TAP oficializa hoje saída de Neeleman e Antonoaldo. “É o passo que faltava”, diz Frasquilho
Acionistas da companhia aérea votam esta terça-feira novos administradores, incluindo o novo CEO Ramiro Sequeira. A assembleia geral acontece a um mês do prazo final para o plano de restruturação.
A destituição de David Neeleman, Antonoaldo Neves e Humberto Pedrosa na administração da TAP é oficializada esta terça-feira pelos acionistas da companhia aérea. O presidente do Conselho de Administração, Miguel Frasquilho, considera que este é apenas mais um passo nas mudanças pelas quais a empresa está a passar. A visão é partilhada pelos sindicatos que esperam um aumento da influência do principal acionista, o Estado.
“É o fim do processo de saída [de Neeleman da estrutura acionista]“, diz Frasquilho, ao ECO. “O closing do negócio já ficou fechado e este era o passo que faltava“, aponta sobre o acordo a que o Governo chegou com os acionistas privados da TAP. No âmbito do apoio público à companhia aérea, o Estado pagou 55 milhões de euros para passar a deter 72,5% do capital da TAP.
A participação que de 22,5% que era do consórcio Atlantic Gateway — através do qual o dono da Azul detinha a participação na TAP em conjunto com o empresário Humberto Pedrosa — passou a ser detida diretamente pelo português, que é também dono do grupo Barraqueiro. Além de Neeleman, também a saída do anterior CEO Antonoaldo Neves era uma das condições do Executivo. Já no caso de Humberto Pedrosa, o acionista ficou, mas sai do Conselho de Administração para evitar eventuais conflitos de interesse.
"É o fim do processo de saída [de Neeleman da estrutura acionista]. O closing do negócio já ficou fechado e este era o passo que faltava.”
Os acionistas vão deliberar, esta terça-feira a partir das 11h00, a exoneração dos três enquanto administradores da sociedade. Esse é o primeiro ponto da convocatória da assembleia geral. De seguida, irão votar pontos relacionados com o processo de recuperação da TAP, como a alteração aos estatutos e a extinção de categorias especiais de ações.
Acionista Estado e CEO Ramiro Sequeira reforçam poderes
Os últimos pontos na ordem de trabalhos indicam a ratificação da cooptação dos administradores Ramiro Sequeira (que desempenha funções de novo CEO), José Manuel Silva Rodrigues (vogal do conselho de administração) e Alexandra Reis (vogal da comissão executiva) como novos administradores. António Macedo Vitorino é a proposta para presidente da mesa da Assembleia geral da TAP.
Do lado dos trabalhadores, os sindicatos concordam com Frasquilho. “É uma iniciativa que clarifica o acionista Estado. É uma tomada de poder que é consequência de um processo que tem vindo a acontecer“, aponta Henrique Louro Martins, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC). “É pro forma“, concorda Jaime Silva, presidente do Sindicato dos Quadros da Aviação Comercial (SQAC). “O Estado é o acionista maioritário e tem de informar os outros, mas põe e dispõe“, afirma.
"Neste momento, não temos uma administração como tínhamos. Os conhecimentos sobre a aviação civil são menores.”
Silva sublinha, no entanto, que Humberto Pedrosa não vai sair realmente da empresa: “é uma estratégia para Pedrosa poder gerir os negócios que tem além da TAP e poder recorrer a apoios”. A crítica prende-se com com as razões para a saída estarem relacionadas com eventuais implicações nas atividades desenvolvidas pelo grupo Barraqueiro, da prevista reorganização da participação acionista do Estado português na TAP.
“A forma como foi pedido o apoio devia ter sido diferente, com apoio à Covid como aconteceu com outras companhias aéreas ou apoio ao fecho das fronteiras. O Governo avançou com outra proposta de recuperação da TAP, que foi uma forma de fragilizar e tirar apoios aos privados. Neste momento, não temos uma administração como tínhamos. Os conhecimentos sobre a aviação civil são menores”, critica.
Se o presidente do SQAC receia que não sejam feitas mudanças (ou que sejam negativas), o líder do SNPVAC espera que estas acelerem. Henrique Louro Martins tem sido crítico sobre o processo de substituição de Antonoaldo Neves por Ramiro Sequeira, dizendo que “muitas das pessoas que chegaram com [o primeiro] ainda lá estão”, referindo-se a posições chave como a de administrador financeiro, atualmente desempenhada por Raffael Quintas. “Espero que mude”, diz.
"O que é interessante é a criação de uma comissão de monitorização do apoio de Estado à TAP, na qual deveriam estar integrados os sindicatos.”
Governo ainda não chamou sindicatos sobre reestruturação
A assembleia geral da TAP acontece a um mês da data limite para o Governo entregar à Comissão Europeia o plano de reestruturação da companhia aérea. Frasquilho diz que é ainda “prematuro” avançar com mais informações sobre o assunto, enquanto os sindicatos — que têm reclamado um maior papel neste processo que irá implicar o despedimento de cerca de 1.600 trabalhadores — ainda não sabem de nada.
“Temos uma companhia aérea que está sobredimensionada. Não podemos manter uma dimensão artificial que não tem neste momento procura. Portanto o plano de reestruturação vai ser difícil”, disse o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, na semana passada no Parlamento. Garantiu igualmente que já teve reuniões com os sindicatos e vai marcar novos encontros para lhes apresentar a primeira fase do plano que já está concluída.
Nenhum dos sindicatos com que o ECO falou foi contactado pelo Governo e a última vez que falaram com a Boston Consulting Group (consultora responsável por desenhar o plano) foi no início de setembro. Ambos pedem igualmente maior intervenção. “O que é interessante é a criação de uma comissão de monitorização do apoio de Estado à TAP, na qual deveriam estar integrados os sindicatos“, acrescenta Louro Martins, do SNPVAC.
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