Estudantes de enfermagem já fazem inquéritos epidemiológicos contra a vontade da Ordem
A DGS decidiu reforçar as equipas que realizam inquéritos epidemiológicos da Covid-19 com estudantes de enfermagem. Cerca de 15 dias depois, há já alunos a fazer rastreios ao novo coronavírus.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) chamou estudantes de enfermagem a ajudar nos esforços para travar a propagação do novo coronavírus em Portugal. O anúncio foi feito há duas semanas e, desde então a situação epidemiológica tem vindo a agravar-se. Apesar da oposição da Ordem dos Enfermeiros, há já estabelecimentos de Ensino Superior a aplicá-la, como é o caso da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.
A “enorme pressão sobre os serviços de saúde pública” levava, a 16 de outubro, a diretora-geral Graça Freitas a anunciar que seriam utilizados estudantes finalistas de enfermagem, acompanhados pelos respetivos professores. A ideia é que ajudem as equipas de saúde pública a fazer os inquéritos epidemiológicos, ou seja, a detetar contactos “o mais rapidamente possível” e a acompanhá-los.
Duas semanas depois, há já alunos no terreno e outros a receber formação na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) . “A ESEL está a articular com a ARSLVT e os seus ACES [Agrupamento de Centros de Saúde] no sentido de que os estudantes, a realizar Ensino Clínico nos ACES desta região de saúde, possam colaborar na realização de inquéritos epidemiológicos, de forma integrada, nas suas atividades de estágio, havendo já várias situações em que essa colaboração está a acontecer“, confirmou ao ECO fonte oficial da Escola Superior Enfermagem de Lisboa.
A colaboração iniciou-se apesar da “frontal oposição” da Ordem dos Enfermeiros (OE), que alega que existem atualmente centenas de enfermeiros desempregados que poderiam ocupar estes lugares. Em comunicado, a Ordem defendia que a atual situação pandémica “não justifica que alunos pratiquem atos próprios de uma profissão regulamentada, praticando atos próprios de uma habilitação que ainda não detêm”.
“Não se justifica” especialmente quando “ainda há centenas de enfermeiros desempregados, conforme resulta de um inquérito realizado nos últimos dias pela OE”. O inquérito em questão revela que há, pelo menos 412 enfermeiros desempregados com disponibilidade imediata, dos quais 300 nunca foram contactados e cerca de 100 recusaram as atuais condições contratuais oferecidas pelas instituições.
Para fazer face a este problema, a associação profissional pede ao Governo que defina uma estratégia para a enfermagem, que contemple medidas de valorização profissional, com o objetivo de fixar os enfermeiros e incentivar o regresso dos milhares de enfermeiros que se encontram emigrados.
Questionado sobre o assunto na semana passada, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Sales, explicou que a bastonária da Ordem dos Enfermeiros já disponibilizou ao Governo “uma bolsa ao nível de profissionais de saúde e enfermagem”, disponíveis para realizarem estes inquéritos e que serão “com certeza” utilizados pelo Executivo tal como “outros segmentos profissionais”, garantiu.
Entre estudantes finalistas e enfermeiros, Lacerda Sales explicou que há mais de 150 rastreadores a reforçarem a capacidade de testagem nas várias regiões do país. Cerca de 50 pessoas foram alocadas à região Norte e 97 à região de Lisboa e Vale do Tejo. “Há uma necessidade premente de ter os inquéritos epidemiológicos feitos a tempo e horas para que possamos interromper linhas de transmissão na comunidade”, acrescentou o secretário de Estado.
As autoridades de saúde têm dito que o reforço vai variar consoante as necessidades de cada região. Além de recorrer a estudantes de enfermagem, o Ministério da Saúde já admitiu também chamar os hospitais privados para aliviar a pressão dos serviços públicos.
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