Fundos de investimento sustentável gerem 272 milhões de euros em Portugal

Direcionar financiamento para investimentos sustentáveis não comprometeu rentabilidade. Fundos registaram "rentabilidades comparáveis" a fundos comparáveis e com o mesmo grau de risco.

Há 272 milhões de euros sob gestão dos cinco fundos de investimento sustentável comercializados em Portugal. Os dados são da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que faz também o retrato dos investidores que apostam nestes produtos: são quase 20 mil aforradores individuais.

“Em dezembro de 2019, estavam registados em Portugal cinco fundos ESG [com critérios ambientais, sociais e de governo de sociedades] que, em conjunto, administravam 272 milhões de euros subscritos por 18.309 participantes, maioritariamente pessoas singulares (99,2%)”, diz o supervisor no Relatório sobre os Mercados de Valores Mobiliários relativo a 2019. “As subscrições líquidas destes fundos foram positivas nos três últimos anos”.

Os fundos disponíveis dividem-se por três gestoras de ativos. A IM Gestão de Ativos (IMGA) comercializa um fundo de obrigações, o IMGA Iberia Fixed Income ESG – Fundo de Investimento Mobiliário Aberto, e outro de ações, o IMGA Iberia Equities ESG. O mesmo acontece com a Caixa Gestão de Ativos (CXA), que tem o fundo Caixa Ações Europa Socialmente Responsável e o Caixa Investimento Socialmente Responsável. O último fundo é o Santander Sustentável, disponibilizado pela Santander Asset Management.

Subscrições, resgates e valor sob gestão dos fundos ESG

O valor é residual quando comparado com o panorama geral do mercado. Havia, no fim do ano passado, 156 fundos de investimento mobiliário responsáveis pela gestão de 13 mil milhões de euros, bem como 210 fundos de investimento imobiliário com 10,5 mil milhões de euros em ativos sob gestão. Ainda assim, revela o interesse dos investidores nacionais por esta tendência.

“Os fundos de investimento mobiliário sustentáveis proporcionam o acesso a uma carteira com características específicas mais direcionadas para investimentos sustentáveis”, refere a CMVM, que explica que este objetivo não compromete necessariamente a rentabilidade. Os cinco fundos ESG em Portugal registaram, para o mesmo grau de risco, “rentabilidades comparáveis” às de fundos que não possuíam estratégia de investimento sustentável.

Exclusão de incumpridores ainda é a estratégia mais comum

“No processo de construção da respetiva carteira, estes fundos atendem, além dos critérios financeiros tradicionais (e.g. risco e retorno), a critérios não financeiros (ambientais, sociais e de melhores práticas de governo societário – do inglês ESG), procurando o retorno financeiro a par do bem social”, explica a CMVM.

De modo a garantir que o investimento é efetuado em ações de empresas que se distinguem pelas melhores práticas em termos de sustentabilidade, os fundos recorrem a índices de ações ou obrigações.

"As subscrições líquidas destes fundos foram positivas nos três últimos anos. Em 2019, estes fundos ESG registaram, para o mesmo grau de risco, rentabilidades comparáveis às de fundos que não possuíam estratégia de investimento sustentável.”

Relatório sobre os Mercados de Valores Mobiliários relativo a 2019

Comissão do Mercado de Valores Mobiliários

A estratégia de exclusão de indústrias ou setores específicos das carteiras continua a ser a mais frequente. Seguem-se a estratégia de inclusão sistemática e explícita de fatores ESG na análise financeira do projeto e a estratégia em que os acionistas influenciam as decisões estratégicas com objetivos ESG.

Da mesma forma, foram também distribuídos em Portugal cinco pacotes de produtos de investimento de retalho (PRIIPs) com características ESG que têm como ativo subjacente um índice ESG (e.g., StoxxGlobal ESG Leaders, MSCI Europe ESG Leaders) ou um cabaz pré-definido de empresas listadas em índices ESG.

Stock de dívida sustentável atinge 271 mil milhões de euros na Europa

A criação de índices acionistas pelas operadoras dos vários mercados e de produtos de investimento pelos intermediários acompanha o crescente interesse de grandes e pequenos investidores. O mesmo acontece com o aumento do recurso a dívida verde por parte dos emitentes.

Apesar de representar apenas 2% do total, as emissões de obrigações sustentáveis tiveram “grande dinamismo em termos de inovação de produtos, de diversidade de emitentes e de cobertura geográfica” no ano passado.

"O crescimento deste tipo de obrigações tem sido impulsionado por fatores como a divulgação de princípios e padrões para a emissão, a avaliação, a gestão e o reporte das obrigações sustentáveis e a incorporação dos fatores ESG nas notações de risco de crédito.”

Relatório sobre os Mercados de Valores Mobiliários relativo a 2019

Comissão do Mercado de Valores Mobiliários

“Além da urgência em contribuir para resolver o problema da insustentabilidade do modelo económico atual, o crescimento deste tipo de obrigações tem sido impulsionado por fatores como a divulgação de princípios e padrões para a emissão, a avaliação, a gestão e o reporte das obrigações sustentáveis e a incorporação dos fatores ESG nas notações de risco de crédito“, explica o supervisor.

Aponta a diversificação dos investidores, a possível diminuição do custo do capital em resultado de uma procura acrescida por este tipo de dívida e motivos associados ao branding e imagem dos emitentes como incentivos adicionais para a emissão de obrigações sustentáveis.

Em termos mundiais, as emissões de obrigações verdes, sociais e sustentáveis atingiram 321 mil milhões de dólares e, na Europa, o stock atingiu os 271 mil milhões de euros. Os emitentes nacionais também emitiram este tipo de dívida, com a EDP a liderar com 3,7 mil milhões de euros em dívida verde (um quarto do total). Além da elétrica, também a Sociedade Bioelétrica do Mondego e o Pestana se juntaram ao grupo.

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