A estratégia do CaixaBank para o BPI

Em 60 páginas o CaixaBank dá a conhecer a estratégia para o futuro do BPI e garante que este se mantém independente. Preço da operação é justificado com a forte dependência do banco de Angola.

O BPI vai manter-se independente após a OPA do CaixaBank. A garantia é dada pelos catalães no prospeto da oferta pública de aquisição (OPA) sobre o BPI publicada no final da noite de segunda-feira.

“É intenção do oferente [CaixaBank] que a sociedade visada [BPI] mantenha o seu estatuto como entidade independente, mantendo uma linha geral de continuidade no que concerne às suas atividades”, pode ler-se no documento.

O prospeto da operação foi conhecida horas depois da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários ter efetuado o registo da OPA do CaixaBank sobre a totalidade do capital do BPI ao preço de 1,134 euros por ação. A OPA vai decorrer entre 17 de janeiro e 7 de fevereiro.

Ainda no prospeto o CaixaBank dá a conhecer a intenção de manter o BPI cotado na Euronext Lisboa.

“É intenção do oferente que a sociedade visada continue a ter as ações admitidas à negociação em mercado regulamentado após a liquidação da Oferta, contando com aqueles acionistas – incluindo os que estejam representados no órgão de administração da sociedade visada – que decidam não vender as suas ações na oferta”, refere o anúncio do lançamento da OPA.

O CaixaBank diz ainda que está em condições de aportar ao BPI “recursos financeiros e tecnológicos para aumentar a rentabilidade e crescimento da atividade nas suas principais áreas de atuação”. Para isso os catalães evocam a sua condição de líderes do mercado bancário e segurador de retalho espanhol com ativos totais no valor de 342.863 milhões de euros e capitais próprios de 23.555 milhões de euros e uma base de clientes superior a 13.800.000 clientes.

O CaixaBank reconhece que o BPI fez nos últimos anos um “esforço muito destacável para melhorar a sua posição competitiva em Portugal, em particular em termos de redução de custos” mas reforça que a “pertença a um grupo bancário de maior escala permite alcançar maiores níveis de eficiência, produtividade e rentabilidade no contexto de um setor bancário doméstico mais competitivo e exigente”.

Com o concretização da OPA o BPI está mais apto a encarar os desafios que tem pela frente como “o ambiente de baixas taxas de juro e de contínuas alterações regulatórias”, pode ler-se no documento.

O prospeto ponto por ponto.

  • O preço da OPA

O prospeto do CaixaBank sobre a oferta de aquisição do BPI não esquece a polémica que o preço da oferta de 1,134 euros por ação tem sido alvo de criticas e tenta justifica a contrapartida. O preço foi considerado baixo e não equitativo pelos pequenos investidores tendo mesmo feito o pedido à CMVM para que nomeasse um auditor independente.

Os catalães justificam o preço oferecido com a forte dependência que o BPI tem da atividade internacional, sobretudo da economia angolana.

“Nos primeiros nove meses de 2016, 43% (44% em 2015) da margem bruta da sociedade visada foi gerada fora do mercado doméstico.”, pode ler-se no documento.

O CaixaBank vai mesmo ao pormenor de referir que no BPI, “o lucro líquido das operações internacionais do BFA e do BCI correspondem a 125,4 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2016, ao passo que as operações portuguesas foram de 57,5 milhões de euros; tal significa que o lucro líquido do BFA e do BCI corresponde, nos primeiros nove meses de 2016, a 69% (61% em 2015) do total para o BPI”.

Esta forte dependência não parece amenizada pela venda de 2% do capital do BFA à Unitel, uma vez que os espanhóis consideram que na prática este negócio “não modifica, na prática, a desproporcional contribuição da rentabilidade do BFA para o BPI, uma vez que o BPI continuará a integrar, nos seus resultados financeiros, 48,1% dos resultados do BFA pelo método de equivalência patrimonial (versus os 50,1% que integra atualmente).”

De resto, o CaixaBank evoca ainda que o preço da OPA não pode deixar de lado as questões prementes da economia angolana e que estão na base da valorização do BFA nomeadamente a sua “localização numa economia com alta dependência do petróleo” e um modelo de negócio muito “dependente da dívida pública” angolana. “Rentabilidade está altamente dependente de proveitos do portfolio de obrigações do Tesouro Angolano e dos depósitos junto do banco central de Angola”.

O CaixaBank fala ainda da elevada desvalorização do Kwanza com uma depreciação de 16% em 2016 relativamente ao dólar o que tem impacto nos resultados da instituição liderada por Fernando Ulrich.

Ainda na tentativa de justificar o preço, os espanhóis relembram que a participação do BPI no BFA “é altamente ilíquida” dado o direito de preferência da Unitel.

