Durão Barroso diz que UE sairá em vantagem da pandemia e pode ser terceira potência mundial
Para o ex-presidente da Comissão Europeia, o acordo do Conselho Europeu para que haja uma emissão de dívida em nome da União Europeia é um passo "grande" na construção europeia.
O antigo presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro de Portugal José Manuel Durão Barroso disse esta quarta-feira que o bloco comunitário caminha para sair da pandemia em vantagem como terceira potência global, atrás dos Estados Unidos e da China.
Numa entrevista publicada pelo jornal brasileiro Folha de S.Paulo, Durão Barroso alertou, porém, que para concretizar a ambição de consolidar-se como a terceira potência do mundo a União Europeia (UE) precisará aumentar a sua “capacidade de projetar poder em termos geopolíticos, nomeadamente na política de defesa e segurança, e em certa medida na política externa”.
Questionado sobre acordo que permite ir ao mercado buscar 750 mil milhões de euros para o programa de recuperação da economia dos Estados-membros após a pandemia de covid-19, Durão Barroso disse que “a União Europeia caminha assim, por uma via incremental, passo a passo. Só que às vezes dão-se passos maiores, e este foi um grande”.
Sobre se a perspetiva da UE é melhor agora que antes da crise sanitária, o antigo primeiro-ministro português e antigo presidente da Comissão Europeia mostrou otimismo e lembrou que a última crise que atingiu o bloco permitiu avanços como o Mecanismo Europeu de Estabilidade.
“Há dois erros típicos sobre a Europa. Os mais eurocéticos estão sempre à espera da desintegração. Mas sua resiliência, e a do euro, são muito maiores que o reconhecido”, explicou Durão Barroso. “Outro erro muito comum é o dos mais federalistas, da chamada “bolha de Bruxelas” [cidade que concentra várias das instâncias decisórias da UE], sempre achando que vamos ser os EUA da Europa. Vai ser algo a meio caminho”, acrescentou.
Atuando como consultor em Londres, Durão Barroso também falou sobre os valores europeus em tempos de movimentos autoritários, a relação com a China e os EUA e o futuro do Estado de bem-estar social. Sobre a guerra comercial travada entre norte-americanos e chineses, Barroso Durão avaliou que o bloco europeu estaria numa posição privilegiada para fazer pontes neste conflito e defender o multilateralismo.
“Na atual administração americana, os EUA estão de facto a abandonar uma ordem global da qual são os principais “share holders” [beneficiários] e de que foram os principais criadores. A União Europeia é naturalmente vocacionada para ter esse papel, até porque ela própria é uma construção multilateral”, frisou Durão Barroso.
Sobre as políticas de bem-estar social adotadas em vários Estados da UE, num cenário de baixo crescimento económico e envelhecimento populacional, Durão Barroso citou países como a Dinamarca, Suécia, Finlândia e a Irlanda que, na sua avaliação, mostraram ser possível manter alto nível de proteção social em sociedades competitivas do ponto de vista económico.
“Para manter essas políticas, em vez de administrações pesadas, com demasiados níveis burocráticos a consumir os recursos do Estado, é melhor uma administração mais ligeira, em que o dinheiro do contribuinte seja aplicado aos grupos sociais que realmente precisam deles”, concluiu.
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