Pontes, aeroportos e estádios. O que se pode comprar com 15,3 mil milhões que vêm da União Europeia?
Portugal vai receber 15,3 mil milhões da União Europeia, montante que vai servir para colmatar os efeitos provocados pela pandemia. É muito? Veja o que se poderia comprar com este "cheque".
Cinco dias de intensas negociações entre os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) ditaram para Portugal um cheque com vários zeros. Vão chegar dezenas de milhares de milhões de euros ao longo dos próximos anos, sendo que uma parte, no valor de mais de 15 mil milhões de euros, é dinheiro que vem a fundo perdido.
O acordo alcançado entre os líderes europeus prevê um pacote total de mais de 1,8 biliões de euros para investir na recuperação da UE após a crise provocada pelo coronavírus. Na parte referente ao Fundo de Recuperação, desenhado especificamente para o pós Covid-19, há 750 mil milhões de euros para todos os países, uma parte em empréstimos e outra sob a forma de subvenções.
Desse dinheiro, Portugal receberá 10,8 mil milhões de euros em empréstimos, mas uma “fatia” mais expressiva do “cheque” vem a fundo perdido: 15.300.000.000 euros. Ou seja, 15,3 mil milhões de euros.
É mesmo muito dinheiro. São muitos zeros. Tantos zeros que não é fácil, olhando apenas para o número, perceber a verdadeira dimensão desta ajuda sem utilizar alguns exemplos.
Para ajudar a ter a real noção do “cheque”, poderá ajudar se lhe dissermos que daria para construir o equivalente a 17 Pontes Vasco da Gama, ou para dotar Lisboa de mais 36 hospitais. Ou fazer mais de uma centena de estádios iguais ao Estádio da Luz. Veja alguns exemplos.
140.000 casas de renda acessível
As verbas que vêm da UE também poderiam ser canalizadas para dar resposta a um dos problemas mais graves do país — o acesso à habitação. Tendo por base o investimento municipal mais recente, o Programa de Renda Acessível da Câmara de Lisboa, em que a autarquia vai investir 14 milhões de euros na construção de 128 casas de renda acessível em Entrecampos (média de 109.000 euros cada uma), nos terrenos da antiga Feira Popular, o Governo poderia usar os 15,3 mil milhões de euros para construir cerca de 140 mil habitações de renda acessível para os portugueses.
36 hospitais em Lisboa
A 1 de agosto de 2017, o Governo anunciou a construção do novo Hospital de Lisboa Oriental, em Chelas, em regime de parceria público-privada (PPP). Nessa altura, falava-se que esta obra iria custar 432 milhões de euros, de acordo com o Jornal de Negócios. Contudo, no ano passado, esse valor caiu para 415,1 milhões de euros. O novo hospital visa substituir os seis hospitais do Centro Hospitalar de Lisboa Central: Capuchos, São José, Santa Marta, Curry Cabral, Dona Estefânia e a Maternidade Alfredo da Costa. Esta verba que vem dos cofres da UE daria para construir 36 hospitais como este.
2.013 comboios para a CP
Em janeiro do ano passado a CP lançou um concurso público internacional para comprar 22 novos comboios, num valor base de 168,2 milhões de euros. Segundo um diploma dessa altura, a maioria do investimento em causa seria assegurada por fundos europeus, enquanto uma pequena parte (58,8 milhões) seria paga com recurso a verbas nacionais. Tendo em conta este montante e o número de material circulante, os 15,3 mil milhões que Portugal vai receber da UE poderiam ser canalizados para comprar 2.013 comboios.
17 pontes Vasco da Gama
Foi a 29 de março de 1998 que se inaugurou a ponte que faria a ligação entre Lisboa e a margem Sul do Tejo. A Ponte Vasco da Gama começou a ser construída em fevereiro de 1995 e, 37 meses depois, estava concluída. Com 17,185 quilómetros, foi considerada, até 2018, a ponte mais comprida da Europa. Esta infraestrutura custou ao Estado português cerca de 897 milhões de euros, de acordo com a construtora Mota-Engil, e hoje, com as verbas que virão da União Europeia, Portugal poderia construir mais 17 pontes como esta.
11 aeroportos do Montijo
1.300 milhões de euros. É quanto a ANA – Aeroportos de Portugal se comprometeu a investir até 2028 no novo aeroporto do Montijo. O valor inclui não só a reconversão da base onde atualmente está instalada a Força Aérea, como também a expansão do atual aeroporto de Lisboa. O novo aeroporto deverá começar a operar em 2022, segundo o acordo fechado entre o Governo e a ANA, e a intenção passa pela reconversão da atual base aérea num aeroporto comercial, para complementar o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Com o dinheiro destinado a Portugal, o Governo poderia construir 11 aeroportos como este.
15 centros comerciais Colombo
Estava a ser um dos negócios mais ativos até ao início desta pandemia. A compra de centros comerciais, principalmente por parte de fundos internacionais, ia de vento em poupa. E essa poderia ser uma área onde o Governo poderia investir. O centro comercial Colombo, o maior do país com cerca de 115 mil metros quadrados e 342 lojas, detido em partes iguais pela Sonae Sierra e pelo fundo CBRE Global Investors, vale atualmente cerca de mil milhões de euros, disse ao ECO uma fonte do mercado imobiliário. Assim, com as verbas da UE, o Estado poderia comprar 15 centros comerciais como este.
128 Estádios da Luz
A 25 de outubro de 2003 foi inaugurada a nova casa do clube das águias. Localizado em Benfica, o Estádio da Luz tem capacidade para cerca de 65.000 pessoas e custou na altura 118,7 milhões de euros, de acordo com o site Transfermarkt. A ideia inicial era remodelar o estádio antigo, mas acabou por se decidir demolir as instalações existentes e construir umas novas, de acordo com o site Mais Futebol. Feitas as contas, o dinheiro proveniente da UE daria para aplicar na construção de 128 estádios como este.
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