  • Redução de 900 trabalhadores. Balcões mantém-se

Nas 60 páginas que compõem o prospeto de oferta pública de aquisição do CaixaBank sobre o BPI é mencionada a necessidade de efetuar cortes de 900 trabalhadores no banco. O documento adianta que o “rácio de gastos com pessoal por receitas do BPI em 2015 é de 44% enquanto o dos seus pares domésticos se situa num nível de 35%. O ajuste deste rácio de 44% da sociedade visada para os referidos 35% dos seus pares domésticos equivaleria a uma redução de 900 trabalhadores”. Este corte “ao custo médio por trabalhador do BPI, equivaleria à poupança aproximadamente de 45 milhões em gastos com pessoal”.

O CaixaBank assegura que a restruturação laboral será realizada ao abrigo dos parâmetros sociais utilizando em processos semelhantes dando “prioridade a reformas antecipadas e lay-offs incentivados”.

  • Sinergias de custos 84 milhões de euros

Em matéria de sinergias, os catalães asseguram que estas passam sobretudo pelo corte de custos. “Quanto às sinergias de custos, o oferente prevê atualmente que a implementação gradual poderá gerar até 84 milhões de euros anuais de poupanças no negócio da sociedade visada em Portugal, antes de impostos (-17% da base de custo recorrente doméstico da sociedade visada), esperando-se que atinjam o seu pico no ano de 2019: (i) aproximadamente 45 milhões de euros (-15% da base recorrente da sociedade visada), que derivariam da poupança de custos com pessoal. (ii) aproximadamente 39 milhões de euros (-20% da base recorrente da sociedade visada), que derivariam de redução de custos gerais.”

  • Número de balcões deverá manter-se

Já quanto ao número de balcões o CaixaBank parece confortável com os atuais 545 que compõem a rede do BPI pelo que “não prevê encerramento adicional de balcões”. O CaixaBank recorda que o BPI fechou 52 balcões em 2015 e mais 52 adicionais até setembro de 2016.

  • Sinergias de receitas de 35 milhões

No que diz respeito às sinergias de receitas, o banco espanhol diz que pretende apoiar o BPI “no incremento de vendas cruzadas (cross-selling), através da rede de retalho, com especial foco no setor bancário e segurador, dado o gap que atualmente existe entre a sociedade visada em Portugal e os seus principais concorrentes em termos de rendimentos domésticos recorrente”.

Nesse sentido, é apontado o valor de 35 milhões de euros antes de impostos (5% do total de receitas da sociedade adquirida). Um valor que diz o CaixaBank está em linha com as sinergias conseguidas em operações transfronteiriças desde 2004 “cuja faixa se tem situado entre 1% e 8% das receitas da sociedade adquirida”.

  • Emissão de dívida subordinada: taxa entre 8 a 10%

Para colocar 350 milhões de euros de dívida subordinada para cumprir com os rácios de capital e assim cumprir uma das exigências do Banco Central Europeu, o BPI vai ter que pagar uma taxa de juro entre os 8% e os 10%. A estimativa é feita pelo CaixaBank que considera os custos elevados e que “terá um impacto significativo nos resultados do BPI”.

“O oferente prevê que o custo da emissão de dívida subordinada que o BPI tem previsto realizar para cumprir os rácios de capital resultantes do exercício de SREP, que se referem na secção seguinte e por 350 milhões de euros, será elevado e que tal terá um impacto significativo nos resultados do BPI, o qual ainda não está refletido pelos analistas nas suas estimativas”.

“De acordo com as estimativas realizadas pelo oferente, e assumindo um custo estimado de emissão de 8% a 10% na presente data (e numa base de stand alone) e uma taxa de IRC em Portugal de 29,5%, o custo estimado anual após impostos desta emissão seria de 21 – 26 milhões de euros, ou 23% – 28% dos resultados domésticos do BPI em 2015″ refere o documento.

As estimativas do CaixaBank são “baseadas em operações precedentes similares realizada por bancos espanhóis domésticos de média dimensão”. O CaixaBank deixa o aviso de que “esta emissão deverá ter um impacto significativo na rentabilidade doméstica do BPI” pelo que o “o ROE reportado para operações domésticas nos primeiros 9 meses de 2016 terá uma queda de 4,0% (anualizado) para 2,1%-
2,5% após o custo da emissão de Tier 2“.

  • Apoio à administração

Apesar de não ser muito taxativo nesta matéria, o CaixaBank diz que tem a intenção “de continuar a apoiar a equipa de gestão” do BPI. Os catalães referem que após a conclusão da OPA irão tomar uma decisão sobre a recomposição do conselho de administração do BPI em linha com a participação de controlo que vierem a assumir no banco atualmente liderado por Fernando Ulrich.

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