Quarteirão da Pastelaria Suíça vai ganhar “novo espaço comercial”. Há “luz verde” da CML
Depois dos Armazéns do Chiado, vem aí uma espécie de Armazéns do Rossio, pelas mãos de um fundo britânico. Câmara de Lisboa já deu "luz verde" ao projeto.
Os vereadores da Câmara de Lisboa (CML) deram esta quinta-feira “luz verde” ao projeto que vai mudar no quarteirão do Rossio, no edifício onde estava instalada a centenária Pastelaria Suíça, sabe o ECO. Propriedade de um fundo britânico, ao fim de vários anos devolutos, acolhendo apenas algumas lojas nos pisos térreos, o imóvel vai transformar-se num espaço comercial, batizado de “Rossio Pombalino”. Deverá estar concluído em 2023.
Em fevereiro de 2018, este conjunto de quatro edifícios na Praça Dom Pedro IV, em pleno Rossio, foi comprado por 62 milhões de euros pela espanhola Mabel Capital, em parceria com o fundo britânico Jackyl e o multimilionário Harald McPike. Ao todo são mais de 12.000 metros quadrados que, durante anos, foram casa da famosa Pastelaria Suíça, que acabou por fechar portas, mas também da mercearia Pérola do Rossio, que se vai manter.
Em janeiro do ano passado, em entrevista ao ECO, Blake Loveless, fundador da Jackyl, adiantou que o objetivo era fazer nascer nestes imóveis um hotel de luxo, apartamentos e algumas lojas nos andares inferiores. Mas mantendo as fachadas e a componente histórica. “É importante para nós que a alma da rua não seja alterada”, dizia o responsável, que afirmava que este é “um dos melhores quarteirões da Europa”.
Contudo, desde então, o projeto mudou várias vezes de empresa gestora (não de proprietário), estando desde julho do ano passado nas mãos de uma equipa de gestão local, composta por Patrícia Rodrigues, Richard Gabelich e Martin Hadland. E, com isso, todo o projeto foi alterado, embora a nova gestão afirme que o plano sempre foi o mesmo. “Quanto ao projeto para hotel ou apartamentos, nunca houve por parte do investidor presente qualquer plano nesse sentido”, diz ao ECO Patrícia Rodrigues.
“Fazia sentido assumir valência comercial do quarteirão”
Deixando de lado a ideia de uma componente hoteleira ou residencial, a equipa gestora do “Rossio Pombalino” optou por tirar partido da componente comercial daquele edifício. “Entendemos, após uma cuidadosa avaliação, que o que fazia sentido para poder viabilizar o projeto e o investimento avultado requerido para a intervenção era assumir essa valência comercial do quarteirão“, diz Patrícia Rodrigues.
“O conjunto dos edifícios que compõem o quarteirão ‘Rossio Pombalino’ será destinado a ocupação exclusiva por espaços comerciais, incluindo uma loja âncora“, disse a responsável, não entrando em mais pormenores. Na proposta que foi a votos na reunião da CML esta quinta-feira, e a que o ECO teve acesso, pode ler-se que o objetivo é construir “quatro unidades comerciais e uma unidade de serviços” que ocupará o último piso.
Ao ECO, fontes do mercado imobiliário adiantaram que se estuda a possibilidade de instalar lá uma loja da Zara.
A histórica mercearia de chás e cafés, Pérola do Rossio, será mantida, porque, apesar de o projeto final ser diferente do projeto que Blake Loveless confidenciou ao ECO, a nova equipa gestora também partilha do desejo de não retirar a alma ao Rossio. “Pretende-se recuperar a original traça pombalina, através de um trabalho de reabilitação, tornando-o num novo espaço comercial”, diz a responsável, sublinhando que “o projeto arquitetónico visa respeitar a história da praça e o espírito do lugar”.
Patrícia Rodrigues não adiantou o valor do investimento, referindo apenas que “tem sido um desenvolvimento e será um investimento significativo” e que “o montante total permanece de natureza confidencial”. A equipa anseia que as obras comecem “nos primeiros meses de 2021” e que, com esta “luz verde” da autarquia, deverá ser possível ter o quarteirão do “Rossio Pombalino” recuperado e operacional “no máximo em meados de 2023”.
Projeto aprovado pela maioria dos vereadores da Câmara de Lisboa
O projeto final foi aprovado esta quinta-feira em reunião privada da Câmara de Lisboa, apurou o ECO, com os votos a favor dos vereadores do PS, PSD e CDS e os votos contra dos vereadores do PCP e a abstenção dos vereadores do Bloco de Esquerda.
Para João Pedro Costa, “é bem-vinda a retoma de grandes armazéns na Baixa e Chiado, como é tradição”. O vereador do PSD na CML diz ao ECO que aquela zona “não pode ficar dependente do turismo”, nem “pode continuar o estado de abandono daquele edifício”. O social-democrata destaca ainda que se devem “recuperar o histórico de grandes armazéns na Baixa orientados para os lisboetas e não para o turismo”.
Pelo contrário, os vereadores do PCP defendem, em comunicado, que “não é através de mega empreendimentos que se revitaliza o centro histórico de Lisboa”. “Mais uma vez estamos a assistir a uma oportunidade perdida de dotar o centro da cidade de uma multifuncionalidade desejável que mantenha a cidade habitada e viva, preservando o património e a história da cidade”.
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