na rentabilidade das atividades comerciais da EDP, tais como as atividades de produção e fornecimento.

4. Regulação e legislação pode mudar nos vários países

As leis e regulamentos que afetam as atividades da EDP nos países em que opera podem variar de acordo com a jurisdição e podem estar sujeitas a modificações, incluindo aquelas resultantes do vencimento ordinário de prazos regulatórios, imposição unilateral por parte de reguladores e autoridades legislativas ou como resultado de procedimentos ou ações judiciais ou administrativas.

Além disso, leis e regulamentos adicionais podem ser criados, incluindo como resultado de ações promovidas por terceiros ou lobbying levado a cabo por grupos de interesses especiais. Qualquer dessas alterações pode tornar essas leis e regulamentos mais restritivos ou de outra forma menos favoráveis à EDP, e, por conseguinte, ter um efeito material adverso nos negócios, situação financeira, resultados de operações e perspetivas da EDP.

5. Implementação do plano estratégico pode falhar

“A EDP pode falhar na implementação do seu plano estratégico, o que pode ter um efeito adverso relevante nos negócios, na condição financeira, nos resultados das operações e nas perspetivas do grupo”, diz. A elétrica apresentou o update estratégico aos investidores em março de 2019, estabelecendo a visão e os segmentos operacionais que conduzirão aos resultados da EDP e permitirão que cumpra as metas definidas. “A falha em cumprir ou executar a sua estratégia pode afetar significativamente os resultados e a reputação da EDP e afetar adversamente o valor atribuído pelos investidores à Sociedade”.

6. Integração da Viesgo não está garantida

O aumento de capital pretende financiar a compra da empresa de energias renováveis Viesgo, em Espanha, mas a EDP lembra que está sujeita a riscos relacionados com aquisições e desinvestimentos e a falta de sucesso em concluir estas transações e/ou integrar negócios adquiridos, em particular a transação Viesgo. Se assim for, pode ter um efeito adverso relevante nos respetivos negócios e resultados operacionais.

Não há garantia de que as condições a que a conclusão da transação Viesgo está sujeita serão satisfeitas nem que a mesma será concluída dentro do prazo estimado ou de todo”, diz. “Além disso, investimentos ou desinvestimentos adicionais podem ter um efeito adverso relevante no Grupo EDP bem como os desinvestimentos adicionais necessários de acordo com a estratégia de rotação de ativos da EDP poderão não ser concluídos pela EDP”.

7. Recessão causada pela Covid-19 vai pesar na estratégia

A EDP está exposta a incertezas nas condições macroeconómicas, políticas e sociais nos países em que opera. A pandemia de Covid-19 teve um impacto adverso significativo na economia global, incluindo reduções acentuadas do PIB em mercados-chave da EDP, como na União Europeia, Estados Unidos e Brasil. O impacto da pandemia é incerto e não há garantia de que não terá um efeito adverso relevante nos resultados da EDP e na capacidade de cumprir o plano estratégico.

8. Concorrência crescente pressiona

A EDP está sujeita a crescente concorrência nos mercados e regiões onde opera. Alterações estruturais na concorrência nos mercados em que a EDP opera podem ter um impacto na atividade comercial, tais como entrada de novos participantes no mercado, queda na procura, excesso de capacidade ou o lançamento de campanhas ou produtos ou serviços de marketing podem afetar a quota de mercado, as perspetivas de crescimento e a rentabilidade da EDP.

9. Suspensão de Mexia e Manso Neto pesa na reputação

Nos termos de uma investigação relacionada com montantes devidos em relação à rescisão antecipada de certos CAE e com os custos de manutenção do equilíbrio contratual e certos pagamentos efetuados em relação aos seus direitos à utilização do Domínio Público Hídrico, certos membros do Conselho de Administração Executivo do Emitente estão atualmente suspensos de funções: António Mexia da presidência da EDP e João Manso Neto da EDP Renováveis.

“Não é possível prever qualquer resultado nesta fase do processo. Qualquer desenvolvimento deste tipo poderia ter um efeito material adverso na reputação da EDP, na sua situação comercial, financeira e/ou nos resultados das operações“, alerta.

10. Arguida EDP vai ter despesas legais

A EDP foi notificada de que, no contexto da investigação, os Serviços do Ministério Público solicitaram que a EDP fosse nomeada como arguida relativamente à alegada contratação indevida do pai do antigo Secretário de Estado da Energia, Artur Trindade, “o que poderá ter um efeito material adverso na reputação da EDP, na sua situação comercial, financeira, e/ou nos resultados das operações”.

“Uma vez que a investigação está em curso, não há qualquer garantia quanto ao seu resultado final, inclusive se serão apresentadas quaisquer acusações contra a EDP pelo Ministério Público. Embora não seja possível prever o resultado de qualquer dos procedimentos nesta fase do processo, estas questões poderão exigir uma atenção considerável por parte da direção da empresa e resultar em despesas legais e outras despesas significativas“, acrescenta.

11. Flutuações das taxas de câmbio estrangeiras podem afetar resultados

A EDP está sujeita ao risco de moeda estrangeira transacional, bem como a flutuações cambiais que podem ocorrer quando a EDP apresenta receitas numa moeda e custos noutra ou os seus ativos ou passivos são denominados em moeda estrangeira e há uma flutuação adversa da moeda no valor dos ativos líquidos, dívida e receita denominada em moedas estrangeiras (e, no caso extremo, controlo de taxa de câmbio e capital), que a EDP tenta cobrir.

As exposições cambiais mais importantes da EDP são o dólar norte-americano e o real brasileiro, tendo este último registado no passado uma elevada volatilidade e mais recentemente, no meio da pandemia Covid-19, depreciou-se 24% entre 31 de dezembro de 2019 e 31 de maio de 2020. Se a EDP não conseguir atenuar os efeitos das flutuações das taxas de câmbio, poderá ter um impacto na sua condição financeira e resultados operacionais.

12. É preciso financiar despesas de capital planeadas

As atividades comerciais da EDP exigem um capex significativo, que a empresa estima financiar com fundos provenientes das atividades operacionais e receitas com a venda de ativos. No entanto, se essas fontes não forem suficientes, a EDP pode precisar de financiar parte do capex planeado com base em fontes externas, incluindo empréstimos bancários, ofertas no mercado de capitais, parcerias institucionais de capital, subsídios públicos ou desinvestimentos. “Nenhuma garantia pode ser dada de que a EDP consiga levantar o financiamento necessário para o seu capex planeado em termos razoáveis ou de todo”.

13. Retornos futuros podem não se concretizar

Os negócios da EDP requerem investimentos iniciais elevados com base em previsões e estimativas de retornos futuros que podem não se concretizar. A EDP tem necessidades significativas de construção e de capex e a recuperação do seu investimento de capital demora um período substancial.

Adicionalmente, a EDP efetua investimentos capex e compromissos de longo prazo significativos com base em previsões sobre determinados parâmetros de investimento, incluindo preços, volumes e taxas de juros que podem mostrar-se imprecisos. “Se a EDP não for capaz de obter o financiamento necessário para o seu capex planeado em condições aceitáveis ou não conseguir de todo, isto pode ter um efeito adverso no seu negócio, condição financeira, resultados de operações e perspetivas”, acrescenta.

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