#Episódio 8. A quem Salgado pagou, um nome de código usou

Pititi, Matateu, Castilho, Pargo, Jaguar, Baixinho ou Roadshow são alguns do nomes em código dados a funcionários do GES, de forma a transferir dinheiro de forma oculta. A acusação revela a lista.

Pititi. Matateu. Castilho. Imahala Panzi. Pargo. Caramujo. Hanham. Doismiledez. Jaguar. Labutes. Baixinho. Roadshow. Medufushi. Rabina. Centurion. Alforreca. Poirier. Detox. Tomix. Kombucha. Estes foram os nomes de código que a Justiça conseguiu decifrar ao longo dos seis anos de investigação do chamado processo do Universo Espírito Santo. Nomes dados a alguns funcionários do BES, incluindo um dos filhos de Salgado, que recebiam dinheiro através de quatro empresas diferentes e de forma oculta.

Nas várias páginas de Excel da acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) — conhecida no dia 14 de julho — os sete procuradores aperceberam-se que estes beneficiários estavam identificados todos com pseudónimos e nomes em código, como se de espiões se tratassem.

O ex-líder do BES terá pago prémios e contrapartidas a uma série de funcionários e colaboradores do Grupo Espírito Santo, de forma oculta, através de quatro empresas. E terá conseguido “desviar centenas de milhões de euros, usando linhas de comunicação privadas, via private net, com o propósito de manterem oculta a prática criminosa, reiteradamente desenvolvida ao longo de anos”, explicou a acusação do MP, a que o ECO teve acesso.

E que empresas funcionavam então como sacos azuis? A Enterprises, Alpha Management, Clauster Limited, criadas no Belize e a Balenbrook Investments, criada nas Ilhas Virgens Britânicas. Tudo para despistar as autoridades nacionais. Operações ocultas que serviram para remunerar 15 funcionários do BES, incluindo Ricardo Salgado, datadas entre 2005 e 2014.

Desde logo Isabel Vaz, presidente da comissão executiva do grupo Luz Saúde, identificada pelo pseudónimo Pititi, Tomás Fonseca pelo pseudónimo Matateu, João Novais por Castilho e Ivo Antão por Imahala Panzi. Estes gestores da Espírito Santo Saúde, por exemplo, terão recebido bónus e pagamentos mensais através da Enterprises, no ano de 2011, conforme o Ministério Público conseguiu apurar.

João Freixa, ex administrador do BES, cujo nome de “guerra” era Jaguar, recebeu mais de meio milhão de euros em prestações mensais, entre 2008 e 2013. Ricardo Bastos Salgado, filho de Ricardo Salgado, era o Labutes e terá recebido mais de 500 mil euros euros, através de transferências mensais feitas entre 2008 e 2014.

João Alexandre Silva ganhava nesta corrida. Já que teve direito a três nomes de código: Pargo, Caramujo e Hanham. O ex diretor-geral da sucursal do BES na Madeira, e do Departamento de Banca Internacional do BES recebeu 1,1 milhões de euros da Enterprises, 477 mil e 500 euros da Alpha e 210 mil euros da Balenbrook. Paulo Jorge, seu adjunto, tinha uma conta na Suíça em nome de Doismiledez e terá recebido 971 mil euros via Enterprises e 380 mil euros com o nome Alpha, entre 2010 e 2014.

José Macedo Pereira — antigo revisor oficial de contas de empresas do BES — era o Poirier e terá recebido 47 mil e 500 euros. Pedro Amaral era o Detox e terá recebido 40 mil e 500 euros.

Rui Guerra, que substituiu Álvaro Sobrinho na presidência do BESA, recebeu 40 mil euros e estava identificado como Tomix. José Pedro Caldeira da Silva, que foi diretor-executivo do banco, era o Kombucha.

Teresa Amorim, antiga secretária de Ricardo Salgado, era o Baixinho, tendo recebido perto de 371 mil euros. Elsa Ramalho, que tratava das relações com os investidores, era o Roadshow e recebeu 294 mil euros da Enterprises. Pedro Cohen Serra, do departamento financeiro do BES, era o Medufushi e recebeu perto de 300 mil euros, Paulo Ferreira era identificado como Rabina e recebeu 115 mil euros, Guilherme Moraes Sarmento, que trabalhava na direção de desenvolvimento internacional, tinha uma conta em nome de Centurion (81 mil euros) e Pedro Cruchinho, que viria a ser nomeado presidente da Comissão Executiva do Banco Económico em Angola (que derivou do BESA), tinha outra conta em nome de Alforreca (através da qual recebeu 100 mil euros).

A investigação ao Universo Espírito Santo resultou em 25 acusados, entre 18 pessoas e 7 empresas, segundo o despacho de acusação de 4.117 páginas do Ministério Público. Ricardo Salgado foi acusado de 65 crimes, entre eles o de associação criminosa.

São muitos os crimes de que são acusados, entre eles o crime de associação criminosa e os crimes de corrupção ativa e passiva no setor privado, de falsificação de documentos, de infidelidade, de manipulação de mercado, de branqueamento e de burla qualificada contra direitos patrimoniais de pessoas singulares e coletivas.

De acordo com a Procuradoria-Geral da República, “a investigação levada a cabo e que termina com o despacho de acusação em referência apurou um valor superior a 11 mil e oitocentos milhões de euros, em consequência dos factos indiciados, valor que integra o produto de crimes e prejuízos com eles relacionados”.

Este artigo faz parte de uma série de episódios da “Novela BES” e que contam os bastidores, os negócios, as intrigas, as alianças e as traições que marcaram a queda do Grupo Espírito Santo. As histórias e os relatos têm por base a informação do despacho de acusação anunciado pelo Ministério Público no dia 14 de julho de 2020, no âmbito da investigação ao “Universo Espírito Santo”.

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