“Em muitos casos as pessoas vão ter de se fazer à vida”

  • Lusa
  • 7 Outubro 2020

Ferraz da Costa diz mesmo que ficou “surpreendido com a generosidade do esquema” anunciado pelo Governo. Salienta que "até agora praticamente não tivemos quebra de rendimento".

Portugal não tem condições para acudir a todos os problemas decorrentes da crise económica provocada pela Covid-19 e as pessoas “vão ter de se fazer à vida”, adverte o empresário Pedro Ferraz da Costa.

“O Estado não tem condições financeiras neste momento para acudir a todos os problemas” que vão existir, alerta o líder do Fórum para a Competitividade em entrevista à agência Lusa, adiantando que, “por mais desagradável que isso possa ser”, vai ser preciso estimular a reação das pessoas e das empresas.

“As pessoas, em muitos casos, vão ter de se fazer à vida de qualquer maneira, porque não vai ser possível manter os apoios”, alerta.

Pedro Ferraz da Costa diz mesmo que ficou “surpreendido com a generosidade do esquema” anunciado pelo Governo que, em casos limite, quando as empresas registam maiores quebras de faturação, os empregados podem não trabalhar e receber mais de 80% do seu salário, através dos apoios financeiros da Segurança Social.

O líder do Fórum para a Competitividade duvida ainda, por outro lado, da eficácia destes apoios enquanto medidas de estímulo à procura interna.

Apesar de admitir que é difícil ao Governo resistir à pressão das empresas e dos cidadãos e lembrar que o executivo tem razões eleitorais para tentar adiar, tanto quanto possível, os efeitos nefastos da recessão, Ferraz da Costa lembra também que as famílias estão a poupar e não a consumir apesar de rendimento não ter sofrido uma quebra significativa.

“Até agora praticamente não tivemos quebra de rendimento. O rendimento disponível baixou 0,6%, praticamente nada” porque os salários foram substituídos por apoios públicos, sublinha o empresário, explicando que, no entanto, o consumo está a cair.

“As pessoas não estão a comprar por terem menos rendimento, mas porque estão com medo do futuro”. Portanto, “duvido que neste momento, distribuir mais dinheiro, tenha o efeito de estímulo da economia”, acrescentou.

O empresário diz, por outro lado, que mesmo que estes apoios estimulassem a economia, não será esse o caminho que fará Portugal sair da crise económica.

“Temos é que aumentar fundamentalmente as exportações. Nunca vai ser o mercado interno que nos vai levar para sítio nenhum”, defende.

Para já, o líder do Fórum para a Competitividade não vê melhorias significativas na atividade económica e afasta um cenário de uma recuperação rápida.

“Havia a esperança de que o terceiro trimestre pudesse ser o início da recuperação”, mas “continuamos praticamente ao nível em que estávamos no segundo trimestre, que era muito baixo”, lamenta.

Segundo estimativas do Fórum para a Competitividade, no terceiro trimestre, a economia terá crescido entre 0,2% e 0,5% face ao segundo trimestre o que corresponderá a uma quebra homóloga entre 16,1% e 16,3%. Ou seja, conclui o Fórum, “a recuperação do 3.º trimestre terá estado muito longe de compensar as quedas dos dois primeiros trimestres”.

“O turismo correu pior do que as expectativas, aliás, desde março que, sistematicamente, estamos a ter uma realidade pior que as previsões. Alguns países europeus já registam alguma recuperação, mas também é mais lenta do que aquilo que se previa e neste momento o mais prudente é pensar que o mundo, globalmente, não caiu em 2020 tanto como se chegou a recear, mas que a recuperação em 2021 vai ser mais lenta”, diz Ferraz da Costa.

O empresário lembra, no entanto, que em Portugal existe uma dificuldade adicional, que é o facto de, em Espanha, a pandemia estar a evoluir de forma muito negativa o que irá fazer com que tenha uma recuperação ainda mais lenta.

O ciclo económico português normalmente reage uns meses depois da Espanha, explica Ferraz da Costa, recordando que Espanha teve uma queda mais acentuada que Portugal e que, agora, com o agravamento do confinamento “vão demorar muito tempo a recuperar e isso” é mau para Portugal, conclui.

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